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16/02/2021

Praça de Nossa Senhora dos Prazeres e São Francisco de Paula do Iguatemi.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Praça de Nossa Senhora dos Prazeres

e São Francisco de Paula do Iguatemi

                                                                Ângela Antonieta Athanázio Laurino

Antecedentes

O presente artigo trata-se de uma breve consideração sobre a criação de uma fortaleza, nos moldes do Século XVIII, a fim de assegurar a presença do reino de Portugal em sua colônia, e também a viagem de um Sargento-Mor Teotónio José Juzarte, entre outros, encarregado de consolidar sua ocupação, relatado através de um minucioso diário.

Este diário foi documentado e comentado no livro Um Fuzileiro no Sertão, de Carlos d’Orey Juzarte Rôlo, Edições da Marinha, Lisboa, de 2008.

Um pedido de informação em 1994, encaminhado primeiramente à prefeitura de Iguatemi, fez com que eu entrasse em contato com um pesquisador em Portugal.

A pessoa em questão estava às voltas para esclarecer muitos pontos obscuros, pois não havia conseguido todo o material necessário.

O assunto tratava-se de um diário de viagem escrito entre, 1769 e 1771, pelo Sargento-Mor Teotónio José Juzarte, quando da sua vinda à longínqua Praça de Nossa Senhora dos Prazeres e São Francisco de Paula – Forte de Iguatemi, à margem esquerda do rio Iguatemi, no atual município de Paranhos-MS.

Viagem que completará 250 anos em 2019.

Foi também um desafio, pois o pesquisador precisava de mapas atualizados do “Rio Grande Paraná”, como estava escrito no diário e proximidades do forte de Iguatemi, que segundo este o que haviam encontrado em suas buscas em Portugal eram muito antigos, desatualizados e escalas não compatíveis com seu interesse.

Com a facilidade que tinha na época, pois trabalhava em uma Secretaria de Estado em Mato Grosso do Sul, que havia um excelente trabalho na área de Recursos Naturais, pude enviar o material temático em várias escalas, confesso, hoje, que ainda ficaram faltando informações mais detalhadas. Como, por exemplo, a confirmação correta do município o qual se localiza o referido Forte, que é em Paranhos.

Nas correspondências recebidas posteriormente, acrescentou que havia entrado em contato com pesquisadores de universidades, entre elas a USP e outros órgãos no Brasil, para compor o seu trabalho.

Esse assunto nunca fora esquecido, porém permaneceu “adormecido”.

Em 2014, em contato com o Sr. Carlos, ele me presenteou com um exemplar do livro fruto de suas pesquisas, já citado anteriormente (Um Fuzileiro no Sertão).

Que riqueza de trabalho!

Apoiado em sua imensa busca, o Diário de Navegação do rio Tietê, Rio Grande Paraná e rio Iguatemi: em que se dá relação, de todas as cousas mais notáveis destes rios, seu curso su distância / Escripto pelo Sargento-Mór, Theotonio José Zuzarte. 1769, que é o original manuscrito norteou todo o seu trabalho de pesquisa.

Mas, afinal, quem foi essa pessoa que tão importante documento deixou no século XVIII?

 

 

A saga de Teotônio José Juzarte

Nasceu em Lisboa em 1733, e, segundo o autor, antes dos 17 anos, estudava e concluía que “o desenho é a sua maestria, aquarela com fineza e risca com certeza”.

Teotónio aos 18 anos, em 1751, alista-se como fuzileiro da Marinha de Portugal, e viaja para o Brasil, e conhece o Grão-Pará, terra que o fascina.

Retorna a Portugal e é promovido a Sargento Supra do Regimento da Marinha. Volta à colônia, em 1752, para servir na cidade de Nossa Senhora de Belém do Pará, e cada vez mais se aprimora na arte cartográfica.

Novamente em Lisboa, cumpre várias missões, entre 1755 e 1762, inclusive na guerra entre França e Portugal e depois Espanha. Em 1763, é promovido a Ajudante, posto equivalente a Alferes, e é nomeado Ajudante para os estados do Brasil e a 19 de agosto do mesmo ano, embarca com o 1º Conde da Cunha Vice-Rei do Brasil, D. António Alvares da Cunha, rumo ao Rio de Janeiro.

Nessa época é que ocorrerão mudanças na colônia, como: criação de novas capitanias, mudança da capital administrativa de Salvador para o Rio de Janeiro, reestruturando-a e renovando-a, entre outras medidas instruídas pelo Conde de Oeiras.

Em 1765 quando da chegada do 4º Morgado de Mateus, D. Luís António Botelho de Sousa Mourão, o novo Governador e Capitão-General da Capitania de São Paulo, Teotónio está em plena atividade, auxiliando o levantamento topográfico do Rio de Janeiro, porém acompanha-o a São Paulo. Neste local vai desenvolver importantes tarefas, conforme ordem escrita vinda de Lisboa.

De acordo com a estruturação das “Milícias Auxiliares”, Teotónio vem a ser “Ajudante do Primeiro Corpo de Dragões de São Paulo e Vilas do Sul de Terra Acima” (isto é, no planalto). Teotónio e o seu Sargento Mor [D. José de Macedo] respondiam por perto de setecentos e cinquenta homens dos quais seiscentos estavam prontos.

Sua promoção a Sargento-Mor ocorreu a 22 de março de 1773, pelo Governador da Capitania de São Paulo, Morgado de Mateus.

Faleceu em São Paulo a 22 de fevereiro de 1794; viveu no Brasil por 31 anos.

 

O diário de Teotônio José Juzarte

Este diário o qual tomou conhecimento, em Portugal, em 1993 e que há outro manuscrito no Brasil, transcrição que lhe foi enviada, publicada em 1922, nos Anais do Museu Paulista, Tomo I, parte II, páginas 41-118, e também Relatos Monçoeiros, Introdução e notas de Afonso de E. Taunay, Biblioteca Histórica Paulista, vol. IX, São Paulo, Martins, de 1953, páginas 217-274. Este diário também originou um livro, organizado por Jonas Soares e Souza e Miyoko Makino: Diário da Navegação – Teotônio José Juzarte, publicado pela editora da USP, São Paulo, em 2000.

Acompanha o relato, inclusive acrescido ao livro publicado em Lisboa em 2008, uma série de mapas elaborados por “Juzarte” de todo o caminho da navegação percorrido, desde o porto de Araraitaguaba (hoje Porto Feliz), no rio Tietê, no Estado de São Paulo, a 13 de abril de 1769, até 12 de junho do mesmo ano, na sua chegada à Praça do Guatemi. Esse relato conta suas inúmeras dificuldades e os contratempos em comandar um comboio com 36 canoas e quase 800 pessoas.

Na verdade sua partida de São Paulo, a sede da capitania, foi a 10 de março via terrestre até o ponto adequado em que oferecia navegabilidade, para descer o rio Tietê até sua foz no rio Paraná, conhecido na época como “Grande Paraná”.

Teotónio permaneceu na Praça até 14 de janeiro de 1771, onde continuou relatando toda a sua estadia, retornando a São Paulo e lá chegando em maio do mesmo ano, muito exaurido e doente.

Esta viagem tinha como objetivo ocupar a referida Praça de Iguatemi, pois o rio homônimo representava o limite sul da Capitania de São Paulo no Século XVIII, e foi construída para assegurar a defesa do território da Coroa Portuguesa, frente à disputa dos espanhóis no longínquo limite disputado por eles.

Entre as metas do 4º Morgado de Mateus, D. Luis Antonio de Sousa Botelho Mourão, governador Capitão-general da Capitania de São Paulo, assumido a cinco de abril de 1766 estavam: reestruturar, explorar e ocupar a capitania, defendendo as fronteiras existentes.

Como instrução do Morgado de Mateus ao Capitão-Mor Regente João Martins de Barros, fundador do Presídio e Praça de Armas, era que a mesma estivesse “(...) mais além que puder, mas dentro dos limites do marco evidente em sítio “cômodo e forte por natureza”, razão pela qual esta foi instalada na margem esquerda a aproximadamente 200 km da foz do rio Iguatemi, no rio Paraná, hoje município de Paranhos-MS.

Esta distância parece-nos exagerada, porém temos que considerar que o leito do rio está em um vale de configuração plana, oferecendo sinuosidade, isto é um grande numero de meandros.

Esta praça/fortaleza tem seu registro em documentos oficiais que a criaram em 1767, através de Carta Régia 2/3/1767 e sua fundação ocorreu seis meses após em 22/9/1767, pelo Capitão de Infantaria João Martins de Barros.

Logo depois em 1770 houve a intenção de elevar a povoação à categoria de Vila, fato este ocorrido em 27/10/1770, através de expediente do Morgado de Mateus a João Martins de Barros seu fundador. Fato que não foi concretizado em decorrência da pouca estrutura física e jurídica local, frustrando os anseios do Governador da Capitania de São Paulo.

 

A viagem e a estadia

Como descreve no início de seu diário, já que o objetivo era povoar o Forte e seu entorno

(...) cujo numero de povoadores constava de setecentos e tantos homens, mulheres, rapazes, crianças de todas as idades, como também acompanhava toda a casta de criações e animais para a produção e estabelecimento futuro daquele continente, isto é além da gente de mareação e equipagem das embarcações, que os transportavam e trinta soldados pagos... trinta e seis embarcações naquele porto [Araraitaguaba] com o necessário para uma tão perigosa como longa viagem.”

Essas canoas mediam de 11 a 13,2 m de comprimento e largura de 1,10 a 1,54 m, construídas em um só tronco de peroba ou outra espécie que suportasse a umidade.

A navegação era feita das 8 horas da manhã às 5 horas da tarde.

Nos trajetos, nos locais de parada, era grande o número de insetos que os perturbavam, tais como: mosquitos pólvoras, borrachudos, nuvens de pernilongos, vermes, carrapatos e moscas grandes. Além desses, os de maior porte, cobras, onças, porcos do mato e nos rios lontras e patos, nos barrancos jacarés, antas capivaras, tatus, veados e macacos.

Quanto aos inúmeros pássaros, os tuiuiús é que chamavam mais atenção pelo grande porte, além das emas.

Necessidades, perigos, doenças e mortalidade eram constantes.

As canoas, nos cursos d’água de grandes corredeiras, saltos e cachoeiras, eram todas tiradas do rio e faziam o contorno destes obstáculos, por trajetos denominados ”varadouros”.

Comentando sobre rio e os meandros do Iguatemi, Teotónio assim descreve logo que adentra o rio

(...) é largo e fundo na sua entrada, suas águas são boas, são bordadas suas margens de muitos palmitos... não tem peixe, mas seus ares são alegre (...) navegamos seguindo muitas voltas, umas para a direita, outras para a esquerda, sobe-se com trabalho, por ser a força de braço o que faz com que se navegue pouco... tem suas cachoeiras perigosas como as [denominadas na época] Terceiro Irmão, Caveira, Urubu e muitas outras.

No decorrer do tempo, muitas doenças, provenientes de inúmeros e variados insetos, aos poucos dizimava a população da “Praça”, como: ratos, pulgas, baratas, grilos, gafanhotos, mosquitos borrachudos, estes destroçavam o que encontravam pela frente como roupas, víveres, atacando as pessoas e os poucos animais, um verdadeiro caos.

 Os gentios (índios), como são descritos, eram uma ameaça constante nos arredores devastando o que plantavam.

A fome rondava todos, algumas abóboras serviam de alimento, já não havia sal nem gordura. Os espanhóis venderam 16 cabeças de gado, que foi o alimento para todos inclusive os doentes, quando encontravam pelos campos, porco do mato também matavam para saciar por mais uns dias a fome.

É citada uma erva como abundante no entorno da “Fortaleza” e a chamavam vulgarmente de congonha. Esta passou a ser o maior sustento para eles, esquentando a água e colocando a erva dentro.

O relato minucioso do Diário de Navegação, de Teotónio José Juzarte, ocorreu durante dois anos e dois meses. Toda a navegação dos rios Tietê, Paraná e Iguatemi, muitos córregos e pequenas corredeiras e cachoeiras foram citadas.

No século XVIII era muito comum denominar a um tributário em relação ao rio principal o qual desaguava como “Forquilha”.

Este costume de época fez com que alguns bandeirantes e monçoeiros determinassem erroneamente a distância e localização da Praça, pois havia várias drenagens com este topônimo.

Como exemplo, temos o rio Jogui, antes denominado de Forquilha, que está a mais de 100 km da Praça. Este rio, no Sec. XVIII, era conhecido como Escopil, Inhobi e Jogui.

A drenagem mais próxima do local, da antiga fortaleza, que deságua na margem esquerda do Iguatemi, é atualmente o córrego Laranjeira, que também foi Ribeirão do Feijoal, o qual encontra-se na estampa da “Guarda” que compõe a edição de 2008 que são as Cartas Topográficas do Continente do Sul e Parte Meridional da América Portuguesa Com as Batalhas que o Ilmo. Conde de Bobadela ganhou aos Índios das Missões do Paraguai, 1775. Registre-se que “guarda” é a folha subsequente à capa do Livro.

Nos dias atuais e com o advento de novas tecnologias praticamente nada mais se esconde. Ao observar uma imagem de satélite de domínio público, vê-se nitidamente onde se encontrava esta edificação, conforme pode se verificar na figura da página 6.

As marcas no terreno estão lá, o fosso aberto, numa largura aproximada de 3 metros ou mais, para construir o entorno do forte, resistiu ao tempo mais de 250 anos.

Quando é extraído o contorno da imagem digital recente, do que sobrou que é visualizado e colocamos em cima da planta da Praça, conforme figura abaixo, que acompanhava o Ofício nº 21 para o Conde de Oeiras, em 03 de junho de 1768, enviado pelo Morgado de Mateus, fig. 58 na página 123 e a desenhada por Teotônio em 1769, fig. 59 na página 124, no livro Um Fuzileiro no Sertão são semelhantes.

Nas cartas do Ministério do Exército-Diretoria do Serviço Geográfico, 1970, edição 1980, Folhas SG 21-X-B-I E SF21-2-D-IV denominada Paranhos, escala 1:100.000, no local da Praça há um topônimo, denominado Fazenda Trincheira.

Atualmente o local abriga a sede da aldeia indígena Takuaraty/Ivykuarusu, da etnia Guarani-Kaiová, homologada pela FUNAI, em 1993, com área de 2.609,0940 ha e população de 592 habitantes, conforme o Censo IBGE-2010.

Registre-se que a citada localização já foi objeto de pesquisa, em trabalho publicado pelo Prof. Gilson Rodolfo Martins, na Revista ARCA-MS, de setembro de 1992, n. 3, p. 40.

Denominação

Como vimos anteriormente, a fundação de uma fortaleza nesta região, onde hoje é o sul de Mato Grosso do Sul, surgiu a finalidade de assegurar a defesa do território da coroa portuguesa.

A mesma consta em documentos, publicações e teses com denominação variada, como abaixo é arrolada:

Forte de Nossa Senhora dos Prazeres e São Francisco de Paula, p. 10. Um Fuzileiro no Sertão. Carlos d’Orey Juzarte Rôlo, Lisboa, 2008.

Povoação do Gatemi. “Plano em Borrão”, p. 41-2, Um Fuzileiro no Sertão, Carlos d’Orey Juzarte Rôlo, Lisboa, 2008.

Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres e São Francisco de Paula, p. 11, 33, 34, 42, 33,47. Um Fuzileiro no Sertão, Carlos d’Orey Juzarte Rolo, Lisboa, 2008.

Praça de Nossa Senhora dos Prazeres do rio Iguatemi, p. 41. Um Fuzileiro no Sertão. Carlos d’Orey Juzarte Rôlo, Lisboa, 2008, em nota de rodapé do “Diário de Viagem do Brigadeiro José Custódio de Sá Faria-1774”.

Presídio de Nossa Senhora dos Prazeres do Iguatemi, p. 35. Artigo “O presídio do Iguatemi: Função e Circunstância (1767-1777)”. Heloisa Liberalli Bellotto. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. USP n. 21, 1979.

Praça dos Prazeres do Guatemy. O Morgado de Mateus expediu a João Martins de Barros uma “Ordem para se fundar a Villa na Povoação, e Praça dos Prazeres de Guatemy.” p. 43. Artigo “O Presídio de Iguatemi: Função e Circunstâncias” (1767-1777). Heloisa Liberalli Bellotto. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, 1979.

Praça e Povoação do Iguatemi. Método e Arte criação urbana e organização territorial na capitania de São Paulo. 1765-1811. p. 71. Maria Fernanda Derntl. Tese de Doutorado FAU-USP. São Paulo, 2010.

Povoação e Praça de Armas Nossa Senhora dos Prazeres e São Francisco de Paula do Iguatemi. p. 76. José Barbosa Rodrigues. História de Mato Grosso do Sul, 1980. (Capítulo: A Praça dos Prazeres de Iguatemi).

Praça de Nossa Senhora dos Prazeres do rio Ygatemi. Fig. 3. Diálogo entre o urbanismo português e os rios como identidade territorial brasileira. Margarida Valla, Universidade Lusófona (Lisboa). Revista Franco-Brasileira de Geografia n. 23, 2015.

O termo presídio, muito usado no século XVIII, não tem o sentido da palavra prisão e sim “gente de guarnição, os soldados que estão em uma praça, para guardar e defender o inimigo”, conforme explica, em nota de rodapé (p. 148), Amílcar Torrão Filho, em Política urbanizadora e civilizadora em São Paulo na administração do Morgado de Mateus. (1765-1775), publicação da UNICAMP, em 2004.

Na verdade, D. Luís António de Sousa Mourão, o governador da Capitania de São Paulo, queria com a denominação da Praça homenagear Nossa Senhora dos Prazeres o qual era devoto, como fez também em outras fundações de vilas (página 155, parte do artigo da dissertação de Amílcar Torrão Filho, Política urbanizadora e civilizadora em São Paulo na administração do Morgado de Mateus (1765-1775.

 

Até onde chegou Teotónio José Juzarte, além da missão que lhe foi confiada?

Conforme descreve no seu diário, também era uma preocupação encontrar um caminho para o rio Cuiabá. Isto ocorria porque eram escassas as demandas cartográficas da época, e pensava-se que sendo o rio Paraná um eixo em que os rios para este desaguavam de oeste para leste e estando o rio Cuiabá a Noroeste seria possível encontrá-lo.

Descreve Teotónio que, em primeiro lugar, saiu uma expedição exploratória a 28 de julho de 1769, subindo o Iguatemi até suas nascentes com muitas canoas e 50 homens dos melhores pedestres daquela região, entre eles o capitão Luiz de Araújo o cuiabano, o capitão Joaquim de Meira e o capelão Padre Timóteo.

Posteriormente, a 17 de agosto, embarcou Teotónio rio acima até suas nascentes, com 16 homens e o capitão João Alvares Ferreira, que já estava na praça quando da sua chegada.

Ao retornar, encontraram com suas canoas o cuiabano capitão Luiz de Araújo, desenganado, para fazer a viagem a Cuiabá.

Continuaram mesmo assim subindo o rio até o passo do Gentio Cavaleiro, esse “passo” é um caminho que provém da Cordilheira de Maracaju, rumo sul-norte e que cruza o rio Iguatemi após a foz na margem direita do córrego Destino Cuê, sua denominação atual, ou rio Espadim, conforme a estampa da “guarda”.

Após navegarem durante três dias rio acima, por 100 km, no dia 21 de agosto, foram até um pequeno rio que desaguava no Iguatemi, em uma paragem chamada Forquilha, até onde não dava mais vau, isto é, profundidade muito rasa para as canoas, por 19,6 km.

Passaram então a andar a pé, na margem esquerda do rio, depois de transpor uma mata, que deveria ser uma mata ciliar, andaram por uma campanha que é dilatada, isto é um campo aberto; 9 pessoas ficaram de guarda nas canoas e 7 seguiram  por cerca de 19 km, em meio a picadas de muitos mosquitos, sol muito quente sem água de qualidade para aliviar a jornada.

Chegando ao pé da serra, foi encontrado um riacho que tinha cinco palmos de fundo e em outras partes menos.

Os exploradores procuravam ver até onde ia esta drenagem e contornando-a, depararam com gentios (índios) a cerca de 132 metros ateando fogo e com fogos, logo a campanha começou a queimar. Receosos de serem mortos, pois estavam em menor número, voltaram com muita pressa, preocupados se os que tinham ficado estavam vivos.

Após encontrá-los navegaram o mais rápido possível para a praça, chegando à noitinha do dia 22 de agosto, cansados, com fome, sono e muito mordidos de mosquitos.

Toda essa incursão de aproximadamente 120 km, na verdade chegaram até onde atualmente é o município de Coronel Sapucaia, não muito distante a leste de sua sede municipal.

A distância da capitania de São Paulo cuja jurisdição estava subordinada a Praça/Fortaleza era muito dilatada, mais de 1.300 km, considerando que na época uma viagem demorava mais de dois meses, pois era feita através dos rios, não tendo ainda caminho por terra.

Tudo dificultava uma comunicação, pois não havia núcleos populacionais ou embriões destes de apoio, principalmente ao longo dos rios, baixo Tietê, Paraná e Iguatemi.

No tocante ao vale do rio Iguatemi, que foi após o rio Paraná o eixo de penetração deste “evento” para chegar até o local escolhido, para estabelecer a fortaleza, pouco mais de 200 km, atualmente há vários municípios, mesmo não tendo sua sede administrativa próxima às margens, são eles: Eldorado, Mundo Novo, Japorã, Iguatemi, Sete Quedas, Tacuru, Paranhos e Coronel Sapucaia.

REFERÊNCIAS

BELLOTTO, Heloisa Liberalli. O Presídio do Iguatemi: Função e circunstâncias (1767-1777). p. 31-56. n. 21,1979. Disponível em: <www.revistas.usp.br/rieb/article/view/69573/72148>. Acesso em: 11 jul. 2018.

DERNTL, Maria Fernanda. Método e Arte: criação urbana e organização territorial na capitania de São Paulo. 1765-1811. Tese de Doutorado. FAU-USP. São Paulo, 2010. Disponível em: file:///c:user/usuario/downloads/Maria_Fernanda_Derntl_HYPERLINK "file:///c:user/usuario/downloads/Maria_Fernanda_Derntl_%3ETese.pdf">HYPERLINK "file:///c:user/usuario/downloads/Maria_Fernanda_Derntl_%3ETese.pdf"Tese.pdf> Acesso em: 10 maio 2018.

______. Uma Oficina de Novidades: a implantação de núcleos urbanos na capitania de São Paulo, 1765-1775. An. mus. paul. vol. 20 n. 1. São Paulo Jan/jun. 2012. Disponível em: <www.http://dx.doi.org/10.1590/50101-47142012000100005>. Acesso em: 05 mar. 2018.

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MARTINS, Gilson, R. Forte de Iguatemi. Sua Construção e Importância na Definição dos Limites Territoriais Brasileiros. Revista ARCA-MS, p 38-42, n. 3, dezembro de 1992.

MINISTÉRIO DO EXÉRCITO. DIRETORIA DO SERVIÇO GEOGRÁFICO. SG.21-X-B-I e SF.21-Z-D-IV, Rio de Janeiro. Diretoria do Serviço Geográfico do Brasil, 1980.

TORRÃO FILHO, Amílcar. Política urbanizadora e

 

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Autor: Ângela Antonieta Athanázio Laurino.

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