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12/07/2023

Cabeza de Vaca - o fidalgo das Américas

MÚSICA

 

Cabeza de Vaca: o fidalgo das Américas

Do álbum musical “Cabeza de Vaca: Andarilho das Américas”*

 

 

Figura lendária, que pelas terras do atual Mato Grosso do Sul andou nos idos do século XVI, Cabeza de Vaca é tema do mais recente trabalho do músico Moacir Lacerda. Foram aproximadamente cinco anos desde a idealização até a concretização da obra e o resultado é uma coletânea que faz juz à fascinante história do “adelantado” espanhol Dom Álvar Nuñez.

Ao todo são 22 composições em parceria com expressivos nomes da música e da literatura regional. Nesta página, um pouco do personagem que inspirou as criações, letras de algumas faixas e outros dados do álbum musical “Cabeza de Vaca – Andarilho das Américas”

 

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Venturas e desventuras de Cabeza de Vaca

Mário Sérgio Lorenzetto*

 

A origem do nome

O nome Cabeza de Vaca causa estupefação ou sorrisos, aparenta ser um apelido jocoso. Reações equivocadas. Em verdade, Cabeza de Vaca tem sua origem em um ato heroico, beirando o miraculoso. Em 1.212, os espanhóis estavam dando início à sua Cruzada, tentariam expulsar os mulçumanos da Península Ibérica na batalha de Navas de Tolosa. O exército árabe dos almorávidas estava em vantagem frente ao dos cristãos. Tinham se postado em uma região inacessível. Os espanhóis foram salvos por um pastor, denominado Martim Halaja, que lhes mostrou um caminho seguro, usando como indicador para as tropas uma “cabeça de vaca”. O rei espanhol, após a vitória, concedeu ao pastor um título nobiliárquico, ele, passaria a ser conhecido como “Don Martin Halaja, o Cabeça de Vaca”. Vem dessa família o personagem mais importante para os primeiros passos destas terras se converterem no atual Mato Grosso do Sul. Dom Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, descendente daquele pastor que virou nobre, foi o primeiro europeu a pisar nesta parte do Brasil.

 

Caminhos do pioneiro

É difícil entender os motivos pelos quais Cabeza de Vaca seja pouco conhecido no MS. Além de ter percorrido boa parte do nosso Pantanal, foi uma figura edificante. Um dos maiores aventureiros de seu tempo, carrega outros primeiros lugares em sua história. Foi o único a escrever dois livros narrando suas poucas venturas e muitas desventuras. Também foi o primeiro europeu a chegar na Flórida e caminhar em toda a larga extensão de todos os Estados que fazem fronteira com o México até o Texas, Estado onde é idolatrado. Da Flórida até o México, Cabeza de Vaca saiu da situação de escravo dos indígenas para a de um deus curandeiro, e passou a ser seguido por uma multidão de milhares de povos autóctones. Um de seus acompanhantes, um jovem de nome Estavanico, foi o primeiro negro a chegar nas terras norte-americanas. Muito mais importante, Cabeza de Vaca dá início à primeira tentativa dos conquistadores espanhóis deixarem de escravizar indígenas. Propõe e consegue, por algum tempo, que passem a negociar alimentos e vestimentas, em troca de instrumentos de ferro, como facas e machados. Cabeza de Vaca é vulto de imensa importância em uma proto-história dos direitos humanos. É o primeiro europeu a defender os indígenas.

 

Nem só de glórias

Por outro lado, esse espanhol singular, também merece o título de “navegante mais azarado da história”. Ninguém sofreu como Cabeza de Vaca tantos naufrágios. Conseguiu sobreviver, em uma época que europeu algum sabia nadar, a quatro naufrágios, a quatro tempestades. Seu primeiro livro, aliás, leva esse título desditoso: “Naufrágios”, que se converterá na primeira inspiração de “A Tempestade” uma das peças de Shakespeare.

É com imenso temor do mar que Cabeza de Vaca resolve caminhar desde Santa Catarina a Assunção, no Paraguai. Leva um balde de ferro para realizar trocas com os indígenas desse imenso território. É uma viagem coberta pela fome e dificuldades com os indígenas. Cabeza de Vaca, nesse caminho, descobre as hoje famosíssimas Sete Quedas.

Em Assunção, com imenso esforço, consegue debelar a exploração que os poucos espanhóis que lá viviam – fugidos da região onde hoje é a Buenos Aires, Argentina – exerciam sobre os indígenas. Mas só consegue pacificar esses espanhóis com a promessa de descobrir o caminho das minas de prata de Potosi, na Bolívia. É com esse espírito que Cabeza de Vaca chega em algum lugar – impossível de ser identificado – entre as cidades sul-mato-grossenses de Porto Murtinho e Corumbá. Cabeza de Vaca e sua tropa percorre e nos apresenta, no seu segundo livro intitulado “Comentários”, uma série de povos que viviam no nosso Pantanal. É um dos mais belos trabalhos etno e geográfico. Pela primeira vez, os europeus liam descrições de como viviam povos pantaneiros desconhecidos e como eram suas terras. Todavia, Cabeza de Vaca não encontrou o caminho da prata inca. Os antigos moradores de Assunção se rebelaram, prendendo-o e enviando-o de volta à Espanha.

 

* Texto de apresentação do álbum musical “Cabeza de Vaca: Andarilho das Américas”. Título e intertítulos acrescentados na edição desta página.

** Imagens: https://lavozdelmuro.net/la-increible-historia-de-cabeza-de-vaca-el-conquistador-olvidado/ (acesso em 30/06/2023)

 

Fotos: Reprodução
 

 

Nas imagens, Cabeza de Vaca (1488/1492-1558/1560) em três versões – fidalgo (ilustração), conquistador (estátua) e herói (estampa filatélica). Nas demais, desenhos com representações de cenas da América pré-colonial.
 


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Tributo a um pioneiro

 

Com quatro dezenas de convidados, expressivos nomes da música e literatura regional, Moacir Lacerda produziu os CDs do álbum musical “Cabeza de Vaca: Andarilho das Américas” – verdadeiro tributo ao explorador espanhol que primeiro pisou nas terras do Pantanal ao qual chamou de Mar de Xarayes. São eles: Grupo Acaba, Etnias Indígenas, Alvani Calheiros, Ana Lucia Gaborim, Anderson Rocha, Antonio Luiz Porfírio, Aurélio Miranda, Beko Santanegra, Carlos Batera, Carlos Vera, Cláudia Finotti, Douglas Santos, Fábio Kaida, Gabriel Andrade, Gilson Espíndola, Jô Oliveira, Josiberto Lima, Luciana Fisher, Luiz Alberto Sayd, Marcelo Fernandes, Marcelo Loureiro, Marco Antonio Cartens, Marcos Assunção, Marcos Roker, Mário Sérgio Lorenzetto, Pedro Ortale, Raquel Naveira, Renato Oliveira, Rodrigo Teixeira, Rogério Zanetti, Sandro Moreno, Tetê Espíndola, Tião César, Vandir Barreto, Vera Gasparotto, Zezé Geral e Zezé Mauro. In Memorian: Alcestre de Castro, Chico Lacerda e Mestre Galvão. A seguir, duas composições do álbum.

 

CABEZA DE VACA (Moacir Lacerda)
 Alvar Nuñez Cabeza de Vaca / De Xerez de la Fronteira / Conquistador de hemisfério / Andarilho, curandeiro / Escritor, governador / Província do Rio da Prata / Percorreu o Novo Mundo / Com seus homens e cavalos. // Singrou por rios e mares / Ultrapassou cordilheiras / Laguna de los Xarayes / Muito além das Três Fronteiras / Vencendo guerras, naufrágios / Peregrino das Américas / Paz e cura com os nativos / Brilho dourado nos olhos. // Grande herói americano / Chamado Filho do Sol / Descobriu as novas terras / Não riqueza da Serra da Prata / Homem de linhagem nobre / Vencido nos tribunais / Deixou aqui suas marcas / Nas florestas, nos desertos / Nos campos e pantanais / Dos tempos coloniais.

 

A ESQUADRA (Raquel Naveira, Luiz Porfírio e Moacir Lacerda)

Deus e Mamom / Trabalharam lado a lado / A esquadra partiu / Para o Novo Mundo. // De um lado, a catequese; / De outro, a tese de aumentar / As rendas, a honra, o poder espanhol. // Cabeza de Vaca, / Escrivão da Marinha / Relata: / “O tempo era de mau agouro, / Nem prata, Nem ouro, / A própria vida Virou tesouro.” // Quatro sobreviventes: Três brancos e um mouro, / Na terra inóspita / Aos invasores. / A história se agiganta: Lutas e dores / Alvar Nuñez Cabeza de Vaca. / Alvar Nuñez Cabeza de Vaca.

 

PARA ADQUIRIR Álbum Cabeza de Vaca (2 CDs - 22 músicas): Moacir Lacerda (67) 99888-8168 - Pix CPF 051.426.521-34 - Valor: R$ 100,00 (taxa de entrega inclusa).

 

Fotos: Reprodução

 

Capa e CDs do álbum musical “Cabeza de Vaca - Andarilho das Américas” e assinatura de Dom Álvar Nuñez.
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O artista e suas obras

 

Engenheiro civil e administrador de empresas, o músico Moacir Lacerda reúne em seu currículo cultural uma profícua produção. Fundador do Grupo Acaba - Canta-Dores do Pantanal e da Ocip Memória do Pantantal - Casa de Cultura, atualmente é membro do Instituto Histórico e Geográfico de MS e da União Brasileira de Escritores. Entre as produções de sua autoria e/ou com sua participação, destacam-se: Show Prata da Casa (1979); Disco LP Grupo Acaba (1985); Box com 3 CDs - Mato Grosso do Som (1992); CD - Grupo Acaba - 30 anos de música, pesquisa e cultura (1995); CD Cururu do Pantanal sul-mato-grossense (2002); CD Catira da família Malaquias de Camapuã e CD Bandeira do Divino Espírito Santo de Coxim (2003); CD Grupo Acaba - Pantanal, Coração da América (2009); Box com 4 CDs, Grupo Acaba - 50 anos - Pantanal: Nascentes, Rios e Vertentes, Show de Lançamento da Antologia Grupo Acaba - 50 anos & Amigos (2016); Documentário Grupo Acaba 50 anos (2016/2018); Antologia Musical e Literária com 6 CDs - A Chama da Paz na América do Sul (2022). Neste ano, além do Álbum Musical Cabeza de Vaca – Andarilho das Américas, lançou o livro infantil Vapor Fernandes Vieira – Fernandão, em co-autoria com a professora Mara Calvis. Em pauta, um novo livro ilustrado: Pássaro Branco e o DVD do Show dos 50 Anos do Grupo Acaba & Amigos - Pantanal.

 

Inspiração vem do berço

Na base da produção cultural de Moacir estão as lembranças da infância e adolescência no Pantanal. Filho de seu Lacerda e dona Norina, ribeirinhos pantaneiros, nasceu na cheia de 1951 em Porto Esperança-MS, então ponto final da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB). Ao todo eram quatorze irmãos que conviviam em harmonia com as cheias cíclicas do Pantanal. Com o irmão Chico Lacerda (falecido em 2022) deu início ao Grupo Acaba - Canta-Dores do Pantanal “um grupo ligado às raízes de coragem, pioneirismo do povo que ajudou a construir este grande Estado, cujas canções refletem o suor, o sol, o sonho do boiadeiro, do camponês, da gente rude do sertão. Como disse Guimarães Rosa: O sertão está em toda parte. Em Mato Grosso do Sul, ele está no ritmo, nas letras, na fisionomia dos homens do Acaba”, conforme registrou Maria da Glória Sá Rosa no livro “A Música de MS: histórias de vida”, baseada em entrevistas concedidas por Moacir Lacerda em 2005/2008.

 

* Moacir Saturnino de Lacerda é engenheiro, administrador, compositor, produtor e pesquisador cultural, fundador do Grupo ACABA - Canta-Dores do Pantanal. Associado efetivo do IHGMS, cadeira 38 (patrono: José Octávio Guizzo).

 

Fotos: Arquivo Moacir Lacerda

 

 

Moacir Lacerda  e Grupo Acaba às margens do rio Paraguai e em excursão na Argentina.

 

Autor: Mário Sérgio Lorenzetto e Moacir Lacerda

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