01/03/2025
Outras batalhas
Batalha de Arroio Itororó – 06/08/1868.
A partir de “agosto de 1868, a guerra tornou-se irregular, uma verdadeira caçada a Solano López”, pois os aliados não conheciam a geografia da região e seus difíceis acessos.
– Batalha de Palmas – 27/11/1868.
– Batalha de Santo Antônio – 04/12/1868.
– Batalha de Arroio Avaí – Combate de 5 horas de duração. Nessa batalha Caxias disse a célebre frase: “Sigam-me os que forem brasileiros!” – 11/12/1868.
– Batalha de LomasValentinas – Apesar da superioridade e preparo das tropas de Caxias um terrível temporal deu vitória ao Paraguai, em 21/12/1868.
Nas três últimas batalhas, Itororó, Avaí e Lomas Valentinas, o Exército brasileiro sofreu milhares de perdas e Caxias teve que se colocar à frente de suas tropas para evitar que dessem as costas ao inimigo e fugissem.
Em 24/12/1868, foi intimado por Caxias e Gelly y Obes, a rendição de Solano López, a fim de evitar uma carnificina, pois era enorme a desproporção das forças. A resposta foi “Não!”
Em 27/12/1868, às 6 horas da manhã, iniciou o assalto ao Quartel General de Solano López.
A 30/12/1868, foi a Rendição de Angostura, sua última posição fortificada com seus 1.300 soldados. Nessa data, Solano López iniciou sua fuga – com sua companheira Elisa Alicia Lynch, seus generais e Estado Maior – para o interior.
O comandante Caxias ordenou a ocupação onde os soldados brasileiros em número de 1.700 desembarcaram de um navio de guerra, ocuparam Assunção, que estava deserta, na noite de 1º janeiro de 1869 e a saquearam.
Com a fuga, Solano López refugiou-se na Cordilheira de Altos, posteriormente instalou-se em Peripebuy, como sendo a nova capital, reorganizou o exército com os soldados sobreviventes incorporou adolescentes e velhos, prolongou a guerra por mais 15 meses.
Conforme foi avançando as localidades iam tornando-se capital como Curuguaty. Essas regiões eram desconhecidas do exército brasileiro, dificultando os ataques.
A 14 de janeiro de 1869, Caxias declarou que a Guerra tinha terminado, estava “exaurido física e psicologicamente”, retirou-se do Paraguai, no dia 19 de janeiro e foi para Montevidéu.
A 24/03/1869, foi publicada a nomeação pelo Imperador D. Pedro II, do Conde d´Eu, Luiz Felipe Fernando Gastão de Órleãs, como o novo “Comandante em Chefe das Forças Armadas Brasileiras da Guerra”. Chegando a Assunção a 14 de abril, acompanhava-o como secretário particular o tenente engenheiro Alfredo Maria Adriano d´Escangrolle de Taunay.
A partir de 16/04/1869, Luque a 2ª capital passou a ser o comando das Forças Brasileiras, hoje este local é um bairro de Assunção. A 1º de maio teve início a marcha dos aliados. Esse exército destruiu a 05 de maio, em Ibicuí, a fundição dos canhões e controlou também a estrada de ferro.
Ocupação de San Pedro
Ataque e ocupação, em 25 e 30 de maio de 1869, da localidade de San Pedro e da várzea do rio Tupi-hú, onde foram aprisionados 800 paraguaios – muitos mortos, sendo que poucos fugiram – além de 18 canhões, ouro, prataria, milhares de reses, como presas de guerra. Nesse episódio o cel. Câmara mandou degolar a maior parte dos prisioneiros.
Conquista de Altos – 06/08/1869
Rumo à localidade de Valenzuela, os aliados encontraram o caminho livre, pois consideravam que o conde d´Eu atacaria por Ascurra e entre os dias 06, 09 e 11 as tropas brasileiras e argentinas continuaram avançando e conquistaram Altos “havendo tentativa paraguaia de retomá-la”. Aprisionaram “2 mil civis, entre mulheres, crianças e aleijados, inclusive 38 prisioneiros de Mato Grosso, dos quais 17 eram escravos e no dia 15 ocuparam Tobati na cordilheira”.
Batalha de Piribebuy – 12/08/1869
A vila de Peribebuy foi também capital, definida por Solano López. Tomada a 12/08/1869, muitas crianças foram mortas, lanceadas ou a bala. Nessa região a guerra durou vários meses.
Em Peribebuy “...as forças brasileiras, além de 700 mortos e 1.100 homens aprisionados, apreenderam o arquivo público do Paraguai, correspondente a toda documentação até o ano de 1868, inclusive a correspondência secreta do Ministério das Relações Exteriores da República”.
O coronel Caballero e o chefe político da vila de Peribebuy, Patrício Marrecos, foram aprisionados devido a morte do gen. Menna Barreto, estes foram degolados por ordem do Conde d´Eu, manchando o seu nome por esse bárbaro e cruel ato!
A 15 de agosto de 1869, através dos aliados, foi instalado o governo provisório. Três decretos foram editados: o 1º declarando Solano López traidor da pátria e fora da lei; o 2º, de 19 de março de 1870, embargando seus bens, inclusive da companheira, Elisa Lynch, por ser de origem bastarda e ilegítima; e o 3º, de 04 de maio de 1870, transferindo os bens de Solano López para o Estado e aqueles que constavam como sendo de Elisa Lynch, anteriores às “doações” ou compras no período final da guerra, embargados e ela submetida a julgamento para esclarecer seu enriquecimento.
Os três decretos foram aprovados pelo Legislativo Paraguaio, inclusive por congressistas que tinham lutado na guerra ao lado de Solano López.
Batalha de Acosta-Nú/Campo Grande – 16/08/1869
Esta batalha durou oito horas, com participação de jovens paraguaios entre 14 e 15 anos, muitas com barbas postiças. Os aliados em número de 20 mil contra 6 mil paraguaios. Vitória dos
aliados nesta que foi considerada a última grande batalha da guerra.
A 31 de agosto de 1869 a vila de Curuguaty foi declarada por Solano López, capital provisória do Paraguai.
Castigos paraguaios
– Para o controle da disciplina do contingente do Império brasileiro ocorriam as “pranchadas”, não muito executadas. Eram centenas de golpes, com uma espada sem ponta nem gume, “as espadas de pranchadas”, assim como pena de morte que o imperador era contra. Os golpes deveriam ser 50 porém iam muito além desses, tornando o soldado em banho de sangue com pele dilacerada.
– No Paraguai, foram instalados seis tribunais a fim de julgar supostos traidores, porém era uma farsa, os acusados não tinham advogados e não podiam defender-se, todas as confissões eram sob as mais atrozes torturas, seus bens e dinheiro eram apoderados pelo governo.
– Os traidores da Pátria morriam feridos de lanças, seus corpos apenas jogados em valas onde apodreciam.
– Quanto aos que foram assassinados em San Fernando por degolamentos ou decapitação, os corpos também foram jogados em valas, semi-sepultados.
– Era proibido aos soldados que voltassem da guerra dar o nome dos que morreram às famílias para que expressassem seus sentimentos.
– As deserções aumentavam após as batalhas. Solano López para garantir sua tropa, adotou algumas medidas: “Serão fuzilados pais, esposas, filhos e irmãos de cada soldado desertor, ou pena de morte”, “ao declará-lo responsável pela deserção de seu companheiro de trincheira ou de alojamento”.
As Destinadas
Com início a 2 de janeiro a 1869 e término em 29 de dezembro do mesmo ano, “A Caminhada das Destinadas” foi uma saga imposta por Solano López ao desterro para os confins do país. O crime a elas imputados, uma suposta conspiração, nada mais era que pertencerem a famílias as quais seus pais irmãos e marido foram julgados e mortos por serem contrários aos ideais de Solano López.
A trajetória iniciada com quatro mil mulheres de todas as idades, com algumas carretas e animais, em Luque, próximo a Assunção e, posteriormente, a pé, tendo que seguir uma escolta, que sempre as levava para regiões mais difíceis de serem alcançadas pelos aliados e obrigadas a cultivar os campos para alimentar o exército paraguaio, além de inúmeros castigos que levavam a morte.
Seu destino final foi às margens do Arroio Espadim, hoje córrego Destino Cuê, no município de Paranhos, Mato Grosso do Sul. A caminhada durou quase um ano, quando foram salvas pelo tenente coronel Antônio José de Moura, do Exército Imperial Brasileiro, com menos de 400 pessoas, doentes, magérrimas, quase não conseguindo andar. Por orientação de um oficial do Exército Imperial, foi sugerido à Madame Dorothée Duprat de Lasserre, que escrevesse os infortúnios da terrível viagem e ela o fez. Posteriormente recebidas a 28 de dezembro, pelo Marechal Conde d´Eu em Curuguaty, foram encaminhadas a Assunção
As residentas
Essas eram mulheres “que tinham sido obrigadas por Solano López a se retirarem das áreas sobre as quais os aliados avançavam. Foram forçadas a marchar com as tropas paraguaias, não recebiam comidas do Exército e estavam condenadas a viver das sobras dos soldados, a comprar comida no mercado negro ou a buscá-las nos bosques”.
Comércio
Acompanhando as tropas, tanto do Exército brasileiro como dos demais aliados, “era hábito, que as famílias dos soldados, além de comerciantes e aventureiros civis, acompanhassem as tropas que marchassem para a guerra”.
“A Guerra do Paraguai foi, aliás, o paraíso de ganhos para aventureiros, sobretudo europeus, transformados em comerciantes, e para fornecedores argentinos, quer de carvão para a esquadra imperial, quer de mantimentos e forragem para a cavalaria do Exército brasileiro, quer ainda de mercadorias em geral para a tropa.”
Os voluntários que eram dispensados, principalmente os argentinos, tornaram-se também comerciantes como fornecedores e dessa maneira lucraram muito.
Mulheres
Como era grande o número de homens convocados para a guerra, no Paraguai, as mulheres os substituíram no plantio, cuidados com animais e fiação de tecidos para a vestimentas dos soldados, entre outros afazeres. Estas esposas e companheiras também acompanhavam as tropas, as vezes chegavam a ultrapassar o número de soldados, alimentavam-se do que sobrava, também cuidavam destes quando ficavam doentes ou feridos, outras denominadas de “Vida Alegre” utilizando-se de suas roupas, faziam ataduras. Quando estes eram feridos e não podiam lutar, estas pegavam a carabina e iam substituí-los, quando a luta acabava, dirigiam-se ao hospital para ajudar.
As esposas ou amantes, em número de 200 acompanhavam a coluna brasileira da “Retirada da Laguna”. Mesmo exaustas, magérrimas como cadáveres com crianças de colo, mendigavam alimentos.
Na Rendição de Angostura, a 30/12/1868, muitas mulheres foram violadas.
Após o Conde D´Eu ter transferido o Quartel General para Piraju, foram enviadas de trem centenas de mulheres e crianças esfomeadas como “cadáveres ambulantes” e que também foram vítimas de abusos sexuais para Assunção.
Crianças, jovens e idosos
No decorrer da guerra, como houveram muitas perdas, Solano López, permitiu o engajamento de crianças, para cobrir nas inúmeras batalhas, com 14 ou 15 anos de idade ou até mais jovens, as vezes disfarçados de adultos com barbas postiças, assim como após sua fuga, com Assunção ocupada com exército improvisado com muitos garotos e idosos.
Na narrativa de várias batalhas há referências a idosos em seus combates.
Como observou Taunay na Batalha de Peribebuy: “Quantas crianças de dez anos e menos ainda, morta quer de bala, quer lanceada”.
Doenças
Em decorrência da má alimentação e péssimas condições de higiene nos acampamentos de um modo geral, ocorreram diarreias levando a óbito muitos soldados, tanto no campo de batalha como nos hospitais.
Por ocasião da “Tomada de Corumbá”, a varíola tinha feito dezenas de vítimas e os soldados levaram para Cuiabá a doença, causando a morte de cinco mil habitantes.
A epidemia de cólera matou até fins de 1867, quatro mil soldados brasileiros.
Para o Paraguai em um balanço geral da guerra, foi perdida 70% da população, sendo 99% da masculina.
Final
Para castigar seus oponentes Solano López os acusava de corrupção, sejam soldados aliados ou mesmo membros de sua família, como ocorreu com seus irmãos e sua mãe, envolvidos numa suposta tentativa de assassiná-lo com doce envenenado. Venâncio López, seu irmão, confessou sob tortura, este foi açoitado diariamente, nu com o corpo coberto de feridas, arrastado pelo chão.
Sua irmã, Rafaela López, sob pressão declarou culpada, mas não acusou sua mãe. “Rafaela pegou uma brasa na fogueira, e colocou na boca, para queimar a própria língua e não falar”, foi então muito castigada como a sua mãe que foi “presa e pressionada a confessar, sendo agredida com pancadas de sabre, por duas vezes e por outros castigos”. “Nessas condições que Juana Carrillo López e suas filhas Inocência e Rafaela foram encontradas e salvas pelo Exército brasileiro, em 1º de março de 1870.
Carlos López em 1862, fez seu primeiro testamento público, designando Angel Benigno López, um dos seus cinco filhos, para assumir o cargo de vice-presidente, até então inexistente. Culturalmente superior, possuía ideias mais liberais que inspiravam desconfiança em seu irmão mais velho, que era ministro da Guerra e da Marinha, Francisco Solano López. Este soube que seu pai estava muito doente, fez alterar o testamento nomeando-o para este cargo.
Após a morte de seu pai assumiu o poder, mesmo com questionamento do Congresso. Os dissidentes foram presos sob a acusação de conspirar contra o Estado.
Seu irmão, Benigno López, com ideias liberais, entre outros motivos, “foi confinado no interior do país”, nesse período a igreja católica paraguaia foi nacionalizada, obedecendo ao Estado antes do Vaticano.
Novamente, Benigno López, foi acusado de conspiração e levado para San Fernando, proibido de receber visitas ou conversar com qualquer pessoa, à exceção de seu ajudante de ordens, novamente foi interrogado por um ajudante de Solano López e esse afirmou que Benigno planejava assassinar seu irmão, com ajuda de outras pessoas envolvidas. Tudo isso era uma farsa, mas o tribunal foi instalado, não tinham advogados e nem puderam defender-se. “López marcava com um “x”, a lápis, o nome dos acusados que deveriam ser mortos.” A 21 de dezembro de 1868, Angel Benigno López, foi fuzilado pelas costas, com mais outros prisioneiros.
A 28 de dezembro, Solano López marchou rumo leste, para a Serra de Maracaju. Nos primeiros meses de 1870 ele fora para o sul de Mato Grosso em direção a Ponta Porã, porém desviou para Chiriguelo e instalou-se em Cerro Corá.
Com a entrada da cavalaria e infantaria brasileira a 1º de março de 1870, houve luta com os soldados paraguaios, este tentou fugir, porém chamava atenção por ser gordo, pois o restante era um exército de esqueletos, “foi ferido mortalmente por um golpe de lança, dado pelo cabo Francisco Lacerda, conhecido como Chico Diabo”, “caindo com os pés dentro d´água do arroio Aquidaban, e quando um soldado foi tirar a espada, o mesmo caiu na água quase se afogando, um outro soldado disparou por trás do general Câmara um tiro que o mata”. Este general havia intimado a render-se, o que foi negado.
Madame Elisa Alicia Lynch, após ter recorrido haver suas terras, as quais ela supostamente tinha direito, pois perdeu conforme decretos do Governo Provisório, entre outras formas legais. Foi para Buenos Aires, depois para a Europa e morreu em Paris em 1886 sendo seu enterro pago pela prefeitura.
Solano López havia pedido para o cirurgião-mor do Exército paraguaio, entregar a ela 200 mil libras esterlinas, o que não fez, agravando seu estado de miséria.
A duração de mais de cinco anos da guerra foi um desgaste para o Governo Imperial.
Fonte: Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai. Francisco Fernando Monteoliva Doratioto. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
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MULHERES
No governo de Solano López foi dado um tratamento diferenciado às mulheres, organizando em quatro categorias: agraciadas, traidoras, destinadas, residentas e sargentas.
– “Agraciadas: esposas ou mulheres com relação de parentesco com os amigos leais.”
– “Traidoras: casadas, irmãs, filhas, mãe, primas de réus políticos ou condenados, “punidas” pelos crimes da família.”
– “Destinadas: aquelas consideradas traidoras, foram condenadas à morte sumariamente ou enviadas para campos de concentração, para lugares longínquos.”
– “Residentas: da população civil e o que restava de sua família, os velhos e os filhos pequenos, capazes de exercer alguma tarefa e, desde 1868 por decreto, foram obrigadas a seguir as tropas em sua movimentação até o fim do conflito,1870.”
– “Sargentas: as que acompanhavam maridos, filhos e pais do exército de López, um regimento que também vigiavam as prisioneiras, muitas se engajaram aptas para carregarem um fuzil, porque morriam muitos soldados.”
Fonte: Memórias da Grande Guerra. Valmir Batista Corrêa & Lúcia Salsa Corrêa (organizadores). Campo Grande, Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, 2018.
Autor: Ângela Antonieta Athanázio Laurino