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23/09/2020

Quebracho - a árvore dos mil usos.

Quebracho – a árvore de mil usos.

 

 

 

            A árvore que leva este nome  também é chamada debraúna, baraúna, braúna-parda, braúna-do-sertão (Nordeste); chamacoco, chamucoco (Pantanal Matogossense). O nome popular “quebracho” é empregado apenas no Pantanal e cujo nome cientifico é  Schinopsis brasiliensis da família da Anacardiaceae.            o nome popular “quebracho” deriva das palavras em espanhol “quebra acha” com o significado em português de “quebra machado” em alusão à dureza de sua madeira que é capaz de quebrar o machado

            Amplamente utilizada pelos nativos nas terras onde incidiam foi de particular auxilio durante a guerra da Tríplice aliança pelas suas qualidades terapêuticas na produção do tanino. As aplicações de drogas com taninos estão relacionadas, principalmente, com suas propriedades adstringentes. Por via interna exercem efeito antidiarréico e anti-séptico; por via externa impermeabilizam as camadas mais expostas da pele e mucosas, protegendo assim as camadas subjacentes. Ao precipitar proteínas, os taninos propiciam um efeito antimicrobiano e antifúngico. Ademais, os taninos são hemostáticos e, como precipitam alcalóides, pode servir de antídoto em casos de intoxicações. Em processos de cura de feridas, queimaduras e inflamações, os taninos auxiliam formando uma camada protetora (complexo tanino-proteína e/ou polissacarídeo) sobre tecidos epiteliais lesionados, podendo, logo abaixo dessa camada, o processo curativo ocorrer naturalmente.

            Ademais, sua madeira  de excelente qualidade, na verdade a mais pesada de todas, com densidade de 1,23 g/cm3, muito dura, densa, de cor vermelho-castanha, de grande resistência mecânica e praticamente imputrescível. É indicada para uso externo em substituição à “aroeira” para confecção de moirões, postes, vigamento de pontes e pé-direito de construções. É freqüentemente confundida e comercializada como “aroeira” foi muito empregada na construção civil, carpintaria, obras de torno, etc

            No jornal “ A Luta Matogrossense” do dia 27 de outubro de 1967 uma matéria intitulada “ Quebracho Brasil S/A lidera a produção do Tanino”  cujo autor, Dulio Costa faz uma retrospectiva da extração do quebracho na região de Porto Murtinho (MS). Por tratar de uma publicação de página inteira, transcreveremos os principais trechos que denotam a importância desta árvore para a economia do sul de Mato Grosso durante décadas:

 “ A quebracho S.A, é uma das maiores organizações industriais no fabrico do extrato de quebracho do continente sul americano, formando com a Florestal Brasileira S.A. as duas únicas indústrias do ramo existente no país, a força econômica de maior expressão do tradicional e progressista município de Porto Murtinho”.

            Ainda no seu artigo faz uma breve retrospectiva sobre o inicio da industrialização do quebracho na região: “ O começo da indústria do quebracho deve ser atribuído a iniciativa de alemães. Foram os irmãos Hartneck, naturais de Primasens, que primeiro fizeram experiências, em 1880, com grande resultado para fabricar o extrato da planta”.

            Pouco a pouco se fundaram uma série de companhias que se ocupavam com a fabricação de extrato e com a exportação da madeira. A maior delas, a Florestal Land, Timber af Railways Company, originaria da firma Harteneck & Co. e Portalis & Co. A principio apenas com capital alemão.

Com dificuldades em obter mais capital para expansão na Alemanha, a Inglaterra passa a ser a maior provedora de capital. Sediados em Londres, os investidores ingleses passaram a controlar a produção do extrato e da madeira de quebracho.

            Durante a Segunda Guerra Mundial, a Inglaterra era detentora de 90% de toda produção e utilizando-se desta força econômica produziu um cartel que controlava os preços no mercado mundial. Outro fator determinante para a retirada dos alemães do mercado foi o caráter político adotado pelo governo brasileiro no período, em relação aos alemães. Demitidos os diretores e empregados germânicos, a Inglaterra passa a ter o controle absoluto da produção.

            O autor continua sua matéria: “ Como nós vimos, o quebracho, dada a sua quantidade, é atualmente o mais importante material para curtir (couro) no mercado  mundial, razão pela qual o capital inglês não mais deixará o controle dessa matéria prima”

            “Já está de posse  das indústrias alemãs Renner, Hamburgo e Irmãos Miller-Benrath. A anglicanização da indústria do quebracho é grave, porque, na maioria das demais fontes transatlânticas, também preponderam à influência inglesa. Estão nesse caso as indústrias Mimosa e Mirobàlano, assim como as de Mangrove e Valonea”.

            “Os norte-americanos com a fundação da Central Products Co., no Paraguai exportam exclusivamente para a América do Norte e já procuram tornar-se independentes dos ingleses

            Continua ainda o autor: “ A exploração das florestas de quebracho representa um roubo sossegadamente  cometido. Na cultivação e replantio ninguém pensa, em todo caso, foram feitos a esse respeito frágeis ensaios, mas sempre deram resultados negativos.

            As reservas atualmente existente são avaliadas em 30 a 40 anos. Mas, não precisamos olhar o futuro receosamente. Até lá, o progresso da ciência e da técnica inventarão meio de fabricar materiais de curtir, naturais ou artificiais, que substituirão o quebracho”.

            O jornalista, poeta, escritor e também administrador da Extrato de Quebracho Nacional, detentora da marca “Onça”,  estabelecida no município de Porto Murtinho., às margens do Rio Paraguai, dentro do grande pantanal e na Lagoa dos Xaraias, destaca que a empresa foi instalada pelo grupo alemão Samuhu, da província do Chaco da República Argentina, tendo como presidente o alemão Dom Walter Henckeldey.

            Segundo a mesma fonte: “ Este grupo adquiriu a Fazenda Três Barras, no Município de Porto Murtinho, com 78.985,00 hectares de terras, às margens do Rio Paraguai, com a arvore de quebracho muito abundante dentro das terras compradas”.

            O acordo  dos industriais com o governo brasileiro distinguia-se pela estrutura a ser instalada: máquinas e equipamentos inéditos nestas paragens. Em 1938, o procurador da empresa assinava um acordo com o governo de Mato Grosso ( diário Oficial de 3.3.1938 – fl. 7) onde se comprometiam em instalar a fábrica em três meses, devendo iniciar a fabricação de tanino, após dois anos dos mesmos trabalhos.

            Com a Segunda Guerra Mundial, o controle acionário da empresa passa para o Governo Brasileiro, sob a presidência do Coronel Samuel Silva Caldas. Algum tempo depois a empresa foi assumida pelo Grupo de Mário Brandão que fechou a produção por quatro anos ( 1956/1960) deixando inclusive todos os funcionários sem receber seus direitos trabalhistas e salários.

            Dulio Costa termina assim sua narrativa de quase cinco décadas atrás: “ Ai surgiu o Sr. Baldomero G. Cortada Filho, homem de grande visão e de coração bondoso, que com a ajuda dos filhos e genros deram uma nova roupa à Quebracho Brasil S.A, que continua hoje a merecer lugar de destaque entre os curtumes brasileiros. A este homem, muito deve o município de Porto Murtinho, porque soube salvar da lama, uma indústria com a maquinaria mais moderna para a extração de quebracho.”

            Só a título de complementação e informação, o quebracho entra na sua classificação atual da botânica como “espécies especiais, pelo seu uso ou importância” e foram colocadas na lista de espécie com “ocorrência restrita” nas áreas onde antes eram endêmicas.

 

 

Autor: Maria Madalena Dib Mereb Greco

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