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21/03/2023

Sucuriú, o rio da sucuri

HIDROGRAFIA

 

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Na próxima quarta-feira, 22 de março, comemora-se o Dia Mundial da Água. Observando o mapa de Mato Grosso do Sul verifica-se uma grande quantidade de cursos de água. Muitos deles, a exemplo do rio Sucuriú, primordiais na ocupação do território.

Nesta matéria o professor Arnaldo Menecozi reúne informações geográficas e registros históricos desse afluente do rio Paraná que nasce na divisa do estado de Goiás e deságua ao norte da cidade de Três Lagoas na represa de Jupiá.
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Sucuriú, o rio da sucuri

Arnaldo Rodrigues Menecozi*

 

 

O rio Sucuriú é afluente, pela margem direita, do rio Paraná. Segundo Teodoro Sampaio, sucuriú é uma corruptela de Çuucurí-yú, que é a forma contrata de çuucuri-yuba, que significa a sucuri amarela. Também é entendido como rio do sucuri (sucurihy), sendo a corrupção de Çuú-curí, aquele que morde ligeiro, o que atira o bote apressado.

O rio Sucuriú nasce na divisa com o Estado de Goiás, na região denominada Várzea Água Amarela, também conhecida como “Águas Emendadas” devido ao processo de anastomose, quando, no período das chuvas, as águas de suas nascentes se juntam com as do ribeirão Água Amarela, que pertence ao estado goiano. O fato de ser uma área de extensa planície (daí o nome “várzea”) facilita às águas dessas nascentes que se juntem em períodos com índices pluviométricos consideráveis.

 

Contexto geográfico

O rio Sucuriú é limite entre os municípios de Costa Rica e Paraíso das Águas, Paraíso das Águas e Chapadão do Sul, Chapadão do Sul e Água Clara, Água Clara e Inocência, Três Lagoas e os de Inocência e Selvíria. Sua extensão é em torno de 450 km e, à medida que se desloca, vai dando nome a localidades como Alto Sucuriú e São José do Sucuriú. Deságua ao norte da cidade de Três Lagoas, na represa formada pela Usina Hidrelétrica Engenheiro Sousa Dias, conhecida também pelo nome de Jupiá, onde recebe, ainda, as águas de dois afluentes, o córrego Água Tirada e o ribeirão Campo Triste.

 

Registros históricos e literatura

Alfredo Maria Adriano d’Escragnolle Taunay (1843-1899), o Visconde de Taunay (Inocência, IHGMS, 2006 [1872], p. 55) em um dos diálogos entre sertanejos registra o seguinte: “(...) Depois, o demônio do jogo, quando entra no corpo de um desgraçado, faz logo ninho e de lá pincha fora a vergonha. (...) Quem lhe fala, teve um tio morador nas Traíras, para cá de Camapuã cinco léguas, que trabalhava todo o ano na terra para vir jogar até perder o último cobre nas rancharias do Sucuriú”.

O rio Sucuriú foi objeto de estudo de Sá de Carvalho, em artigo publicado em 1942, quando aponta a primeira citação do referido rio: por volta de 1718, nas narrativas de viagem do “terrível caçador” de índios e sertanista Antônio Pires de Campos, denominando, na época, de rio Guacuruí, parecendo ser uma alusão à tribo Guaicuru.

Correia das Neves, em “A história da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil” (publicada em 1958 pela Tipografia e Livraria Brasil S/A, Bauru, SP, à p. 37, nota 40) informa: “Em 1827, o tenente Manoel Dias de Castro realizou a exploração de navegabilidade do rio Sucuriú, a mando do governo de Mato Grosso, verificando a existência de cinco cachoeiras, duas corredeiras e um salto”.

Os documentos pretéritos foram resultado das análises de Francisco Antonio Pimenta Bueno (1836-1888), publicados, em 1885, pela “Revista da Sociedade de Geografia” (pp. 10-24) quando destacava o rio Sucuriú como a melhor rota para se alcançar Cuiabá, servindo-se, depois, do seu contravertente Piquiri. Assim, evitava-se o “Paraguay e seu affluenteTaquary, poupar-se-hia a trabalhosa passagem das caxoeiras do Coxim, e tambem as do Camapuan, rio de pouca água, estreito e tortuoso”. As preocupações de Pimenta Bueno tinham sentido, pois as “viagens fluviaes de Porto Feliz, em São Paulo, até Cuiabá, que se fazia em 6 ou 7 mezes, pelo novo caminho se poderia effectuar em pouco mais de dous”. O governo da província, entretanto, não dispunha de verbas suficientes para tal empreitada, o que estimulou diversas pessoas a fazerem espontaneamente ofertas pecuniárias para realizar a tão sonhada exploração do rio Sucuriú.

Assim, no dia 01 de agosto de 1826 sai a expedição com trinta pessoas, sob o comando de Manoel Gomes do Prado, levando quatro canoas com mantimentos, acreditando encontrar fornecedores nos arredores de Camapuã. Não conseguiram encontrar lugar apropriado para plantações.

 

A expedição sob novo comando

Então, o governo da província substituiu novamente o comando, passando-o a Manoel Dias de Castro. Posteriormente, receberam apoio de Jerônimo Joaquim Nunes, que possuía fazenda nas imediações das cabeceiras do rio Piquiri, encarregando-se de aumentar suas roças para socorrer a expedição. Alcançando o Sucuriú, encontraram algumas aldeias de índios Caiapó, cujo cacique, de nome Manoel, falava português e dava notícia da possibilidade da navegação pelo Sucuriú. No diário de Manoel Dias de Castro constam várias informações, como a existência de muitas cachoeiras, saltos, afluentes, aldeias indígenas e a certeza da existência de um curto varadouro entre os rios Piquiri e Sucuriú.

Sob seu comando, no dia 01 de agosto de 1826, seguiu seu destino a expedição com trinta pessoas levando quatro canôas com mantimentos (....) Quase um ano depois, em 3 de julho de 1827, Manoel Dias de Castro, de volta a Cuiabá, informou à presidência da província das dificuldades que encontrou na navegação do rio Sucuriú, bem como sobre os esforços e “(...) pesquizas que fizera para descobrir o varadouro, que se suppunha existir para o Piquiry, cuja travessia não foi possível realisar, como expoz no diário”.

Augusto João Manuel Leverger (1802-1880), o Barão de Melgaço, fez menção à empreitada de Manoel Dias de Castro: “(...) o rio Sucuriú foi explorado em 1827 pelo tenente Manoel Dias de Castro e reconhecido ser impraticavel a navegação ahi. Essa empreitada foi por ordem do governo da Provincia e cuja navegação só póde interessar aos moradores que se estabeleceram nas suas margens”. (LEVERGER, 2005, p. 47).

Alfredo Moreira Pinto, em “Diccionario Geographico do Brazil” (Vol. 3, 1896, verbete), assim descreve o rio Sucuriú: “Rio do Estado de Matto Grosso, trib. da margem dir. do Paraná, nove kils, abaixo do Tietê, que sobe na margem oposta. Nasce na serra dos Bahús em contravertentes com o Araguaya e o Taquary, perto do paralelo 18o. É muito encachoeirado”.

Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa, em “Oeste de S. Paulo, Sul de Mato-Grosso”, de 1909, descrevia o traçado do rio Sucuriú, em “(...) direcção Este-Oeste, o referido rio é de corrente muito veloz, com largura variavel de 100 a 130 metros a 30 kilometros da foz. Um prático da região informou-nos que pelo leito do Sucuriú não apparecem corredeiras ou saltos, pelo menos até 80 kilometros acima da foz do ribeirão das Cruzes” [afluente, pela sua margem esquerda, no atual município de Selvíria].

 

Turismo

O rio Sucuriú apresenta muitas cachoeiras, principalmente na parte superior, como o Parque Natural Municipal Salto do Sucuriú, em Costa Rica, local com atrativos turísticos, onde se localiza o salto Majestoso, com 64 metros de altura, próximo à foz dos córregos de Baixo e Grota Funda, num lugar denominado de “Encontro das Águas”, local integrante do roteiro turístico do município e do Plano de Desenvolvimento Turístico de Mato Grosso do Sul.

 

Aproveitamento

Por ser plano, o rio Sucuriú possibilita a construção de usinas hidrelétricas, motivo da existência de quatro unidades geradoras de energia; entre os municípios de Chapadão do Sul e Paraíso das Águas: pequena central hidrelétrica Alto Sucuriú; entre os municípios de Chapadão do Sul e Água Clara: pequenas centrais hidrelétricas Buriti e Porto das Pedras; no município de Costa Rica: pequena central hidrelétrica Costa Rica. Com o represamento do rio Paraná para a hidrelétrica de Jupiá, o baixo curso do rio Sucuriú sofreu grande alargamento, surgindo vários braços.

 

Meio Ambiente

O rio Sucuriú tem proteção ambiental devido a presença do bioma Cerrado, com a criação de Área de Proteção Ambiental (APA) nos seguintes municípios e respectivos decretos municipais: Chapadão do Sul (Dec. Mun. n. 1.250/2005, alterado pelo Dec. Mun. n. 2.685/2016); Inocência (Dec. Mun. n. 059/2009); Costa Rica, com a APA das Nascentes do Rio Sucuriú (Dec. Mun. n. 3.464/2005); Paraíso das Águas, pela Lei Mun. n. 035/2013, de 18/06/2013, foi criada a APA dos Rios Sucuriú-Paraíso, já que este é afluente daquele. No curso do rio Sucuriú, em Costa Rica, pela existência do Salto do Sucuriú foi criado o Parque Natural Municipal Salto do Sucuriú pela Lei Mun. n. 515/2000, modificada pela Lei 809/2006, sancionada pelo Dec. Mun. n. 3.679/2006. Ainda no rio Sucuriú, no município de Costa Rica, foi criado o Refúgio de Vida Silvestre, também pela presença do bioma Cerrado, através do Dec. Mun. 4524/2018. E na área compreendida entre os rios Sucuriú e Paraíso, no município de Paraíso das Águas foi criado o Refúgio de Vida Silvestre, igualmente pela presença do bioma Cerrado, através do Dec. Mun. n. 381/2018.

 

* Arnaldo Rodrigues Menecozi é licenciado em Geografia, professor da Reme.

 

Fotos: Reprodução

 

 

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“Quem observa o mapa de Mato Grosso do Sul fica surpreso pelo que o estado contém de águas: no limite leste, o Rio Paraná, continuando o Paranaíba; ao nordeste, o rio Aporé o separa de Goiás, ao norte, praticamente toda a divisa é por água: o rio Correntes, depois o Itiquira; ao oeste, o rio Cuiabá e, a partir da Baía Negra, o rio Paraguai faz divisa com a república homônima; antes, corre em território brasileiro sempre próximo à divisa com a Bolívia. E aparecem também os rios Taquari, Verde, Pardo, Miranda, Aquidauana e Sucuriú [marcado com linha vermelha], para citar os mais extensos”. “(...) No início do século 18, os aventureiros paulistas passaram, a realizar suas viagens de preia de índios, busca de riquezas e até de comércio, através dos rios, recebendo, por analogia às monções orientais, o apelido de monçoeiros” (Enciclopédia das Águas de MS - IHGMS, 2014). No mapa, em traços pontilhados, as rotas: 1. do Camapuã, 2. da Vacaria, 3. do Rio Verde e 4. do Iguatemi. Nas imagens menores: pôr do sol no rio Sucuriú (arquivo IHGMS); nascente do rio Sucuriú e salto Majestoso, rio Sucuriú - Costa Rica-MS (Fabiano Menecozi); na foto maior, detalhe de cachoeira no Parque Costa Rica (Fabíola Santos Teixeira).

 

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Semana Estadual da Água

 

Em comemoração à Semana Estadual da Água, instituída pela Lei Estadual 4878/2016, a Assembleia Legislativa de MS realiza o “IV Seminário Estadual da Água de Mato Grosso do Sul”, um evento técnico que abordará o tema “Caminhos para a Produção de Água em Mato Grosso do Sul” o qual acontecerá no dia 24 de março de 2023, das 8h às 12h, no plenário Júlio Maia da Assembleia Legislativa de MS.

O evento com organização da Frente Parlamentar de Recursos Hídricos e coordenação do deputado estadual Renato Câmara (MDB) conta para sua realização com a Universidade Estadual de MS (UEMS), o Instituto de Meio Ambiente de MS (Imasul) e o Rotary Club de Campo Grande que, desde a primeira edição, “participa como representante da sociedade civil, no apoio ao Meio Ambiente, uma das áreas de enfoque do Rotary Internacional” – como destaca seu presidente Ricardo Zanin. Dentre outros parceiros e apoiadores de relevância no contexto da proteção e conservação dos Recursos Hídricos, tem o apoio da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), do Conselho Regional de Engenharia de MS (CREA-MS) e do Instituto Histórico e Geográfico de MS, um dos membros da Frente. 

A novidade este ano é o enfoque dado ao tema que, além de visar práticas necessárias quanto à necessidade da proteção e conservação dos Recursos Hídricos (na palestra de abertura a ser proferida pelo representante da ANA) visa também os Projetos Produtores de Água para estabelecer mecanismos que levem à promoção da Segurança Hídrica não só no estado como em todo o país.

O evento presencial com transmissão via Youtube, vai reunir especialistas, educadores, políticos e profissionais da área ambiental. As inscrições são gratuitas e encontram-se abertas para toda comunidade através do link: https://forms.gle/Mf86WhA8zBim2rbn9

 

Autor: Arnaldo Rodrigues Menecozi

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