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28/05/2023

Changa-y - História e estórias da Fronteira de Ponta Porã

BIBLIOGRAFIA

 

Changa-y: histórias e estórias da fronteira de Ponta Porã

Arnaldo Rodrigues Menecozi*

 

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Foi lançado no dia 3 último em evento realizado no auditório Acyr Vaz Guimarães, nas dependências do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, o livro “Changa-y: Algumas histórias e estórias da fronteira Ponta Porã-Pedro Juan Caballero”, do advogado Carlos Alberto Vargas Freire. Nele, em 992 páginas são apresentados aspectos de Ponta Porã e de Pedro Juan Caballero desde os primórdios da civilização até aproximadamente a década de 1960, com referências aos primeiros habitantes da região, relatos da guerra da Tríplice Aliança, da revolução federalista no Rio Grande do Sul (que provocou a vinda de muitos rio-grandenses para a porção sulina de Mato Grosso), do ciclo da erva-mate, além de outros eventos políticos que moldaram a história da fronteira onde se assenta Ponta Porã.

Nesta página, em textos do professor Arnaldo Menecozi, organizador da obra, e do autor Carlos Alberto, um pouco desse trabalho que se propõe, sobretudo, a oferecer pistas e informações a futuros pesquisadores dos mais variados assuntos da fronteira.

 

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Além de changa-y

Segundo Carlos Alberto Vargas Freire, autor de “Changa-y: Algumas histórias e estórias da fronteira Ponta Porã-Pedro Juan Caballero”em seu texto de apresentação da obra, “changa-y”, na época áurea da Companhia Matte Larangeira, era aquele que elaborava a erva-mate clandestinamente se apropriando de algo que não era seu, ou sem o seu consentimento.

No livro, no entanto, facilmente se percebe que nem tudo gira em torno desse elemento emblemático da fronteira, mas também ao mundo em que ele vivia. E este é o mote para a contextualização de outros tantos elementos, personagens e acontecimentos que fizeram da região fronteiriça, no então sul mato-grossense, praticamente única em suas características político-econômicas e, sobretudo, sociais.

 

Pistas e informações

O trabalho realizado por Carlos Alberto concentrou-se primeiramente na árdua tarefa de pesquisar toda a bibliografia, fazer citações pertinentes e preparar o conteúdo do livro. Na sequência, organizar o material coletado atendendo a uma lógica temporal e espacial. Assim, aos poucos, o roteiro original foi transformando-se em capítulos acrescido de um especial sobre o Território Federal de Ponta Porã, além de uma extensa bibliografia.

O livro ressalta aspectos de Ponta Porã e de Pedro Juan Caballero desde os primórdios da civilização até aproximadamente a década de 1960, começando com referências aos primeiros habitantes da região, passando por relatos da guerra da Tríplice Aliança e destacando a revolução federalista de 1893 a 1895, ocorrida no Rio Grande do Sul, o que provocou a vinda de muitos rio-grandenses para a porção sulina de Mato Grosso e o ciclo da erva-mate.

A trajetória de “Changa-y: Algumas histórias e estórias da fronteira Ponta Porã-Pedro Juan Caballero” está composta por oito capítulos, além de um capítulo especial sobre o Território Federal de Ponta Porã. O conteúdo vai desde o “Povoamento da Fronteira” seguindo com destaque à beligerância fronteiriça, agitações internas e revoluções do outro lado da fronteira.

Nessa porção sulina do então estado de Mato Grosso já bateu forte o som dos tambores guaranis, além do surgimento das cidades-gêmeas, a partir de uma laguna paraguaia: Punta Porá, de onde passou a chamar-se Pedro Juan Caballero, e, do lado brasileiro, Ponta Porã. Todavia, no início não havia separação de países, era uma cidade única, porque não se sabia onde ficava a linha de fronteira, e muito menos onde uma cidade terminava e a outra começava.

 

Erva-mate e outras facetas

“Changa-y” e erva-mate: simbiose de um processo histórico do “oro verde” e de seus desdobramentos na região, com destaque a Thomaz Larangeira, e ao Instituto Nacional do Mate e de como se elaborava a erva-mate.

Como o mundo da erva-mate se projetou muito intenso na economia da região sulina mato-grossense, ter uma relação direta com a política não foi tarefa das mais difíceis. Ao contrário, proeminência dos irmãos Murtinho e intrínseca relação com a Matte Larangeira. Há, em destaque, a importância de Campanário, sede da famosa Companhia.

Ponta Porã sempre foi palco de todos os embates que a erva-mate propiciou em sua história. Contudo, em Ponta Porã também foram registradas determinadas “Facetas”, dignas de fazerem parte dessa trajetória: Ponciano de Mattos, o primeiro prefeito; Detetive Perpétuo e a comoção de sua morte no Rio de Janeiro; Sismório, um matador frio da fronteira; os registros fotográficos de Alberto Braud; além de resenhas de vários livros que versam sobre Ponta Porã e o mundo da erva-mate.

“Changa-y” finaliza com as “Reminiscências da Fronteira”, com relatos, os mais variados e pitorescos do mundo fronteiriço, desde a “busca do ouro de Solano López”, o furto do “candango” do Juiz, até disco voador em Ponta Porã. Destaques também às atividades futebolísticas; aos primeiros cinemas, quer sejam em Pedro Juan Caballero ou em Ponta Porã; aviação; correios; imprensa, enfim, o movimentado mundo social naquela fronteira.

“Capítulo Especial: Era uma vez um Território Federal chamado Ponta Porã” encerra a trajetória dos conteúdos de “Changa-y” desde a criação do território, passando pelas ações de suas administrações, culminando com a sua extinção e toda a luta para a sua restauração... que não ocorreu. Acompanha, também, um anexo específico desse capítulo.

O livro ainda traz “Memórias documentais da fronteira”, abrangendo “Memória fotográfica de Ponta Porã, Registros históricos da política mato-grossense e fronteiriça, A imprensa de Ponta Porã, A sociedade ponta-poranense na imprensa escrita, Matte Larangeira e O mundo da erva-mate”.

Por fim, o que se pretendeu com “Changa-y: Algumas histórias e estórias da fronteira Ponta Porã-Pedro Juan Caballero” não foi levantar uma bandeira apontando prós e contras, sobretudo com personagens e passagens históricas enredadas nessa fronteira. Em nenhum momento houve a intenção de se caracterizar uma determinada ideologia; ao contrário, acontecimentos foram resgatados, à luz de uma vasta bibliografia, onde os interessados poderão trilhar outros caminhos... que não precisam ser os mesmos dos changa-ys, mas de qualquer contexto fronteiriço. O que passou, passou!

 

* Arnaldo Rodrigues Menecozi é licenciado em Geografia, professor da Reme e organizador do livro “Changa-y: Algumas histórias e estórias da fronteira Ponta Porã-Pedro Juan Caballero” (disponível para venda no IHGMS - R$ 100,00).

 

 

Imagens: Carlos Alberto Vargas Freire

 

 

 

Nas imagens, capa do livro, ervateiro carregando o barbacuá e plantilha – calçado dos ervais que protegia contra animais peçonhentos, espinhos, paus e facilitava a subida nos pés de erva-mate.

 

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A fronteira guaranizada

Carlos Alberto Vargas Freire**

 

Antes de tudo, os nativos

Teriam sido os indígenas os primeiros habitantes da região? Teorias várias existem. Em Cerro Moroti, perto de Cerro Corá, a uns 50 quilômetros de Ponta Porã, existem inscrições rupestres que dizem ser de uma antiga civilização Viking/Celta. Teriam sido eles os primeiros? Os índios teriam destruído essa antiga civilização? Ou seriam os indígenas os legítimos sucessores dessa civilização? Muitos aceitarão, outros negarão.

O que se sabe é que inscrições rupestres foram encontradas nas elevações planálticas de Maracaju, cuja datação supera quatro mil anos, heranças de antigas populações. Mas os povos mesmo, aqueles que produziram a própria história da região, de onde vieram? para onde foram?

José Barbosa Rodrigues, quando escreveu “História de Mato Grosso do Sul” (1984), já apresentava a tese de que a questão sobre as primitivas populações do sul mato-grossense referia ao indígena propriamente dito, e não à miscigenação ocorrida posterior à chegada do homem branco à região.

O “Album Graphico do Estado de Matto Grosso”, originalmente publicado em 1914, divulgou documento a respeito das condições dos nativos da província mato-grossense, com data de 2 de dezembro de 1848, assinado pelo Diretor Geral dos Índios, Joaquim Alves Ferreira, conforme o jornal “O Arquivo Cuiabá”, 1905, e enviado a Joaquim Marcelino de Brito, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império, que informava a situação geral dos índios na província de Mato Grosso.

O documento apresenta um quadro sinótico das referidas nações indígenas, classificadas segundo os distritos do Sul para o Norte da Província, além do resumo das notícias a respeito de cada uma delas: Caiuás, Chamacocos, Guaicurus-Cadiuéus, Guaicurus-Beaqueus, Guaicurus-Cologueus, Guaicurus-Guatiedéus, Guanás, Guanás-Kinikinaos, Guanás-Terenas, Guanás-Laianas e Guaxis.

Há registros de que a maioria dos povos indígenas que ocupou o território do que hoje é Mato Grosso do Sul, tenha chegado de regiões vizinhas, como o Gran Chaco, sobretudo os Terena, Kinikinau, Kadiwéu e Chamacoco. Alguns, vieram de mais distante, como os Atikum, do Nordeste brasileiro.

No entanto, vale o registro de que quando há referências sobre fronteiras administrativas, nacionais ou interestaduais, com seus limites, esses conceitos não fazem parte da cultura dos povos indígenas. Os limites atribuídos por esses nativos estavam circunscritos às características culturais ou linguísticas. Prova disso é que determinados grupos indígenas que vivem hoje em Mato Grosso do Sul também estão presentes em outros estados brasileiros ou outros países.

 

As cidades-gêmeas

A região onde hoje se assenta Ponta Porã e Pedro Juan Caballero funcionava como um ponto de referência, pois havia o que se chamava de “ponto de apoio”, provavelmente o primeiro registro cabe ao senhor Ortiz, ou José Tapia, o estabelecimento de um desses pontos, com um “bolicho”, espécie de comércio “tem de tudo”, desde “pensão, lanchonete, posto médico, posto de orientação, bazar, tudo enfim que se apresenta necessário ou útil ao viajante”, além, do ponto de apoio servir para “(...) descansar a boiada, repouso das tropas, rodadas de mate e troca de notícias” como assinalou João Freire.

Toda essa região era chamada de Chiriguello, hoje, distante em torno de 20 km de Pedro Juan Caballero, e não apenas os caminhos que se direcionavam nessa direção norte do Paraguai, também conhecida por Quebrada e depois Punta Porá; a transposição leste-oeste da cordilheira era tarefa das mais difíceis até para os mais experientes ervateiros.

Foi nesse pedaço de fronteira, entremeando Paraguai e Brasil, que se formaram as mais diferentes peculiaridades entre as duas cidades, a começar pelo seu povo, a tradição, porém, diferenciando-se no quesito hidrográfico, pois Ponta Porã pertence à bacia do rio Paraná, Pedro Juan Caballero à do rio Paraguai.

Sem embargo de existir uma bibliografia considerável referente à fundação de Pedro Juan Caballero, para uns, foi proposital, para outros, obra do acaso, mas sem nenhuma dúvida, os primeiros que aqui vieram ficaram à beira de uma lagoa. Posteriormente outros foram se juntando, isso do lado paraguaio, e com o tempo outros povoadores se fixaram no lado brasileiro, sendo que não se sabia, no início, por onde passaria a linha fronteiriça entre os dois países. A bem da verdade, quem chegasse à área fronteiriça, naquela época, não tinha a menor ideia em que país estava fincando suas raízes, se no Paraguai ou no Brasil. Tanto é que até o posto fiscal brasileiro foi construído em território paraguaio!

Como já foi frisado, as duas cidades PJC/PP nasceram de uma única origem, não havendo nenhuma linha divisória que delimitasse os dois países, porque aquele conjunto urbano era um só. O que a história registra é uma fronteira “sui generis”, indivisível, mesclada por um único povo: o da fronteira, cuja integração entre as comunidades fronteiriças em seu começo não havia nenhum elemento restritivo e diferenciador, mas, ao contrário, com origem histórica e obedecendo a um mesmo processo histórico. Além disso, essa integração adquire características muito específicas.

 

Ponta Porã

O primeiro traçado da área urbana de Ponta Porã foi realizado pelo agrimensor Antonio Fernando de Medeiros, em 1902, cujos limites municipais eram: “Da cabeceira mais alta do ribeirão Passa Cinco, uma linha reta até a cabeceira mais próxima do rio Feio e por este abaixo até a tromba da serra até encontrar o rio Apa, limite com a República do Paraguay, e seguindo pelo Apa acima até o marco Internacional que separa Brasil do Paraguay, e, daí, seguindo pela linha divisória Internacional até o marco das Sete Quedas, no rio Paraná e, seguindo por este acima até a foz do rio Ivinhema e por esta até a foz do rio Santa Maria e por este acima até sua nascente de onde uma linha reta a cabeceira mais alta do ribeirão Passa Cinco”.

Em 18 de julho de 1912, por meio da Resolução Estadual n. 617, é a data oficial da criação do município de Ponta Porã, deixando de ser, então, distrito de Nioaque. A instalação do município ocorreu no ano seguinte, quando tomou posse seu primeiro prefeito, Ponciano de Matos Pereira.

Durante o governo estadual de Caetano Manoel de Faria e Albuquerque (1915-1917) ocorreu a desapropriação de um terreno “para constituir o rocio da mesma villa”, através da Lei n. 716, de 20 de setembro de 1915.

 

Um território chamado Ponta Porã

O Decreto-Lei n. 5.812, de 13 de setembro de 1943, estabelecia a criação dos novos territórios federais, durante a vigência do Estado Novo, no governo Getúlio Vargas, que perdurou no período de 10 de novembro de 1937 até 31 de janeiro de 1946.

Nesse decreto, além da criação do Território Federal de Ponta Porã, com área desmembrada do estado de Mato Grosso, foram criados os de Iguaçu, com áreas dos estados do Paraná e de Santa Catarina; do Amapá, desmembrado do Pará; Rio Branco (atual Roraima), desmembrado do Amazonas; e Guaporé (atual Rondônia), com áreas dos estados de Mato Grosso e do Amazonas.

Uma das primeiras publicações de caráter didático do mapa do Território Federal de Ponta Porã coube à revista “Tico-Tico”, em sua edição de agosto de 1944, à página 97. 

O TFPP foi instalado oficialmente em 1944, após a nomeação de seu primeiro governador, feita por Vargas, o Coronel Ramiro Noronha. A instalação dos territórios seguiu as orientações do Decreto-Lei n. 5.839, de 21 de setembro de 1943, que dispunha sobre a administração dos territórios criados pelo Decreto-lei n. 5.812.

Apenas a criação dos territórios, por si só, em nada alteraria os desafios que o governo sabia existir. Era preciso investir em políticas públicas capazes em criar mecanismos de desenvolvimento econômico e seguridade social. Para isso, a criação de oito Colônias Agrícolas Nacionais (CANs), objetivava estimular, em escala crescente, o interesse e estímulo em direção ao oeste brasileiro.

Quando o TFPP foi extinto, seu último governador, dr. José Alves de Albuquerque, apresentou ao presidente da república um relatório referente aos três anos de existência do aludido território: 1944, 1945, 1946.

Uma das questões que mais estiveram nas vantagens em se criar os territórios em área fronteiriça foi o combate ao crime de contrabando. No caso específico do TFPP o problema maior estava centralizado no contrabando da erva-mate e, após as intervenções político-administrativas teve como consequência da repressão ao contrabando, quase toda a erva elaborada no solo nacional passou a sair após o pagamento dos direitos de exportação, o que importa dizer, aumentando a renda do País e diminuindo a das nações vizinhas que, beneficiadas pelo contrabando, exportavam a mesma erva como produção sua.

 

* Carlos Alberto Vargas Freire é advogado, autor de “Changa-y: Algumas histórias e estórias da fronteira Ponta Porã-Pedro Juan Caballero”.

 

Imagens: Reprodução

 

Nas imagens, palácio do governo e mapa do Território Federal de Ponta Porã (revista “Tico-Tico”, 1944, p. 97); jovens ao lado da lagoa Punta Porã localizada em Pedro Juan Caballero (revista O Cruzeiro, 2 de maio de 1959, n. 29, pp. 63-65); e brasão do município de Ponta Porã com datas e símbolos de sua trajetória: 1913 e 1916 (instalação do município e da comarca), 1943 e 1946  (fatos referentes ao Território Federal de Ponta Porã), trator agrícola (representando a moderna mecanização da lavoura), efígie de um boi (recordando o desenvolvimento da pecuária de corte), folhagem verde (marcando a importância da erva-mate) e faixa vermelha (em referência ao Exército).  

 

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Alguns termos do Glossário dos ervais

Este glossário utilizou-se de verbetes relacionados à erva-mate constantes nas seguintes obras:Obras Completas de Hélio Serejo, publicação do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul; Frutos da Terra, de Gilmar Arruda; Secagem convectiva de erva-mate (Ilex paraguaiensis), dissertação de mestrado de Rita de Cássia da Silveira Bendlin; A Companhia Matte Larangeira e a ocupação da terra do sul de Mato Grosso (1880-1940), de Odaléa da Conceição Deniz Bianchini; Selva Trágica, de Donato Hernâni; e O Imaginário do Sertão, dissertação de mestrado de Isabel Cristina Martins Guillen.

 

Adelanto – adiantamento do salário. É quase uma lei nos ervais. Sem o adelanto não se tem peão para o trabalho. É o antecipo ervateiro.

Atacada – ensacada. Preenchida a bolsa de erva. Uma operação que exigia muita perícia.

Atacador – peão encarregado de ensacar a erva-mate. É um profissional muito considerado. De sua perícia depende a perfeição da tarefa delicada. A escolha recai sempre no peão sossegado, descansadão e de pouco falar. Um atacador normalmente pode atacar de 30 a 35 bolsas (sacas) ao dia.

Balanceador – o que se encarregava de pesar a colheita do dia. Geralmente, era visto como um ladrão (mondaha) que rouba a favor do patrão.

Barbaquá – palavra de origem guarani, boberacuá, significa buraco de fogo, o que brilha muito, lugar onde é feita secagem definitiva da erva mate; designa também o processo de secagem. O barbaquá é um jirau de forma côncava, erguido sobre um buraco, destinado à secagem da erva-mate. É uma invenção paraguaia.

Caá-caiguê (káakaigue) – mate queimado com açúcar. Nos ervais, é como a pinga, serve para curar inúmeras doenças. É crença nos ervais de que o peão que dele faz uso constantemente, torna-se um trabalhador preguiçoso, desanimado.

Cancheada – erva que foi tornada mais fina na cancha, ou seja, erva-mate seca, triturada, mas não beneficiada.

Comitiveros – polícia dos ervais, cuja função era a de perseguir, impiedosamente, o peão fugitivo. Os comitiveros deixaram nos ervais de Mato Grosso, pela brutalidade e truculência, uma impressão de terror que jamais se apagará da memória do fronteiriço.

Depinico – separação das folhas dos ramos das erveiras.

Guapo – disposto; decidido; criatura que não conhecia o que era lombeira, que não enjeitava serviço, mesmo não sendo de erva-mate.

Habilitado (habilitau) – aquele que tem sobre seus ombros a responsabilidade da ranchada ervateira; é, por assim dizer, o arrendatário de uma determinada zona de erval. O que conquistava o “direito temporário de fazer mate” para a Empresa Matte, dela recebendo instruções e o mantimento.

Jajeroki – vamos dançar. Expressão, invariavelmente, empregada nos bailes ervateiros, onde sempre predomina o elemento guarani. Fazer pouco caso, de um jajeroki é ofensa por demais violenta. Se a cunhã assim procede, todos os homens voltam-se contra ela coléricos. Combinam, então, o rejeito que quer dizer, o desprezo durante toda a noite.

Karaí – tratamento de respeito. Designação de velho. O mesmo que amigo; o que pode ser conselheiro. 

Macana – embromação, mentira, logro, trapaça.

Machete – facão. No erval, o facão filoso (bem afiado e branquecendo pela esmerada afiação) tinha valor especial.

Minero – homem que faz o corte das folhas da erva-mate. Um profissional de respeito sempre. Sobe até 6 metros de altura, mantendo equilíbrio perfeito. É o mesmo mensu. É o elemento chave em todas as organizações ervateiras. Sem o minero, peão especializado, não há produção de erva-mate. Ele é como seringueiro, um homem adestrado para uma função extremamente delicada.

Ñandejara – Deus. Tupã. O grande protetor.

Patronsito – nome pelo qual Hélio Serejo ficou conhecido nos ervais do sul de Mato Grosso.

Quatrero – malfeitor, ladrão de gado, assassino, andarilho sem profissão. Indivíduo perigoso, sempre pronto para o crime. Dezenas e dezenas deles foram fuzilados pela polícia do Brasil e do Paraguai.

Reviro – o mesmo que virado. Comida amanhecida. Quando a cozinha da ranchada está a cargo de um peão, ele, ao fazer a mistura da comida que sobrou, vai falando assim: Maria, para o arroz; Joana, para a carne; Francisca, para o macarrão; Laura, para o feijão; Antônio, para a farinha; ficando, por último, a Aniceta, para o tempero. Feito o reviro, o peão apaga o fogo da cozinha, apagando, consequentemente, o fogo das mulheres...

Sacaron – canela de boi. Foi antigo vilarejo do município de Ponta Porã, à margem esquerda do rio Iguatemi. Hoje é a cidade de Iguatemi, município criado pela lei 1.951, de 11.11.1963.

Tacuru – cupim. Hoje é município, criado pela lei n. 72, de 13.05.1980.

Uru – o encarregado, aquele que trabalhava no barbaquá, sendo o trabalhador mais especializado no processo de elaboração da erva-mate. Tinha o conhecimento do momento exato em que o produto estava pronto. Era o mestre geral. O mesmo que barbaquazeiro.

Viciada – Erva-mate adulterada pela mistura com outras espécies de planta.

Xuxo – O mesmo que maleita, sezão, impaludismo.

Yaguarembó (jaguarembó) – erva mal tostada.

Zapaton – botinão grosseiro muito resistente, fabricado na Argentina, depois em Campo Grande, por um sapateiro que se especializou no fabrico. O zapaton teve sua época de ouro nos ervais.

 

 

 

 

 

 

 

Autor: Arnaldo Rodrigues Menecozi

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