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03/12/2021

Brasileiros são atraídos pelo Canadá

A história do Canadá está diretamente ligada ao processo de ocupação do território da América do Norte. Segundo país do mundo em extensão com seus 9.984.670 quilômetros quadrados – só perde para a Rússia – tem população aproximada de 40 milhões de habitantes. As origens do passado canadense confundem-se com as teorias que pretendem explicar o processo de ocupação do território americano. Acredita-se que populações de aborígenes – procedentes da Ásia – tenham chegado a essa região por meio de uma faixa de terra que ligaria a Sibéria e o Alasca. Estima-se que a movimentação desses grupos humanos tenha se iniciado há cerca de 30 mil anos.

Neste artigo, o jornalista Eron Brum, além de discorrer sobre aspectos históricos da formação do território e a vocação multicultural do país, relata experiências de brasileiros que lá buscaram oportunidades de estudo e aperfeiçoamento.

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INTEGRAÇÃO

Brasileiros são atraídos pelo Canadá

Eron Brum*, de Toronto

 

Historiadores – entre eles Rainer Gonçalves Sousa, cujos estudos e pesquisas fundamentam esta reportagem – asseguram que a colonização do Canadá teve início fora do processo de expansão mercantilista que marcou a Europa da Idade Moderna. Os primeiros estrangeiros a se fixarem em terras canadenses foram os Vikings que promoveram um curto período de ocupação da Ilha de Terra Nova. Acredita-se que, já naquela época, o contato entre nativos e europeus tenha sido marcado por longos e violentos conflitos.

Passados seis séculos, o navegador italiano Giovani Caboto, a serviço da Coroa Britânica, reivindicou o domínio europeu dessa extensa área em 1497. Logo em seguida os franceses também invadiram a região para acelerar suas atividades de natureza colonial. De acordo com alguns documentos as aventuras britânica e francesa pela América do Norte aconteceu, na realidade, com o objetivo de encontrar outra rota marítimo-comercial para o Oriente. Entretanto, mesmo não alcançando o tão disputado mercado oriental, os mercadores dessas nações exploraram o pescado e as peles facilmente encontrados em terras canadenses. É oportuno destacar que a presença franco-britânica foi marcada por várias disputas com o objetivo de impor a hegemonia de um só país no território colonial canadense. O resultado foi que parte significativa do território acabou sendo controlada pelo governo britânico.

Somente no século XIX, os canadenses organizaram lento mas gradual processo de emancipação do controle britânico. No ano de 1848, a Inglaterra autorizou os canadenses a conduzirem as suas próprias instituições políticas, mas exigiu que os assuntos de natureza externa permanecessem sob sua alçada. Logo depois dessa abertura sob controle, o processo de expansão do seu vizinho Estados Unidos transformou o cenário político desse território.

 

Formação do território

Com o término da Guerra Civil dos Estados Unidos (1861-1865), lideranças políticas canadenses defendiam que a união política das províncias era fundamental para que os EUA não tentassem a anexação de seus territórios. Em 01 de julho de 1867, Canadá Oeste, Canadá Leste, Novo Brunswick e Nova Escócia uniram-se por meio de um documento chamado Ato da América do Norte Britânica. A partir de então, todo esse território seria politicamente reconhecido como Domínio do Canadá.

Inspirados pelo sistema britânico, os políticos do novo Estado optaram por um regime em que um Parlamento – composto pela Câmara dos Comuns e pelo Senado – trataria de assuntos de natureza nacional. Enquanto isso, as províncias teriam autonomia para discutir e elaborar as leis que se restringissem aos assuntos locais. Pouco tempo depois, os canadenses organizaram seu processo de expansão territorial rumo ao oeste.

Mas, no ano de 1869, um levante liderado por Louis Riel garantiu a conquista da chamada província de Manitoba. Um ano mais tarde, os membros da Columbia Britânica decidiram incorporar-se ao Canadá. Em 1873, a Ilha do Príncipe Eduardo também tomou a mesma ação. A última província canadense foi conquistada em 1949, quando a região de Terra Nova optou pelo fim da subordinação. E nas primeiras décadas do século XX, a economia canadense cresceu de forma expressiva, tornando-se uma significativa força agrícola e industrial. Na década de 1930, os efeitos da Grande Depressão foram superados na medida em que a inserção na Segunda Guerra Mundial aqueceu a sua economia e transformou-o, após o conflito, no quarto maior parque industrial do mundo.

E na segunda metade do século XX, a prosperidade da economia canadense veio acompanhada por uma série de políticas sociais que firmaram um invejável padrão de vida no país. No contexto internacional, o Canadá tem papel atuante em operações que defendem a paz mundial e tornou-se região atrativa para imigrantes.

Na década de 1980, um movimento na província de Quebec discutiu a separação política de seu território. A justificativa para essa ação eram os paradigmas culturais quebequenses, que estariam muito mais próximos de uma tradição cultural francesa do que a do restante do território, marcado pela hegemônica colonização britânica.

Graças a sua formação cultural múltipla, o Canadá passou a acolher pessoas de vários países. As demandas econômicas da nação levaram-na a criar diversos programas que permitem o ingresso de estudantes e trabalhadores para o interior de seu território. De certa forma, a sua política externa difere-se de outras grandes nações, que se alarmam com a presença de imigrantes.


Computador, tablets e celulares

Iúri Bueno, paulistano radicado em Campo Grande, é formado em Processamento de Dados, atua como professor de Informática desde 1966 e explica sua preferência: “Sempre entendi a Informática como uma ferramenta de apoio e, tendo esse pensamento, procurei, ao longo da minha atuação profissional, “traduzir as dificuldades dos alunos e professores de modo que facilitasse o uso da tecnologia nas tarefas mais cotidianas”.

Tão logo entrou no mercado de trabalho na instituição educacional de sua família, com polos em várias cidades do Estado de Mato Grosso do Sul – ensino médio, superior e cursos técnicos – Iúri Bueno percebeu que o papel atribuído a computadores, tablets e celulares é fundamental na aprendizagem: “Apesar de, a princípio, os computadores terem sido usados na sala de aula com o intuito de serem facilitadores do ensino, um recurso para ajudar no trabalho do aluno e do professor, hoje tal recurso, ou a ausência dele, pode ser visto como uma barreira que tem regulado o desempenho do professor e do aluno”.

Recém retornado do Canadá, onde cursou pós-graduação em Segurança de Redes de Computador na Universidade de Winnipeg, na Província de Manitoba, fala sobre a experiência: “O curso teve duração de 18 meses, de segunda a sexta, das 8:30 às 16 horas, com muita chuva, pouco sol e principalmente neve. As condições climáticas surpreendem os estudantes, em especial os procedentes de países como o nosso. O clima de Winnipeg, tipicamente de inverno durante oito meses do ano, com temperaturas chegando a 40 graus negativos. Lá tivemos que nos acostumar a limpar a neve ao sair do carro e também a pé”.

A seriedade do estudo no Canadá é resumida assim por Iúri Bueno: “Durante o meu curso, eu e os outros 22 colegas – de vários países, além dos canadenses – nos esforçamos muito em sala de aula e também fora dela. Chegando em casa são necessárias mais quatro horas, em média, para leitura e prática”.

No entanto, terminado o curso, Iúri Bueno percebeu o resultado de tantas horas de estudo e pesquisa: “Os formandos eram profissionais desejados pelo mercado local e todos saíram empregados da Universidade”. E fala da sua própria experiência: “Após dois anos, mesmo com trabalho garantido no Canadá, retornei ao Brasil e, agora, participo da reestruturação de toda a nossa rede local e revendo os protocolos de segurança”.

Outras observações do professor Iúri Bueno relacionadas aos estudos de segurança de Teoria da Informação (chamada de TI) no Canadá: “Obtivemos conhecimento profundo de vários protocolos, padrões de rede, designes e soluções de segurança que equilibram experiência práticas em laboratórios Cisco de última geração”. E conclui com uma frase sempre repetida pelos alunos e professores nos intervalos e final das aulas: “Os formandos adquirem base sólida de empregabilidade e habilidades essenciais para o mercado de trabalho”.

 

Ser, viver, saber e fazer

A professora Karla Costa, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), mudou-se com o marido Pedro Henrique para Winnipeg e cursou doutorado na Faculdade de Educação da Universidade de Manitoba. Ela fala sobre sua pesquisa, “A formação de professores e língua como poder e agência”: “Manitoba apresenta a mais densa população indígena do Canadá e um em cada sete habitantes indígenas vive nessa Província, como assegura pesquisa realizada em 2016”.

E faz questão de acrescentar: “Além disso, devido a vários programas de imigração, Manitoba atrai cerca de 15 mil imigrantes por ano. Vivenciar essa abundância cultural e linguística como aluna internacional tem expandido meu olhar sobre noções do que é certo, bom e ideal. Estudar sobre a história dos povos e saberes indígenas foi um dos aprendizados mais impactantes para mim”. Outro aspecto que a impressionou: “As instituições educacionais ensinam canadenses indígenas e, não, indígenas”.

Mais uma aprendizagem valiosa, segundo a professora Karla, é saber viver no inverno canadense: “A neve é parte da paisagem pelo menos durante seis meses, e com isso atualizei a minha definição de inverno ao sentir sensação térmica de 50 graus Celsius negativos”.

A grande quantidade de parques espalhados pelo país com árvores, ursos, bisões, lagos e muita vida selvagem foram pontos surpreendentes na vivência da professora: “O contato mais frequente com essa experiência canadense me ensinou muito sobre diferentes maneiras de ser, viver, saber e fazer. Estar diante dessa abundante diversidade de pessoas e culturas me transformavam diariamente”.

Karla Costa conclui fazendo um perfil resumido do Canadá: “A dúvida sobre pertencer acompanha essa trajetória, ora me trazendo a certeza de que este é o melhor lugar para se viver, ora me lembrando que não sou daqui. Esse país extenso é reconhecido pelos altos índices de qualidade de vida e pelas experiências positivas dos imigrantes. Porém, essa constatação pessoal também irá depender das oportunidades e privilégios a que cada um tem acesso. Saber a língua inglesa é essencial para quem pretende morar no Canadá: ela pode abrir portas, apesar de não garantir oportunidades. Enfim, viver e estudar no Canadá ampliou o meu olhar sobre cidadania, meio ambiente, privilégios e origens”.

 

* Eron Brum é jornalista, retornou recentemente do Canadá onde viveu por um ano e três meses e fez reportagens para a imprensa escrita sul-mato-grossense e paulista. É associado correspondente do IHGMS.

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Localizado no hemisfério norte, no continente americano, o Canadá é um país de formação cultural múltipla que, ao contrário de outras grandes nações, acolhe estudantes e trabalhadores das mais variadas origens. Nas imagens, uma das muitas estátuas de Vikings (primeiros estrangeiros a se fixarem no território) espalhadas por diversas cidades; cenas do cotidiano no verão, primavera e inverno; animais selvagens em parque urbano; exemplo de sinalização colocada pelas escolas nas casas de estudantes; e transporte ferroviário vencendo as grandes distâncias do território.

 

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Autor: Eron Brum

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