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11/03/2021

Antonio de Albuquerque - Um homem em comunhão com o verde.

Antonio de Albuquerque.

Um homem em comunhão com o verde.

 

Os dados, retirados do censo do entorno, do IBGE, mostram sempre o percentual de casas urbanas com uma árvore por perto ou dentro imóvel. Os mesmos dados revelam que Campo Grande, em Mato Grosso do Sul é a capital mais arborizada do Brasil, com 96,3% das casas com a sombra de um arvoredo, Isto significa que de cada 100 domicílios, 96 deles têm a sombra de uma árvore.

Outra característica da arborização de Campo Grande é a enorme quantidade de árvores frutíferas plantadas em calçadas, palmeiras e outras espécies que atraem inúmeros pássaros, que fazem a alegria dos campo-grandenses e dos turistas.

Campo Grande é bem servida de áreas verdes: O Parque das Nações Indígenas, do Sóter, do Prosa, Anhanduí,  Horto Florestal, entre outras. Suas avenidas são pródigas com espécies, algumas quase centenárias.

Quem começou esta façanha? Quando? Talvez seja mais correto afirmar que o encontro de pessoas certas na hora certa fez do povo da Cidade Morena herdeiro de tão significativo legado.

No dia 11 de outubro de 1912, portanto há um século, o então intendente, José Santiago, reservou para a vila de Campo Grande uma área, a princípio, destinada ao Matadouro Municipal, nas margens do córrego Segredo, já pensando em ordenamento urbano.

Quando intendente (assumiu em 1921), Arlindo de Andrade Gomes (1884-1975) começou a plantar mudas na Avenida Afonso Pena e ele próprio as regava. Em 1922, para comemorar o centenário da Independência do Brasil, plantou no Jardim Público (atual Praça Ari Coelho) duas mudas de jequitibá; uma delas sombreia até o presente a área de recreação infantil. Tinha como seu grande aliado no plantio e cuidados com a arborização pública o ferroviário e professor João Mamede de Aquino, que chegou a ir a Belo Horizonte (MG) buscar mudas e plantá-las na Avenida Afonso Pena.

Em 11 de janeiro de 1923, Dr. Arnaldo Estêvão de Figueiredo, presidente da Câmara de Vereadores, propõe a criação do Parque Municipal de Campo Grande, na grande área de seis hectares de mata preservada, incluindo a ocupada pelo antigo matadouro municipal. A proposta foi transformada em lei, sancionada pelo então intendente, dr. Arlindo de Andrade Gomes.

No governo do dr. Marcílio Oliveira Lima (1955 a 1959) o Parque Municipal foi transformado em Horto Florestal, descrito desta forma do “Anuário Matogrossense”, de 1957: “Horto Municipal é uma Seção dentro da Prefeitura Municipal, que tem a finalidade de fomentar a agricultura. É dirigida e orientada pelo Sr. Antonio de Albuquerque, pessoa de elevada confiança do Dr. Marcílio e com largos conhecimentos em seu ‘metier’.

Durante o ano de 1955, foram fornecidas 8.971 mudas para a Seção de Fomento Agrícola, tais casos como: Café Bourbon, cupressa nusitária, palmeira pindó, casuarina escripta, palmeira araucária brasileira, tuia compacta, pau Brasil, resedá, tuia orientalis, cajuieiro, citizeiros, jacarandá mimoso, murta, cassa grande, palmeira elegante e mais uma infinidade de mudas”.

O mesmo Anuário ainda cita o canteiro de rosas e crisálidas mantido pelo Sr. Antônio de Albuquerque nas dependências do Horto Florestal.

Mas quem foi o homem que tanto se dedicou a preservação do verde e foi um dos responsáveis pela arborização da nossa Capital?

O pernambucano Antônio de Albuquerque nasceu em 19 de março de 1884,  filho de Manuel de Albuquerque e Balbina Laiz de Albuquerque. Saiu ainda muito jovem com o propósito de estudar na Academia Militar de Cantagalo (RJ). Aventureiro, fugiu da escola e veio para o então estado de Mato Grosso tentar a sorte.

Estabelecendo-se por aqui, casou-se com Júlia Lemes de Albuquerque com que teve dez filhos: Sílvio (Caburé), Newton, Elza, Eleozina, Antônio (Tonico), Jurema, Mário, Iracema, Álvaro, Rui e Zoroastro (este último filho de criação). Permanecem vivos: Eleozina, em Campo Grande (MS); Jurema,  na capital de São Paulo; e Antônio (Tonico), em Rezende (RJ).

Criou literalmente raízes nessa terra. Sua paixão por plantas foi responsável pela arborização das principais avenidas e praças de Campo Grande. Manteve o viveiro de mudas do Horto Florestal sempre ativo, fornecendo mudas para outras cidades e até mesmo para a capital do estado, Cuiabá. Colhia sementes das árvores já existentes, fazia novas mudas e replantava, criando um ciclo de plantas e mudas que resultou nesta abundancia de verde que hoje temos na cidade.

Como funcionário da Prefeitura Municipal, fez do Horto Florestal um repositório das mais diversas espécies da flora brasileira; criou ainda um grande roseiral na Praça Ari Coelho no governo do dr. Marcílio de Oliveira Lima, quando da inauguração da fonte luminosa; e cuidou das grandes árvores plantadas na Praça da República (Rádio Clube).

Antônio de Albuquerque vivia numa pequena chácara na então Rua Cândido Mariano, onde cultivava espécies frutíferas e rosas. No trabalho ou em casa sempre estava cercado de plantas. Entretanto tinha também uma preocupação especial pela educação. Participou, com um grupo de amigos, da fundação da escola 26 de Agosto, atualmente mantida pelo governo do Estado e pela Seleta Sociedade Caritativa e Humanitária. Seu Antônio foi também venerável da Loja Maçônica da Avenida Calógeras e um dos idealizadores da Santa Casa de Campo Grande.

Mesmo com o peso dos anos, continuou cuidando das plantas e de um apiário, cuja produção era doada a associações filantrópicas e amigos. “Seo” Nico, como era carinhosamente chamado pelos familiares e amigos, faleceu aos 78 anos, em 10 de dezembro de 1962.

Dessa vida rica em realizações legou aos filhos, netos e à cidade que adotou como sua o orgulho de verem o nome do paisagista pernambucano no local onde ainda se preservam espécies ameaçadas de extinção e outras, grandes, cascudas, que guardam a memória da cidade que hoje desfruta de sua sombra.

Autor: Maria Madalena Dib Mereb Greco

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