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18/11/2021

Parques urbanos: muito mais que cenários

Primavera, verão. O verde marca presença com mais força na paisagem, os dias ensolarados sugerem lazer. Nos parques urbanos, um convite à reflexão sobre a importância do equilíbrio dos ecossistemas naturais para a qualidade de vida. Nesta matéria, a engenheira Sueli Teixeira pontua algumas razões que fazem desses espaços bem mais que cenários exigindo compromisso com a preservação em prol do bem comum.

 

 

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MEIO AMBIENTE

 

Parques Urbanos: muito mais que cenários

 

Sueli Santos Teixeira*

 

Vida e energia

A vida é feita de ciclos decorrentes de contínuas transformações da matéria. Isso significa que a energia da terra e do sol é o que move o Planeta Terra em um constante fluxo vital. É desse complexo sistema de troca que depende a disponibilização de elementos como água, oxigênio, carbono e nitrogênio – indispensáveis a todos os seres vivos. Nesse contexto, importante refletir sobre o papel dos parques urbanos na valorização da qualidade de vida.

É certo que a população urbana, seja qual for a classe econômica, anseia viver em um ambiente de qualidade desfrutando o que de melhor esse ambiente possa lhe oferecer. Em Campo Grande, os parques, de acesso gratuito, têm sido usufruídos por uma população que ainda não os percebem em sua concepção de qualidade de vida dentro do princípio da sustentabilidade. A maioria os vê apenas como locais de diversão, fora da contextualização da qualidade ambiental, ignorando os processos comuns de controle e equilíbrio dos ecossistemas naturais do ambiente como um todo.

 

Cidade e natureza

Conforme o Perfil Socioeconômico de Campo Grande 2021** “Conceitua-se Parque como uma área verde com função ecológica estética e de lazer, com extensão maior que as praças e jardins públicos. Os parques públicos são elementos característicos de grandes cidades e protegem áreas de interesse paisagístico e cultural, funcionando como espaço de recreação, esportes, turismo e contemplação da natureza”.

Em Campo Grande existem vários parques urbanos nas diferentes esferas de jurisdição, destacando na esfera estadual o Parque dos Poderes no qual encontra-se inserido o Parque Estadual do Prosa, o Parque das Nações Indígenas e o Parque Olímpico Ayrton Senna; e na esfera municipal, o Parque Ecológico Anselmo de Barros (Sóter) e o Horto Florestal dentre outros que se integram de forma sustentada quando voltamos o olhar para a cidade como um todo. Os mesmos, considerando suas funções, permitem-nos chamar Campo Grande de “cidade natureza” como já referenciado por uma autoridade pública tempos atrás.

Note-se que os parques destacados têm diferentes funções em suas concepções, os quais passaram por um planejamento físico antes de serem inseridos no ambiente em que se situam de forma a respeitar a função ecológica do meio ambiente.

Nesse delineamento ecológico e arquitetônico, o Parque dos Poderes é um local onde se concentra o centro administrativo do governo estadual com grande número de órgãos dos poderes executivo, legislativo e judiciário. Ali, na década de 1980, a cidade invadiu a natureza de forma ambientalmente adequada, permitindo a integração harmoniosa das edificações. Nos finais de semana ele deixa de ser acessado pelos que buscam os serviços públicos estaduais e passa a ser frequentado por um público bastante familiar quando então se restringe o acesso de veículos para receber crianças e adultos que interagem com a natureza, seja em caminhadas, passeios de “bikes” ou mesmo para o bate-papo ou a simples degustação de uma refrescante água de coco.

O Parque Estadual do Prosa, localizado no Parque dos Poderes, conforme o Instituto de Meio Ambiente de MS (IMASUL), tem como objetivo principal preservar amostras de ecossistemas do Cerrado, espécies da flora e fauna a ele associadas, as nascentes do Córrego Prosa, a valorização do patrimônio paisagístico e cultural da região, objetivando sua utilização para fins de pesquisa científica, educação ambiental, recreação e turismo em contato com a natureza. Esse parque representa um dos últimos remanescentes de Cerrado dentro do perímetro urbano. Abrange espécies regionais da fauna e da flora ameaçadas de extinção.

No Parque Estadual do Prosa situa-se o Centro de Recuperação de Animais Silvestres (CRAS) criado em julho de 1987 com o intuito de recepcionar, triar e destinar os animais silvestres apreendidos em operações de combate ao tráfico, os atropelados nas rodovias estaduais, bem como os entregues voluntariamente pela população.

Do Parque dos Poderes seguimos para o Parque das Nações Indígenas que tem uma concepção magnífica pois pretendeu-se em sua implementação que se tornasse um elo entre a ancestralidade e o futuro, o que se constata já em seus portais de entrada representando as nações indígenas que ocupavam ou ocupam o território de Mato Grosso do Sul, tais como: Guarany, Kaiowá, Nhandeva, Kadiwéu, Terena e Ofaié. Sua natureza exuberante convida à meditação e à reflexão sobre nosso papel quanto à necessidade de uma consciência individual e coletiva relativa à preservação e conservação ambiental.

O Parque das Nações Indígenas localiza-se no Vale do Córrego Prosa em uma área de 116 hectares e foi projetado com Praça dos Grandes Eventos, Concha Acústica, Museu das Culturas Dom Bosco (MCDB), Museu de Arte Contemporânea (Marco), Lago Principal, Sede da Polícia Florestal, Prédio da Administração; e mais: 12 km de pistas com largura de 3 a 6 metros, 80 hectares de gramado formados na época da sua implantação onde não existia vegetação natural que, em sua maior parte, foi preservada, e três grandes estacionamentos em sua área externa sendo dois ao lado da avenida Afonso Pena e um na rua Antônio Maria Coelho.

Na região, a nordeste da avenida Mato Grosso, merece destaque também a avenida Fadel Tajher Iunes – a mais recente e sustentável de Campo Grande, ecologicamente falando – conhecida como a Avenida das Araras pois abriga o “Projeto Aves Urbanas - Araras na Cidade” do Instituto Arara Azul. Nesse projeto, ninhos são construídos em palmeiras nativas e exóticas localizadas na avenida e também em quintais de residências e imóveis comerciais, calçadas e passeios públicos em outras avenidas e parques. O objetivo principal é monitorar o sucesso reprodutivo da arara-canindé na área urbana da capital analisando, ao longo dos anos, os resultados com o desenvolvimento da cidade. 

 

História e qualidade de vida

No âmbito municipal destaca-se o Parque Florestal Antônio de Albuquerque, mais conhecido como Horto Florestal. Com seis hectares, trata-se de um dos grandes parques de lazer da capital. Situado no local onde o fundador da cidade, José Antônio Pereira, montou seu rancho em 1875, na área de cruzamento dos córregos Prosa e Segredo que se juntam para formar um terceiro córrego, o Anhanduizinho.

Em Campo Grande na municipalidade contamos ainda com vários Parques Lineares, entre os quais: Parque Linear do Sóter, Parque Linear da Lagoa, Parque Linear do Imbirussú, Parque Linear do Segredo e Parque Linear das Cabaças.

Os Parque Lineares “São áreas de propriedade pública ou privada, ao longo dos corpos d’água, em toda a sua extensão ou não, que visam garantir a qualidade ambiental dos fundos de vale, podendo conter outras Unidades de Conservação dentro de sua área de abrangência”**. A propósito – por estar relacionada diretamente à vida, à saúde e ao lazer – a água é um recurso que pode ser altamente mobilizador para a conscientização da sociedade quanto às questões ambientais.

 

Cuidado e usofruto

A despeito dos generosos espaços que temos em Campo Grande – comparativamente a outras cidades do país – com frequência depara-se com a destruição de ambientes importantes no contexto da vida urbana, um indicativo claro de falta de afetividade a seu próprio local de moradia. Um parque urbano, no âmbito da educação ambiental, deveria ser instrumento para estimular as práticas que objetivam a difusão do conhecimento requerido de todo cidadão acerca do funcionamento dos ecossistemas e da obtenção, socialmente negociada, de padrões de qualidade de vida compatíveis com a capacidade de suporte do ambiente e que se traduzem na demanda pelo uso dos recursos naturais.

Precisamos mostrar para a nossa população algumas das razões da importância dos parques urbanos e também fazer com que nossas crianças estabeleçam uma comparação entre os sistemas humanos e os sistemas naturais, para formarmos multiplicadores conscientes da diversidade de espécies que vivem nesses ambientes naturais que são sustentados por uma fonte ilimitada de energia mas, que podem se tornar finitos quando alterados pelos ecossistemas humanos nele inseridos.

Há de se pensar que já que a população urbana está em crescimento contínuo, que o número de organismos que podem ser sustentados por dados recursos naturais é limitado em função da capacidade de suporte do ambiente urbano, que esse conhecimento e conscientização devem ser transferidos para os cidadãos em geral.

Hoje Campo Grande está em franco desenvolvimento sustentado pois não existe uma apropriação dos recursos naturais voltada exclusivamente para o sistema de produção mas também à cultura, história e do sistema ambiental onde ocorrem de forma equitativa o consumo dos recursos naturais apesar de toda a fragilidade que a dinâmica da ocupação urbana submete o ambiente natural.

Assim – considerando as relações dos ciclos constantes de troca de energias que afetam e são afetados pela biosfera como um todo, que esse ciclo pode ser rompido quando se interrompe seu fluxo energético e que seu funcionamento depende e muito dos ecossistemas locais – é vital que utilizemos nossos parques de forma consciente procurando produzir situações que permitam compreender os complexos mecanismos que impactam o sistema urbano, suas necessidades e limites.

Recentemente testemunhamos o resultado de nova iniciativa de grande singularidade disseminada por todo o ambiente urbano de Campo Grande: o plantio de ipês que periodicamente florescem nas cores mais variadas. O verde bem cuidado é parte indissociável da qualidade de vida da sociedade. No meio urbano, parques floridos demonstram uma cidade arborizada, limpa, bem cuidada com espaços sociais acessíveis a todos os públicos, tudo levando a um clima de cumplicidade necessária para a conservação e preservação ambiental em prol da qualidade de vida. Vamos todos cuidar, usufruir e entender os mecanismos e ciclos de vida e energia que regem o nosso meio ambiente.

 

* Sueli Santos Teixeira é engenheira civil pela UFJF-MG, mestre em saneamento ambiental e recursos hídricos pela UFMS. Associada efetiva do IHGMS, cadeira 21 (patrono: José Garcia Leal).

 

** “Perfil Socioeconômico de Campo Grande/MS 2021”, publicação da Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano (Planurb)

 

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Autor: Sueli Santos Teixeira

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