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30/05/2022

São Sebastião - festa e fé

Conta-se que no século IV da era cristã Roma venceu uma grave epidemia por intercessão de São Sebastião. Comemorado no dia 20 de janeiro, o santo padroeiro contra a peste, a fome e a guerra tem sido muito lembrado nos dias atuais reforçando uma devoção que se expressa em celebrações tradicionais como as de Aparecida do Taboado e Campo Grande. Nesta página, um pouco dessas festas registradas na publicação “Manifestações Culturais e Religiosas de MS”.

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TRADIÇÃO

São Sebastião: festa e fé

Do livro “Manifestações culturais e religiosas de MS”*

 

Contra a peste, a fome e a guerra

Sebastião nasceu na França, no ano 256 d.C. Bem jovem mudou-se para a cidade de sua mãe: Milão, na Itália. Entrou para o exército e assumiu o comando da guarda do imperador. Convertido ao cristianismo e aproveitando de sua patente militar visitava cristãos presos que seriam levados ao Coliseu para serem devorados pelos leões ou mortos em lutas com gladiadores. A eles dirigia palavras de esperança e consolo até o dia em que foi denunciado ao imperador Dioclesiano. Perseguidor de cristãos, o soberano tentou fazer com que Sebastião renunciasse à sua fé. Diante da recusa condenou-o à morte. Amarrado em uma árvore e alvejado por flechas foi tido como morto. Conseguiu se recuperar sob os cuidados de um grupo de mulheres cristãs que o resgataram. Restabelecido, continuou a evangelizar e apresentou-se ao imperador pedindo para que interrompesse a perseguição aos cristãos. Foi o que bastou para que Dioclesiano ordenasse que o açoitassem até a morte e jogassem seu corpo no esgoto público de Roma para que não fosse venerado como mártir. No entanto, novamente seu corpo foi resgatado por uma mulher a quem em sonho pediu que o sepultassem próximo às catacumbas dos apóstolos. Era o ano 287 d.C.

No século IV, sob as ordens do imperador Constantino, que havia se convertido ao cristianismo, uma basílica foi construída em sua homenagem. Conta a tradição que, na época, uma grave epidemia alastrava-se por Roma e que só foi controlada após o traslado das relíquias de São Sebastião. A partir daí, o mártir cristão passou a ser venerado como padroeiro contra a peste, a fome e a guerra.

20 de janeiro é a data em que se comemora este santo cuja devoção se espalha por muitas comunidades de Mato Grosso do Sul. A seguir, duas tradicionais festas registradas pela publicação “Manifestações Culturais e Religiosas de MS”, conforme textos reproduzidos nesta página.

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São Sebastião em Aparecida do Taboado

Um dos orgulhos do povo de Aparecida do Taboado é viver na cidade onde nasce o Rio Paraná, que em tupi-guarani se traduz por “parecido com o mar”. Com suas praias de água doce, o Paraná alimenta as paisagens e os costumes da cidade que foi rota obrigatória de gado no antigo Estado de Mato Grosso. O porto de Taboado se tornou um próspero município de Mato Grosso do Sul, na divisa de São Paulo e Minas Gerais.

Lugar de terra fértil e agropecuária forte, Aparecida do Taboado realiza todos os anos uma festa que envolve a cidade e a região. A tradição que nasceu nas fazendas de Aparecida do Taboado se repete todo dia 19 de janeiro. Mas agora, a festa de São Sebastião é realizada em um centro comunitário na zona rural, a nove quilômetros da cidade, uma das mudanças que os anos trouxeram. [...]

Em Aparecida do Taboado, a fé de um devoto, aflito pela saúde do filho, manteve viva a tradição da festa de São Sebastião, que já acontece há mais de treze décadas. O fazendeiro prometeu que todo dia 19 de janeiro daria alimentos às pessoas da região. História lembrada de geração em geração. Assim, todo ano os pecuaristas colocam seus nomes à disposição para, através de um sorteio, definir o próximo festeiro.

Os preparativos para receber e alimentar cerca de quatro mil pessoas exigem muito trabalho. Tudo feito com carinho para homenagear o santo, que se tornou padroeiro dos pecuaristas e dos fazendeiros.

Almôndegas, lombo recheado, frango com macarrão, ensopado de mandioca, farofa, arroz, feijão. A lista de opções de doces também é farta.

A chegada da bandeira anuncia que a festa vai começar. Depois do hasteamento acontece o terço cantado, tradicional da região. Depois do leilão das prendas vivas é sorteado o festeiro do próximo ano. Além do festeiro também são sorteados quatro procuradores. Eles terão a missão de arrecadar as prendas da próxima festa entre os moradores da região. É escolhido ainda o responsável pela confecção da nova bandeira.

Outro membro da organização, que é fundamental para o sucesso da festa, trabalha para que, um ano depois, uma bela fogueira seja acesa depois do terço, esquentando o forró que se estende madrugada afora.

 

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São Sebastião em Campo Grande

Quando o mineiro José Antônio Pereira colocou os olhos sobre essas paisagens ficou admirado com a fertilidade do solo, as boas pastagens e a generosa oferta de água. O povoado de terra avermelhada era de extensas áreas verdes, chácaras e fazendas, que cercavam as poucas moradias da época. Foi em um cenário ainda bastante rural que, quase seis décadas depois, um fazendeiro deu início a uma festa que se tornou tradicional na região. Seu nome era José Roberto Mendes. Na época, uma grande peste assolou o gado da região e ele, com medo de perder seu rebanho, fez uma promessa a São Sebastião, já que era tão devoto dele: se seu gado não fosse atingido por essa epidemia, ele construiria uma capela em honra de São Sebastião. Seu pedido foi atendido e a promessa cumprida.

A capela de São Sebastião, erguida no bairro Monte Carlo, é uma das poucas recordações que ainda permanecem entre as tantas mudanças que aconteceram, na região. Onde hoje se veem prédios havia uma paisagem bem diferente. Campo Grande mudou muito. E os marcos da história de fé dessa comunidade foram mudando junto com a cidade. [...]

Campo Grande se tornou capital de Mato Grosso do Sul. Mas na cidade grande a devoção a São Sebastião continuou atraindo milhares de fiéis. Em homenagem ao santo, chacareiros, fazendeiros e gente que lida com gado e com a roça frequentam a novena e prestigiam a programação cultural, sempre muito intensa e diversificada. E que evoluiu com o passar dos anos.

As festividades são abertas em uma alvorada, seguida pela missa e pelo terço dos homens.

A festa exige organização e muito trabalho dos fiéis, que se dividem em dois grupos: um irá cuidar da parte religiosa e o outro da parte cultural. Cada grupo é coordenado por um casal e todos os paroquianos se envolvem nos preparativos.

Cabe ao casal religioso organizar as novenas, a santa missa, a lista de convidados. O casal social prepara as festas. Serão dez dias e noites de celebrações religiosas e culturais, que são temáticas e enaltecem os povos que ajudaram a formar a cidade. Eles ofertam flores e carregam bandeiras lembrando os países de origem das colônias.

Há barracas para alimentar a multidão que sempre prestigia a festa de São Sebastião. Tem carreatas pelas ruas da cidade e até mesmo uma cavalgada. Durante a carreata, a imagem do santo é levada pelo Corpo de Bombeiros. No percurso pelas ruas da cidade, vai chamando a atenção das pessoas. A cavalgada é outro momento marcante de fé. A distância de 17 quilômetros entre a igreja de São Sebastião e o Clube do Laço é vencida por jovens, idosos e crianças em suas montarias. A imagem do santo segue na carroça e os fogos chamam a atenção por onde a caravana passa. Na chegada ao Clube do Laço a imagem do santo é retirada e é rezada a missa. Depois, os festejos com churrasco, leilão e música atraem muita gente.

São momentos que renovam a fé da comunidade. Será assim do dia 11 ao dia 19, quando acontecem as novenas. Carregada em um carrinho, a imagem de São Sebastião entra na igreja. Sobre os fiéis é lançada uma chuva de papéis e a música enche de alegria o local e as pessoas.

Cada missa é temática. Há benção aos devotos, às águas, às crianças, aos jovens e aos militares. Os trabalhadores, os enfermos e as famílias também são lembradas e cada grupo recebe as bençãos na santa missa. E no dia 20, o dia de São Sebastião, haverá fogos e a grande missa.

As celebrações dos campo-grandenses em torno de São Sebastião se tornaram tradição na capital. Festejos que igualam os homens pela fé. E é em nome desse sentimento que, todos os anos, paroquianos e devotos dedicam parte de seu tempo para prosseguir com uma das mais antigas manifestações de fé do povo sul-mato-grossense.

 

* Imagens e textos do livro “Manifestações culturais e religiosas de MS” publicado pela Fundação de Cultura de MS. Argumento: Américo Calheiros; textos/roteiros: Denise Dal Farra; pesquisa/produção/direção: Lu Tanno; ilustrações: Priscilla Pessoa; fotografias: Fumaça, Gabriel Santos e Marcelo Alves Sheriffe.

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Imagens: Reprodução

 

 

Unidos pela fé, devotos de Campo Grande e Aparecida do Taboado comemoram São Sebastião em rituais religiosos e encontros festivos. Tradições centenárias passadas de geração em geração.

Autor: Américo Calheiros

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