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Memorial aos 245/255 anos do Forte de Iguatemi

MEMORIAL AOS 245/255 ANOS DO FORTE IGUATEMI – PARANHOS/MS: Desde sua fundação e queda/destruição (1767/1777).

DIAS, Eliotério Fachin[1]

MATTOS, Willian Rocha de[2]

SILVA, Fábio Roberto Cordeiro da[3]

DIAS, Albertino Fachin[4] 

 

INTRODUÇÃO

As fronteiras de qualquer país formam parte da identidade nacional, de maneira que a formação desses limites constitui um capítulo importante de nossa história. Especialmente, se considerarmos a história local para a constituição das fronteiras brasileiras com o país vizinho, o Paraguai, ao sul de Mato Grosso do Sul. Mais precisamente, sobre a história de fundação e queda ou destruição do Presídio Nossa Senhora dos Prazeres e São Francisco de Paula do Rio Iguatemi (1767/1777), que se localizava às margens do rio mesmo nome, nas proximidades de onde se situa, na atualidade, o município de Paranhos/MS, nome este dado em homenagem ao Barão do Rio Branco, o diplomata e historiador José Maria da Silva Paranhos Júnior, por sua importante contribuição para as questões das fronteiras modernas do Brasil.

 

PRECEDENTES HISTÓRICOS

O Tratado de Tordesilhas, firmado em 07 de junho de 1494, entre os soberanos de Portugal e Espanha, apresentava dificuldades técnicas do ponto de vista demarcatório, considerando-se que apresentava os limites, a partir da linha de Tordesilhas, isto é, “a trezentas e setenta léguas das ilhas do Cabo Verde para a parte do ponente, por graus ou por outra maneira como melhor e mais prestes se possa dar de maneira que não sejam mais nem menos [...]” (TORDESILHAS, 1494).

Assim, dada à impossibilidade de se medir longitudes com precisão, os pesquisadores da história da cartografia divergiam sem chegar a um consenso, pois Portugal e Espanha não especificaram um valor certo e pacífico os tamanhos, estabelecendo sucessivamente, os valores de 16 e 2/3 de léguas por grau; de 17 e 1/2 por grau e de 18 por grau; correspondendo graus diferentes para as 370 léguas. As dificuldades de demarcação para a formação de nossas fronteiras levaram ao abandono desse traçado, prevalecendo a ocupação efetiva do território (uti possidetis) como as divisas naturais: rios e divisores de água. Assim, o Tratado de Tordesilhas serviu para que Portugal e Espanha não entrassem em conflitos armados e pouco valeu perante outras nações, que ocuparam pelo uso ou não da força, a exemplo da Inglaterra, Holanda, França e outras (CINTRA, 2012).

Na expansão sobre o território, destacaram-se os bandeirantes, que partiram de São Paulo em fins do século XVI, penetrando em diversas direções na busca de prata e ouro, ou então à caça de índios, em aldeamentos jesuíticos, tanto em Guairá (1628) e, Tape (1635). Diversos foram os roteiros pelos vales do Rio São Francisco, Tocantins e Paraguai, incluindo seu trajeto a vias fluviais do Guaporé, Mamoré, Madeira e Amazonas. Caracterizavam-se as chamadas monções, os caminhos terrestres ou fluviais, com a ocupação e posse do território, configurando-se as fronteiras sul e oeste com a América espanhola (CINTRA, 2012).

Em 1720, com a reforma cartográfica mundial promovida pelo cartógrafo francês Guillaume Delisle, com a defesa de sua dissertação “Determination géographique de la situation et de l'étendue des différentes parties de la Terre”, perante a Academia de Ciências de Paris, com base em coordenadas astronômicas “precisas”, denunciava diplomaticamente a Coroa Portuguesa, quanto à partilha das terras do novo Continente, pela invasão portuguesa de 3º20’ a Oeste da Linha de Tordesilhas, sobre terras espanholas e francesas, na região da foz do Amazonas e das Guianas (OLIVEIRA, CINTRA & ALMEIDA FILHO, 2016, pp. 195-196).

 

(OLIVEIRA, CINTRA & ALMEIDA FILHO, 2016, p. 195)

 

 

(OLIVEIRA, CINTRA & ALMEIDA FILHO, 2016, p 196)

Dessa forma, necessitando renovar os estudos cartográficos, D. João V determinou a elaboração de mapas precisos, com coordenadas longitudinais e a vinda dos chamados Padres Matemáticos, iniciando-se uma nova fase da Cartografia no Brasil (CINTRA, OLIVEIRA, 2020, p. 3).

Para Portugal, as descobertas das minas de ouro, especialmente as de Cuiabá (1718), tornaram premente uma definição de fronteiras que assegurasse o domínio e a posse pacífica desta região. Para a Espanha, no estuário do Prata, que tornava essas águas internacionais, fonte de grande contrabando da prata que escoava por essa via fluvial, e a necessidade de soberania e controle de seus territórios, culminaram com o Tratado de Madri (1750), que estabelecesse uma nova linha divisória que respeitasse as áreas já ocupadas (CINTRA, 2012, p. 427).

Em 1749, foram elaborados dois mapas idênticos que serviram de base para o Tratado de Madri (1750); um ficou com Espanha, e o outro, com Portugal, encontrado posteriormente pelo Barão do Rio Branco, em Paris (CINTRA, 2012, p. 431).

 

(CINTRA, 2012, p. 432).

Em 1752, iniciaram-se as demarcações fronteiriças, com expedições divididas em duas comissões demarcatórias. Na Comissão do Norte, na qual trabalharam os cartógrafos Felipe Sturm, João André Schwebel, Gaspar João Geraldo de Gronsfeld e Henrique Antonio Galluzzi; destacando-se o Atlas da Amazonas (1758), de Schwebel, e o Mappa geral do bispado do Pará (1759), de Galuzzi. Na Comissão do Sul, dividida em três partidas (1752-1760), marcaram presenças importantes os cartógrafos Miguel Antônio Ciera e José Custódio de Sá e Faria.

A partir daí, Portugal iniciou a ocupação fática do território, com a implantação de marcos, em Jauru (1754); fundação de aldeias, em Vila Bela da Santíssima Trindade (1752), Vila Maria, atual Cáceres (1778); criação de fortes com a missão de fortalecer e defender sua posse: São Miguel (1740), S. Gabriel da Cachoeira (1763), Tabatinga (1766), Iguatemi (1767), Coimbra e São Joaquim (1775), Príncipe da Beira e Santa Tecla (1776), e outros. (CINTRA, OLIVEIRA, 2020, p. 3).

 

ANTECEDENTES DO FORTE IGUATEMI

O Presídio de Nossa Senhora dos Prazeres e Francisco de Paula do Rio Iguatemi (“Forte Iguatemi”), situado à margem direita do rio do mesmo nome, nas proximidades com o Paraguai, fazia parte da defesa estratégica da região sul do país, vez que a questão de limites se mostrava confusa e, a Espanha visava estabelecer a ocupação da região abaixo do atual estado do Paraná (CINTRA, OLIVEIRA, 2020, p. 4).

Essa região, por sua localização privilegiada para fazer frente aos domínios hispânicos, além de impedir a ocupação pelos espanhóis, deveria fomentar a ocupação das áreas ainda não habitadas, formando uma barreira ante a possibilidade de avanço espanhol. Apesar disso, vale destacar que a Espanha também promoveu a defesa de seus interesses, quanto à expansão portuguesa que avançara em muito, a linha definida pelo Tratado de Tordesilhas (BATAIOLI, 2020).

Desde o século XVII, os rios Jejuí, Igureí e Ygatimi (ou Iguatemi) eram palmilhados por paulista, em constantes choques com os espanhóis. Em 1715, foi fundada a povoação paraguaia de Curuguaty, que passara a manter comércio com os paulistas (BELOTTO, 1976).

Em 1748, considerando-se a dificuldade do governador do Rio de Janeiro de administrar Goiás e Cuiabá, o rei de Portugal, D. João V, estabelecendo os governos para aquelas capitanias; destituindo, então, o governo da capitania paulista, subordinando-a à capitania do Rio de Janeiro e, no campo militar, passando à administração do Governador de Santos (MONT SERRATH, 2015, p. 5). 

O Tratado de Madri definia, em seus artigos 5º e 6º, sobre as fronteiras para a região, ao estabelecer que a demarcação em território mato-grossense seria pelo Rio Igureí, deixando todo o vale do Iguatemi para o lado português. Todavia, a comissão demarcatória que tinha como principais comissários, para aquele trecho: José Custódio de Sá e Faria pelo lado português e, Manuel Antônio de Florez, pelo lado espanhol, percorreram a região em 1753, não podendo ater-se ao texto do tratado. Devido, à inexistência de povoamento e, muito menos de forças militares. Todavia, com a anulação do Tratado de Madri (1750), pelo Tratado de El Pardo (1761), os ânimos se acirraram (BELOTTO, 1976).

Em 1765, resolveu-se recriar a Capitania de São Paulo, nomeando como seu primeiro governador, depois da restauração de sua autonomia administrativa, o capitão general D. Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, o Morgado de Mateus (1765-1775), que deveria administrá-la e dar grande atenção à premente questão militar, com a obrigação de introduzir uma série de reformas na Capitania, com estímulo à produção agrícola e ao comércio. Sempre obedecendo ao “novo padrão de colonização”; ou, à política de todas as nações”, nas palavras de Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, então Conde de Oeiras, em carta escrita em 1766, ao Morgado de Mateus (MONT SERRATH, 2015).

O ponto chave das instruções recebidas de Pombal, então Conde de Oeiras, Ministro dos Negócios do Reino, era a consolidação do território brasileiro, que apontava em duas direções: o fomento da economia e a fortificação e defesa das áreas fronteiriças (BELOTTO, 1976).

As constantes mensagens entre a Coroa e os governadores tratavam sobre os problemas decorrentes das decisões tomadas, algumas vezes, à revelia das determinações régias. Tais mensagens tratavam, entre outros assuntos, sobre a chamada “Diversão pelo Oeste”, estratégia militar defendida pelo capitão-general e governador da Capitania de São Paulo, o Morgado de Matheus, contra os espanhóis, que consistia em fazer com que os castelhanos dividissem sua força militar, em duas frentes de batalha, distantes uma da outra (BELOTTO, 1976).

Entre outras obrigações, o Morgado de Matheus deveria fortalecer a defesa da região Sul do país, e, também, pelo Oeste, mais especificamente, no rio Iguatemi, com a criação do presídio do mesmo nome. Nos primeiros anos de seu governo, o governador da capitania paulista mandou, com aprovação régia, inúmeras expedições para investigar os sertões do extremo oeste da Capitania paulista, determinando a criação e fundação do Forte, à margem direita do rio Iguatemi, próximo à Serra de Maracaju, nas proximidades da província paraguaia (MONT SERRATH, 2015).

A princípio, pensou-se em levantar o presídio em território paranaense, à margem do rio Ivahy, mas não tardou a impor-se a convicção de que, tornava-se indispensável em terras à direita do grande rio Paraná. E, assim, “constantemente instigado pelo vice-rei e mesmo pelo primeiro ministro da monarchia lusitana, poz-se o Morgado de Matheus a preparar a função da colônia militar, depois de fixado o local onde se devia erguer” (TAUNAY, 1919, p. 491).

Em suas justificativas, o governador paulista sustentava que, ao terem conhecimento das forças portuguesas na região e do perigo para seus domínios, os espanhóis enviariam tropas para a defesa de seu território. Previa, inclusive, a proteção das capitanias de Mato Grosso e de Cuiabá, uma possível invasão castelhana, pelo Paraguai, uma província de suma importância à Espanha. A tática foi bem aceita pelas autoridades do Reino, desde que os auxílios ao Rio Grande de São Pedro (hoje Rio Grande do Sul) não cessassem. Assim, houve convocação compulsória e o despacho sumário de levas de famílias inteiras, mais de 1.200 pessoas, para lá assentarem-se e criarem as condições de desenvolvimento (MONT SERRATH, 2015, p. 5).

O Presídio de Nossa Senhora dos Prazeres do Iguatemi foi “o mais audacioso e acalentado projeto que o Morgado de Matheus procurou sustentar, a despeito de obstáculos e resistência de toda ordem”. O projeto teve seu ponto de partida no motim na vila paraguaia de Curuguaty, em meados de 1766, por um grupo chefiado por D. Mauricio Vilalba, que se revoltou contra as arbitrariedades de um lugar-tenente do Governador do Paraguai, assassinando-o, por afogamento, no Rio Iguatemi. Fato este que chegou ao conhecimento do Morgado de Matheus, que, mandou, então, de imediato, uma expedição averiguar in loco. Tal presteza faz crer na possibilidade de que o Capitão-General já tivesse a ideia de explorar a área, a pretexto de explorar os “Sertões do Ivahy”, à esquerda do grande rio Paraná, isto é, o vale do rio Ivaí, em território paranaense. Aliás, foi sob o mesmo pretexto que se iniciaram as primeiras expedições (BELOTTO, 1976, p. 35-36).

 

O PRESÍDIO DE NOSSA SENHORA DOS PRAZERES E SÃO FRANCISCO DE PAULA DO RIO IGUATEMI

O Presídio de Nossa Senhora dos Prazeres e São Francisco de Paula do Iguatemi foi fundado em 1767, por ordem do capitão-general e governador da Capitania de São Paulo, D. Luis Antonio de Souza Botelho Mourão, o Morgado de Matheus, às margens do rio Iguatemi. Praça essa que viveu dez anos de conturbada e dificultosa existência, sem que tivesse exercido, em forma de ação concreta, a função a que se destinara (BELOTTO, 1976).

O estabelecimento atendia às determinações do Ministro de D. José I, Sebastião José de Carvalho e Melo, então Conde de Oeiras, posteriormente, Marquês de Pombal, para que o estabelecesse na região sul-mato-grossense, na fronteira com a província paraguaia, com o objetivo de impedir o avanço castelhano em terras brasileiras. As instruções da Coroa foram dadas em 26 de janeiro de 1765, e repassadas pelo vice-rei Conde da Cunha, em 4 de novembro de 1766, ao capitão-general e governador de São Paulo, Morgado de Mateus.

Mas foi sem caráter bélico que seguiram os primeiros homens para o Iguatemi. O Morgado de Matheus justificava-se a Pombal, reiterando não haver dúvidas de jurisdição: “O Guatemy he por donde se fes a divisão fronteira dos nossos Dominios com os de Estanha...”.[5]

De setembro de 1766 a janeiro de 1767 foram enviados circulares aos Capitães-mor com vista à primeira expedição. Exigia-se brevidade no preparo das canoas e dos mantimentos. A arregimentação dos homens não foi fácil. Para ser o Capitão Regente do Iguatemi foi escolhido João Martins Barros. A ele coube a organização do alistamento. O governador aconselhou-o que procurasse convencer a gente das facilidades que teriam se se dispusessem a partir; inclusive poderiam ter penas suspensas. Mas não deviam ser esclarecidos sobre o fim a que iam. (...) O Vice-Rei insistia com D. Luis quanto à necessidade de sigilo: “que não se perceba nunca que eles tem consentimento seo”. O Morgado de Mateus estava perfeitamente ciente da imprescindibilidade da dissimulação (...). Assim, a ordem metropolitana que liberava a exploração do antes interditado sertão do Tibagi vinha a calhar. Organizaria duas expedições penetrando o mencionado sertão “por duas diferentes partes com as mesmas ordens e instruções públicas (...), cujas bandeiras devem ir para descobrir as margens e certões do Tibagi e para descobrir os certões do Ivai, Rio que desagua junto as Sette Quedas e dá entrada para o Paraguai”. Eram regiões, sem duvida, portuguesas, Portanto, não requeriam qualquer espécie de dissimulação. (...) Assim, o caráter de bandeira de exploração devia encobrir perfeitamente a intenção de “ação militar” (BELOTTO, 1976, p. 37-38, sic)

Nas últimas instruções a Martins Barros se lhe reiterava que fundasse o Presídio, o “mais além que poder, mas dentro dos Limites do marco dividente”, em sitio "cômodo e forte por natureza”.

A Praça devia denominar-se, por ordem do Governador, Presídio de Nossa Senhora dos Prazeres e São Francisco de Paula do Iguatemi. A expedição partir a 28 de julho de 1767, composta de 360 homens e mais alguma gente de serviço, em 35 canoas. Também levavam três dos curuguaitinos. Os relatos enviados por Martins Barros dão-nos conta do que foi a jornada de 55 dias até o sitio escolhido junto ao rio Iguatemi. O Capitão-Mor Regente parecia compartilhar do entusiasmo do Governador. Via grandes possibilidades no Iguatemi. As terras poderiam produzir satisfatoriamente e a fortificação daquela área traria a segurança de Mato Grosso e das margens do Rio Paraná.[6]

A primeira monção à Iguatemi partiu de Araritaguaba (na atualidade, Porto Feliz), em 28 de junho de 1767, comandada pelo ituano João Martins de Barros, nomeado capitão-mor regente da praça. Essa expedição exigiu enormes sacrifícios e gastos, na ordem de trinta mil cruzados, uma soma vultosa para a época, com parcos recursos da Capitania.  

O recrutamento forçado reuniu um contingente de 320 homens, na maioria arrancados dos seus lares em Porto Feliz, Itu, Sorocaba e Parnaíba. O capitão general ordenara ao capitão mor regente que prendesse os pais, ou mulheres, sendo casados, ou parentes mais chegados dos alistados, que ficariam retidos na prisão até que a expedição tivesse chegado à barra do Potunduba a prevenir-se de protestos e deserções. Verdadeira atmosfera de terror se criou em São Paulo, “onde os sacrifícios de vidas e dinheiro, para a criação e manutenção do presidio, as violências e opressões autorizadas exercidas pelo Capitão general e seus delegados foram inúmeras e constituíram por mais de dez anos uma das maiores calamidades com que o erro ou o capricho dos governos tem, mais de uma vez, flagelado os povos (BELOTTO, 1976, p. 43).

O capitão-mor João Martins Barros manifestara-se, escamoteando a verdade, que tinha a intenção de voltar atrás. No entanto, o Capitão-General ordenava-lhe que “já agora sem ordem minha o não fala, nem saya desse sitio em que está” (sic). O que demonstra que, o Morgado de Mateus apoiava inteiramente a atitude de seu lugar-tenente e mostrava-se disposto a defender a posse da área; e, devia continuar afirmando aos fronteiriços, que aquele território era português, lá permanecendo, sem a “menor alteração ou infração que possa ofender a imunidade da paz entre as duas Nações (...)”.[7]

Em 1768, o Vice-Rei, Conde de Azambuja, recebera do governo de Buenos Aires um protesto contra as provocações no Iguatemi:

(...) en la Provincia del Paraguay se há internado um destacamento de quinientos Hombres de armas, que em 19 de Enero de este año se allaba acampado em La Rivera del Rio Guatemi com su comandante Don Juan Martins Barros, enbiado por el Ilmo. E Exmo. Señor Luiz Antonio Botelho Capitan General de San Pablo.[8] (sic)

A escusa inicial de João Martins era a de que, o encarregado de explorar o Ivaí, internara-se pelo Rio Iguatemi, sem saber realmente onde se encontrava; e, para subsistência de sua gente, teve que plantar roças, mas estava disposto a partir assim que as colhesse.

O administrador Morphi parecia acreditar (ou fingia), pois contava com a sua palavra de retirar-se com seus homens, depois de colhido o milho. Assim, solicitava a D. Luís Antonio que mandasse seu subordinado desocupar o Iguatemi. (...) O Governador de São Paulo garantia a Morphi que João Martins retirar-se-ia assim que obtivesse o necessário para sustentar a sua gente. (...) Diante da notícia de que estava construindo uma fortificação às margens do Iguatemi, Carlos Morphi afirmava que aquela espera a produção do milho era fingimento; sua atitude, um atentado à paz entre Espanha e Portugal. Acusava o Capitão-General de São Paulo de ter se introduzido clandestinamente em seus domínios para fins de sua conhecida ambição.[9]

A verdade é que nada parecia ser circunstancial naquela empresa. Para Morphi, ela fora premeditada pelo Governador de São Paulo e por Mauricio Vilalba, o “traidor” de Curuguaty, para explorar (sic) los Disiertos de Uvay”. Estava assim descoberto, o que as autoridades paulistas tinham procurado escamotear. A exploração do “Ivahy”, como tal, era uma ficção. “Havia uma Praça militar e um Povoado em embrião, se não em território espanhol, ao menos em seu limiar”. A partir daí, cessadas as palavras, passou-se à ação. Ainda que paulatinamente, os espanhóis foram fechando o cerco ao Iguatemi. “Tal fato, somado às suas outras inúmeras dificuldades (que na realidade foram as que verdadeiramente mais pesaram) acabou por determinar-lhe a queda, em 1777” (BELOTTO, 1976, p. 41).

Enquanto isso, as expedições ao forte Iguatemi iam se sucedendo, sem que tenham chegado a uma dezena. “Imediatamente à partida de uma passava-se a providenciar outra (invariavelmente as expedições continuavam a ser denominadas ‘Expedições do Ivahy’. A partir de 1768, sucessivamente, nos anos subsequentes, eram recrutadas canoas, instrumentos de navegação, armamentos, munições, gêneros alimentícios e homens, pelo governo paulista, que solicitava aos Capitães-Mor, as mais enérgicas medidas para a sua obtenção (BELOTTO, 1976, p. 41-2).

A 10 de janeiro de 1768 incumbia-o da escolta do comboio transportador de mantimentos para uma monção que se preparava em Ararytaguaba. (...)  Nomeado comandante da monção, dava-lhe em setembro seguinte o Morgado de Matheus carta branca para agir como melhor entendesse, ordenando-lhe comtudo, que o consultasse continuamente. Era a ele que se despachavam as desoladas levas de colonos do Iguatemy, tristemente encaminhados para Porto Feliz; quem superintendia o almoxarifado da expedição: pejado de generos, armas e munições, utensílios de lavoura, moveis e roupas, drogas e mais objetos de toda espécie. Recebia dinheiro e providenciava para a captura dos voluntários desanimados e procurando escapar a uma sina que anteviam detestável. (...) A 21 de janeiro de 1769, suppondo findos ou quasi findos os aprestos tão penosos da expedição, prevenia o capitão-general a Juzarte que estivesse prompto para seguir “oito dias após haver recebido as suas ordens definitivas”. A 13 de abril, somente, porém, é que de Porto Feliz conseguir largar a grande monção, trinta e seis grandes embarcações em que aboletavam quase oitocentas pessoas, das quaes setecentos e tantos “povoadores”, “homens, mulheres, rapazes e crianças de todas as edades”, trinta soldados de linha, gente de mareação e equipagem” (TAUNAY, 1919, p. 493-494, sic).

O sargento-mor Theotônio José Juzarte relatou, em seu “Diário da Navegação do Rio Tietê, Rio Grande Paraná e Rio Igatemi (1769-1771)”, uma das mais extraordinárias narrativas da navegação fluvial no Brasil do Séc. XVIII, que dá “a relação de todas as coisas mais notáveis destes rios, seus cursos, sua distância e de todos os mais rios que se encontram, ilhas, perigos e de tudo o acontecido neste Diário pelo tempo de dois anos e dois meses, que principia em 10 de março de 1769” (SOUZA, 2012).

 

Diário de Juzarte (1769. Acervo do Museu Paulista.

(CINTRA, OLIVEIRA, 2020, p. 12).

 

Diário de Juzarte (1769). Acervo do Museu Paulista.

 

JUZARTE, Plano em Borrão, 1769. p. 55

 

JUZARTE, Plano em Borrão, 1769. p. 56

 

O Diário de Juzarte descreve “o roteiro fluvial, a técnica de construção das embarcações, a forma de navegar e as venturas e desventuras da monção que partiu de Araritaguaba”, hoje Porto Feliz (SP), às margens do Tietê, no dia 13 de abril de 1769, com destino à praça de Iguatemi, à margem esquerda do rio do mesmo nome. Viagem essa que demorou dois anos e dois meses, desde seu início até o regresso a São Paulo, em maio de 1771 (CINTRA; OLIVEIRA, 2020, p. 5).

Juzarte representou um elevado papel, sobretudo sob no governo do Morgado de Matheus. Português de nascimento, praça de 1750, depois de haver durante algum tempo servido na Marinha de guerra portuguesa, onde atingiu graduação de fuzileiro, incorporando-se ao Exército, então ao Regimento da Junta. Já, no Brasil, em 1765, foi-lhe concedida a patente de ajudante do Regimento de Dragões Auxiliares da Capitania de S. Paulo. Com a fundação do presídio, o capitão-general Luís Antônio Botelho Mourão, o Morgado de Matheus concedeu-lhe uma série de comissões de destaque (SOUZA, 2012).

 

 

AS SINISTRAS RECORDAÇÕES DA PRAÇA D’ARMAS DO IGUATEMI

Em outubro de 1770, o Morgado de Mateus expediu ao capitão-mor regente, uma “Ordem para se fundar Villa na Povoação, e Praça dos Prazeres de Guatemy”. A formação de uma vila com capacidade de acomodação de população, assim como de instalação de órgãos administrativos representaria, para o Iguatemi, maiores possibilidades para sua continuidade e sobrevivência (BELOTTO, 1976, p. 43).

O Forte Iguatemi, além de sofrer com a malária, baratas, roedores, insetos e outras insalubridades, sofreu ataques dos índios guaicurus (1774) e das forças militares do governador paraguaio (1777) e, diante de sua superioridade, rendeu-se, sendo arrasado e abandonado pelos invasores (CINTRA; OLIVEIRA, 2020, p. 5).

Além das ameaças representadas pelos índios e espanhóis, e dos descontentamentos de povoadores e soldados, havia ainda a embaraçar o desenvolvimento do Iguatemi, as epidemias (facilitadas pela falta de mantimentos e de assistência médica) e as dissensões entre oficiais. As condições de abastecimento eram precárias; a defesa, nem tanto, já que contavam com relativa artilharia. Mas não havia condições de atrair povoamento e provocar-lhe a consolidação. E o governo central começava a perceber isso (BELOTTO, 1976, p. 43-44).

Não há no passado paulista nome que recorde mais sinistras lembranças quanto esse do rio mattogrossense, afluente do Paraná em cujas margens se ergueu a colônia militar setecentista a que, como por ironia, atribuiu a preferencia piedosa do capitão-general, seu fundador, a invocação de Nossa Senhora dos Prazeres. (...) Tumulo de milhares de brasileiros, violentamente arrancados aos seus lares pelo despotismo colonial, e encaminhados como para matadouro certo, foi em “o Iguatemy” a causa dos terrores dos humildes e dos desvalidos da capitania de S. Paulo, durante lustros a fio, a causa do despovoamento intenso do território paulista, a quem arrebatou milhares de almas pelo êxodo e o refugio nos sertões brutos (TAUNAY, 1919, p. 489).  

O manuscrito intitulado "Diário da navegação do rio Tiete, rio Grande Paraná, e rio Gatemy (sic) em que se dá relação de todas as cousas mais notáveis destes rios, seu curso, sua distância e de todos os mais rios que se encontram ilhas, perigos e de tudo o acontecido neste diário pelo tempo de dois anos e dois mezes, que principia em 10 de março de 1769”, foi escrito pelo sargento–mor Theotonio José Juzarte.

Apesar de não ser de seu intento “retraçar as peripécias que acompanharam a existência do presidio de Iguatemy, e sim apenas revelar (...) uma série de circumstancias curiosas, pitorescas e diremos até empolgantes” aponta TAUNAY (1919, p. 490), decorridas numa “grande monção de infelizes povoadores, despachado em 1769 para aquellas paragens mortíferas do sul mattogrossense, pelo arbítrio do governo português” (sic).

Em 31 de outubro de 1770 avisava o capitão-general para Iguatemy, que ia substitui-lo o ajudante Manuel José Alberto, prevenindo-o “do alvoroço com que o ficava esperando e desejando-lhe feliz sucesso na retirada”. (...) A 10 de novembro de 1772, mandava o Morgado de Matheus que Juzarte fosse ter a Ararytaguaba, escoltando artilharia, munições e mais petrechos novamente destinados ao Iguatemy, para onde seriam transportador numa esquadra de doze canoas, conjuntamente com setenta presos destinados a preencher os claros da guarnição da praça, dizimada pela malária (TAUNAY, 1919, p. 495).

Em princípios de 1769, o capitão-general de S. Paulo D. Luiz Antonio de Sousa, Morgado de Matheus, ordenou que um grande comboio partisse de Porto Feliz, Tietê e Paraná,

(...) em demanda do novo e já sinistramente reputado presídio de Iguatemy, conduzindo considerável reforço de colonos aos primeiros recrutamentos de povoadores ali estabelecidos, sob a administração do bravo capitão-mor regente, João Martins Barros. Procedera-se para o ajuntamento da nova leva de victimas destinadas aos hecatombes da malaria, como era de costume se fazer para obter soldados.  Dentre a população humilde dos districtos rurais da capitania devia sahir o grosso dos recrutados, dentre a "caipirada" de Itu, Sorocaba e Porto Feliz, sobretudo Paranahyba, S. Amaro, e Araçariguama, Cotia e Jundiahy. Poucos os de S. Paulo e Santos, ou das villas do Norte, raros portugueses, iam no mísero rebanho humano, guiados pelas itaipavas, corredeiras e varações pelo sargento-mor Theotonio José Juzarte (TAUNAY, 1919, p. 497).

Cândido Xavier de Almeida e Souza conta, em seu relatório de 1786, ao Vice-Rei Luis de Vasconcellos, a impressão que, aos colonos de Iguatemi, e aos seus, causava a designação de ‘povoadores’ das petíferas paragens sul matto-grossenses pelos ukases do capitão-general” (sic):

Quando para ali entrava alguém pela do serviço de Sua Magestade, despedia-se como para a morte e consequentemente avisavam-se os parentes, lamentando-se os paes, suspirando os amigos, enquanto choravam as mulheres e exclamavam os filhos como desamparados. Tal o horror causado nos ânimos dos vassalos.” Nem todos os povoadores da praça e presidio de Nossa Senhora dos Prazeres e S. Francisco de Paula, eram, porém, indivíduos desprotegidos ou baldos de recursos. Havia-os arranjados, quiça attrahidos pelas falazes promessas das recompensas reais, o amor das aventuras, a esperança de lucros a auferir numa terra nova e virgem. Contava-se, entre os emigrados, quem levasse para o seu futuro estabelecimento três, cinco e oito escravos, além de aggregados. Mas a maioria, a imensa maioria, compunha-se de pobres diabos, arrastando atrás de si mulher e recuas de crianças, para obedecer às supostas ordens e intenções de sua majestade fidelíssima – o abúlico d. José I, formalmente expressas a tal respeito ao vice-rei do Brasil, por sua excelência o conde de Oeiras. “Duzentas e mais léguas”, ia toda essa pobre gente fazer pelas aguas de “rios caudalosos e perigosos, cheios de perigos consideráveis: inceptos (sic), bixos, caças, e trabalhos de toda espécie”, na frase rude e singela do comandante da expedição. Cerca de oitocentas pessoas, “homens, mulheres, rapazes, crianças de todas as edades” constituíam o comboio a que acompanhavam “toda a casta de criações e animais para a produção e extabelecimento futuro daquele cotiennte”. Trinta praças eram os guardas e custódios dos colonos a quem deviam proteger e defender, e sobretudo impedir que fugissem. (...) As provisões que uma monção vinham a ser feijão, farinha de mandioca e de milho, sal e toucinho, guardados em sacos selindricos, cum hu pé de diâmetro e cinco ou seis de comprido”, para se accommodarem melhor pelo seu comprimento e pouco diâmetro.”  (sic)

A 10 de abril de 1769 estava o comboio prestes a embarcara. (...) A 11, fazia embarcar a artilharia, dez bocas de fogo, muita munição, ferramentas, etc. No dia 12 deu Juzarte ordem geral de embarque, repartindo os viajantes entre as canoas. Péssimo era o estado sanitário daqueles miseráveis: sobreviera no acampamento “huma dearreya geral entre homens, mulheres e crianças, de tal sorte que estavão huns escondidos pelos matos, outros desfalecidos, qe. se não movião do logar, crianças em artigo de morte”. (TAUNAY, 1919, p. 489- 501, sic).

Afonso de Escragnolle, o Visconde de Taunay, relatou em sua obra: “Martyrios de Iguatemy 1769-1777”, sobre a viagem de Juzarte, que:

Mandara, o capitão-general, em nome d’el-rei, que se partisse, porém: “ e porq. Já não havia mais remédio do q. assim mesmo embarcar, porq. do contrario se seguião graves prejuízos, assim mesmo embarcou tudo, huns carregando e outros, deitados em redes e com efeito ficou tudo embarcado thé o meyo dia do dia doze de abril”, explica o oficial no seu estylo, nem sempre límpido. (...)

A 13 de abril de 1769, da barranca do Tiete, benzia o vigário de Porto Feliz, de estola e sobrepeliz, a expedição a largar para Iguatemy. (sic)

A’s oito e meio da manhã, largava a capitanea da monção, a cuja popa tremulava a bandeira branca das quinas. Descarregavam-se então centenas de espingardas em varias salvas. Distanciada da capitania, de cincoenta braças, partir a segunda canoa e, guardando sempre o mesmo intervalo, as demais. Dentro em pouco estava a esquadrilha fluvial em pleno sertão bruto, onde expressa Juzarte – então havia mais que a Divina Providencia e onde a um grande perigo se seguiam logo outros, inumeráveis”. (...)

A’s 2 horas da tarde de 6 (mayo) entrava a expedição nas aguas do Paraná, “vencidas cento e trinta léguas no Tietê, quarenta e seis em cachoeiras, saltos, corredeiras e itaipavas, tantos perigos, tantos trabalhos, tanto sofrer de inseptos e bichos, e decorridos vinte e cinco dias, desde a partido de Araraytaguaba”. Pouco lisonjeira a descrição que do rio immenso nos faz Theotonio José Juzarte. “He a similhança de mar, o que faz que sua largura em partes, seja de quatro (sic) léguas. Suas aguas são pestilentas e vermelhas, seu climen mui doentio e sujeito a cezões dobres e malignas; hé mui triste e estéril de pássaros, abundante de immundicias, bichos e inseptos; não tem caxueiras, mas tem hú grande perigo a q. chamão Jupiau... (...)

A 24, pela madrugada, largava de novo a expedição ainda com mau tempo, e às oito da manha attingia a tão desejada foz do Iguatemy, por onde embicaram as canoas, rio acima, em demanda da praça e fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres e S. Francisco de Paula, atalaia dos domínios lusos, na fronteira indecisa e disputada do Paraguay. (...)

Trabalho infernal dava a subida do correntoso rio, a cada passo atravancado por itaipavas e corrredeiras, ora obrigando os zingueiros a hercúleo esforço, ora forçando ao descarrego das canoas e à sua varação (TAUNAY, 1919, p. 502- 511, sic).

Ao tratar sobre a viagem de Juzarte, à praça de Iguatemi, em 1769,  o Visconde de Taunay assim ressaltava:

A 2 de junho tantos eram os doentes e tão exhaustos os homens da mareação, “que já vinhão as embarcações em ter quem as puxasse”. Felizmente chegou providencial reforço de trinta e tantos remeiros em duas canoas que o regente João Martins Barros mandara ao encontro da tão provada expedição. (...)

A 11 partiam as pessoas ainda validas, rio acima, encontrando um segundo soccorro enviado pelo comandante da praça. Ficaram os doentes e convalescentes nas Roças.

Afinal a 12 chegava Juzarte ao presidio, havendo nesta ocasião troca de salvas entre os recém-vindo e a guarnição do fortim. A’s sete horas da noite dava por concluída a sua “tão impertinente, tão perigosa e tão dilatada” viagem. Si muitos dos desgraçados povoadores, recrutados para o sertão, haviam deixado a vida nas solidões cruzadas pela expedição, alguns nascimentos se tinham dado durante tão longo percurso. A’s pobres mães, aos miseráveis recém-nascidos só pudera suprir a providencia de Deus”, comenta, enérgica e concisamente, o narrador da odysséa fluvial. Compunha-se o presidio pombalino de “Nossa Senhora dos Prazeres e S. Francisco de Paula de Iguatemy” de uma fortaleza, construída, à margem do curso d’agua que lhe dera o nome, pelo capitão de infantaria da guarnição do Rio de Janeiro João Alvares Ferreira. Era o Iguatemy, naquele logar, um caudal profundo, mas pouco largo, não atingindo vinte metros. Nada mais primitivo do que tal fortificação quando Juzarte a conheceu, “Delineada conforme a regra da Arte sua figura era de Etagono, tinha sete lados: três tenalhas regulares e quatro irregulares, que não davão defensa algu’a, porque se penetrava de dentro para fora e de fora para dentro, quase por toda a parte e a razão disto era não haver com que se pudesse continuar a sua construção porque não havia ferramentas, não havia artífices nem os homens podião trabalhar falta do diário sustento e vestuário.” Miseráveis a egreja e o casario da povoação, cobertos de cascas de palmito jerivá, aquella e de capim este. Situado na confluência do Iguatemy e do Forquilha distava o presidio quatorze legas da villa paraguya de Curuguaty, a única povoação civilizada que próxima lhe ficava. (...)

Trezentos homens compunham a guarnição da praça “a qual se achava núa, morta de fome e em hu logar onde não tinha comunicação para parte alguma”. (...)

Em outubro, desatinados pela fome, mortos os últimos bois, sahiram pelo campo em busca de caça numerosos povoadores. Já então quase quarenta dos novos povoadores, haviam falecido, desde a chegada do comboio achando-se doentes mais de sessenta.

Não começou 1770 sob melhores auspícios para os tão abatidos yguatemienses, receosos dos guaycurus, só viviam de armas na mão; por cumulo de males chegou-lhes a noticia de que em Curuguaty se reuniam grandes forças para assaltar o presidio.

Continuavam a malaria, as privações, a dizimar os míseros degredados; em fevereiro fugiam para os hespanhoes soldados de linha; não havia nesta época sinão quarenta pessoas validas na praça; todos os mais estavam impaludados gravemente (...) Diariamente morriam duas, três pessoas, sinão mais (TAUNAY, 1919, p. 512-518, sic).

 

PRELÚDIOS DA QUEDA DO FORTE IGUATEMI

Se, em 1771, o secretário de Estado Martinho de Melo e Castro comunicou a aprovação e o louvor do rei pelas ações do governador, especialmente a construção da fortaleza e da povoação na margem setentrional do rio Iguatemi[10]. Em novembro de 1772 o discurso era bem diferente. 

 

Em primeiro lugar, expressou estranhamente por não receber notícias do governador desde outubro do outro ano, num “inesperado silêncio" do capitão-general. Em seguida, com relação ao Iguatemi e ao presídio lá estabelecido, afirmou que, antes de se darem os “passos para o envio de grande número de homens àquelas paragens, era necessário fazer-se “ocularmente”, verificação da importância do lugar.  (...) Finalmente, sendo “grande imprudência mandar precipitadamente, e com grande despesa, forças consideráveis àquele sitio, para o defender de um inimigo que não existe”, ordenou que D. Luis Antonio de Souza centrasse seus esforços em socorrer o sul do Brasil, com tropas municiadas e bem preparadas para a sua defesa”.[11] 

Enfatizava então, que “Sua Majestade” reprovara a “diversão” do sertão de Iguatemi como meio para defender o Viamão e o Rio Grande de São Pedro. Sendo assim, ordenara que o governador não promovesse, nem dispusesse, nem intentasse outro serviço na capitania de São Paulo a não ser dois: garantir o domínio e a posse do que já fora conquistado no Iguatemi, e enviar ajudas para o sul da América. Para que não houvesse mais dúvidas, ficando o governador “nesta inteligência”, concluía destacando três pontos:

Em primeiro lugar: Que Sua Majestade estima muito mais a perda de uma só légua de terreno na Parte Meridional da América Portuguesa que cinquenta léguas de Sertão descobertas no interior dela.

Em segundo lugar: Que ainda que os ditos descobrimentos do Sertão fossem de um inestimável valor a todo o tempo se podiam, e podem prosseguir; E que a Parte Meridional da América Portuguesa uma vez perdida nunca mais se poderá recuperar.

E terceiro e último lugar: Que, nesta certeza, não deve Vossa Senhoria sem expressas ordens de Sua Majestade divertir por agora os rendimentos e faculdades dessa Capitania, nem empregar os seus habitantes em outro algum serviço que não seja por uma parte o da conservação do Iguatemi [...] E por outra parte no da defesa, preservação e segurança de Viamão e Rio Grande de São Pedro [...].[12]

Em outubro de 1771, pelas ordens recebidas, o Morgado de Matheus devia estabelecer, com José Custódio de Sá e Faria, um plano de ação contra os espanhóis no Sul. Ao que se intitulou “Projecto ou plano ajustado por ordem de Sua Magestade entre o Governador e Capitão-General de São Paulo, Dom Luis Antonio de Sousa e o Brigadeiro Joze Custodio de Sá e Faria, de 1771 e 1772 (BELOTTO, 1976, p. 45-46, sic).

A partir de 1772, coincidindo com a chegada do novo Regente, inicia-se o período em que aquele estabelecimento foi posto em xeque e levado, irremediavelmente, à capitulação. Mesmo assim, o Governador de São Paulo insistia, perante Pombal, na importância estratégica da Praça de Iguatemi. Nos ofícios e relações enviados à Corte entre fins de 1772 e início de 1774, persistia nos planos e na ação, visando o fortalecimento e progresso do Iguatemi (BELOTTO, 1976, p. 44).

A partir de então, a boa vontade do governo central começou a diminuir para com o Governador paulista, as razões estariam menos nas suas qualidades e mais no agravamento da questão sulina.

Exigia-se quase o abandono do Oeste, com o que D. Lus Antonio jamais poderia concordar. A queda de sua estrela precipitou-se com a desarmonia a respeito do combate aso espanhóis, que passou a haver entre ele e o Marques de Lavradio, quebrando-se a decantada “ação conjunta”. Nos anos iniciais da década de 70, realmente, haviam-se agravado as tensões nas fronteiras luso-espanholas no Sul, como no Sudoeste. E era, justamente, aos revides espanhóis às reações portuguesas, nas alturas de 1773, que o Morgado de Mateus devia emprestar o seu concurso, mais eficientemente do levantar sua bandeira da “diversão” pelo Iguatemi. A partir desse momento, a posição do Morgado de Mateus torna-se indefensável. O clima de confiança de que se revestiam suas Instruções de governo jamais seria recuperado. A mesma irreversibilidade podia ser aplicada ao seu sonho do Oeste: a empresa do Iguatemi estava condenada. Ao todo, entre expedições de soldados e povoadores, e as de abastecimento, foram enviadas ao Presidio um total de sete. O número de componentes era variável, podendo-se estimar uma média de 200 pessoas. O número máximo que terá atingido a população da Fortaleza foi cerca de 1200 almas entre militares e povoadores e suas famílias (BELOTTO, 1976, p. 48-49).

Ao findar o ano de 1772, o governo central “solicitava” ao Morgado de Mateus que renunciasse a seus propósitos no “sertão do Iguatemi” (BELOTTO, 1976, p. 48-49).

 

 

Escrevendo, respectivamente, em setembro e em novembro de 1773, ao Marques de Lavradio e a Martinho de Mello e Castro, D. Luis Antonio respondia-lhes sem se deixar vencer pela argumentação de seus superiores. Não se esquivava de tornar a discutir com o Vice-Rei o plano de defesa de Viamão, mas não renunciava à sua tese de “diversão pelo Oeste”. (BELOTTO, 1976, p. 52, sic).

As decisões finais da Corte, em relação às providencias que D. Luis Antonio devia tomar, são datadas de abril de 1774.

As ordens foram transmitidas através de duas cartas, uma dirigida ao próprio Morgado de Mateus e outra, ao Vice-Rei Lavradio. Os termos da primeira são tão contundentes, que faz supor que naquela data já se pensava em afastar D. Luis Antonio do governo de São Paulo. O Secretário da Marinha e Domínios Ultramarinos definia o Iguatemi como uma ideia extravagante: levar soldados a sertão tão inóspito e por razões tão pouco prováveis” O Governador estava autorizada apenas a construir naquele ponto longínquo uma pequena fortaleza denominada Prazeres, com 300 até 400 paulistas com sua artilharia, nada mais.[13]

Em 1775, o brigadeiro José Custódio de Sá e Faria visitou a colônia pombalina e em relatório ao rei descreveu a impiedosa dizimação dos povoadores, aconselhando a extinção da praça. Aquela fronteira do Brasil, escreveu, defendia o deserto e as mil dificuldades de acesso.  Finalmente, a 27 de outubro de 1777, Dom Augustin de Pinedo e uma considerável força castelhana atacou a guarnição do Iguatemi e ofereceu a seu comandante, vigário Antônio Ramos Barbas Lousada, a mais honrosa capitulação (SOUZA, 2017).

 

Mapa do Diário de Custódio (1774). Mapoteca do Itamaraty, Rio de Janeiro. (In CINTRA, OLIVEIRA, 2020, 9).

 

FARIA, Demonstração da Praça d. N. S.ª dos Prazeres do Rio Ygatemi, 1774-1775

 

A Fortaleza da N. Sª dos Prazeres – Paper cloud – Gerbert’s archive of writings http://www.paper-cloud.net/archive/post/2010-fortaleza-prazeres-iguatemi/

O relatório encaminhado pelo Brigadeiro Custódio de Sá e Faria, em sua viagem à Praça dos Prazeres, em 1774-1775, para onde se dirigiu a mandado régio, viria ser o elemento dinamizador da má vontade governamental, para com a manutenção do forte Iguatemi, conforme relatado por BELOTTO (1976, p. 55).

Mau grado as noticias cada vez peores que do presidio vinham, - e onde em fevereiro e março de 1772 a malaria arrebatara 272 vidas num total inferior a mil pessoas ! – obstinava-se d. Luiz Antonio de Sousa em mandar novas remessas de infelizes para o matadouro, que era a sua fundação mattogrossense. Certo é que, em outubro de 1773, de S. Paulo para Yguatemi partia, vindo do Rio de Janeiro, o brigadeiro José Custódio de Sá e Faria em viagem de inspeção ao estabelecimento fronteiriço. Seu diário de viagem desde muito impresso pelo IHB, é muito mais arido do que o de Juzarte. Levantou o ilustre engenheiro militar o curso dos rios navegados e mandou ao seu governo numerosos mapas, alguns dos quaes, (...) e um relatório a Martinho de Mello Castro, datado de 4 de fevereiro de 1775. Affirmava serem os óbitos causados pela malaria, até aquella data, 499 pessoas, mais de um terço, talvez dos povoadores até então enviados de S. Paulo. Em 1775 era o Morgado de Matheus substituído no Governo de S. Paulo por Martim Lopes Lobo de Saldanha, a quem sobremodo impressionou o clamor geral contra o inútil dispêndio de vidas exigidos pelo Iguatemy. A 29 de março de 1777, ainda escrevendo a Lavradio, dizia o satrapa não poder socorrer a praça; achava conveniente abandonal-a, retirando-lhe a artilharia, “e aquelles miseráveis homens de sua guarnição.” (FARIA, 1774-1775, sic).

 

 

MORTE E DESTRUIÇÃO DO IGUATEMY

Que receio poderia aos castelhanos do Paraguai, inspirar a existência daquela lastimosa praça de Nossa Senhora dos Prazeres, o Visconde de Taunay assim se manifestou:

(...) em torno de umas faxinas de terra, vivia um punhado de miseráveis profundamente impaludados? De malária sucumbira o dedicadíssimo João Martins Barros, o bravo ituano, capitão-mor regente da colônia, morto no seu posto, escravo do compromisso para com o seu rei, tão mau amo. Tambem fallecera o sargento-mor d. José de Macedo, o substituto de Juzarte e oficial coberto de serviços”. (...)

À testa da guarnição, reduzido a um numero insignificante de homens, restava o septuagenário João Alves Ferreira, o constructor do forte. Desapparecera igualmente, o abnegado cappelão da primeira leva, frei Angelo do Sacramento, ex-abbade de S. Bento, em S. Paulo. E, com ele, mais quatro monges benedictinos, partidos para ali fazerem uma fundação. Ao retirar-se em fins de 1775, passara o brigadeiro Sá  Faria o governo do presidio, a uma junta composta do Vigario da Vara, Caetano José Soares, do capitão Joaquim Meira de Siqueira e tenente Jeronymo da Costa Tavares, comitê a que grandíloqua e pomposamente appellidou dos “Senhores governadores”. (...) Em fevereiro de 1776 era o capitão José Gomes de Gouvea o regente de Nossa Senhora dos Prazeres. Descontente com o seu governo, resolveu a gente da praça depol-o. A 11 aclamou comandante o novo vigaria da Vara e capellão da Egreja o padre Antonio Ramos Barbas e Lousadas, que muito a contragosto aceitou tão penosa sucessão. (...)

Declarada officialmente a guerra, obtiveram os hespanhoes grandes e fáceis triumphos. Em fevereiro de 1777, o vice-rei do Prata, d. Pedro de Ceballos, apossava-se da ilha de S. Catharina – o marechal Furtado de Mendonça capitulava vergonhosamente .mesmo tempo, à frente de dous ou três mil homens brancos, índios civilizados, guaycurus, atacava d. Agostin de Pinedo, as posições indefesas, é o termo, de Iguatemy. (...)

A 25 de outubro de 1777 surgia ele com suas forças esmagadoras nas vizinhanças do presidio. Os postos avançados do Passo, daquela guarnição de espectos, bravamente tiroteavam com a vanguarda invasora, emquanto tiveram munições, matando onze inimigos. Exgottadas as provisões, ordenou o comandante, capitão José Rodrigues da Silva, a retirada; foi então aprisionado.

A 26 rendia-se a guarda avançada colocada no Bom Jardim. A 27 apresentava-se o satrapa hespanhol em frente à praça. Esta a honra do pavilhão lusitano desafrontada pelos combates das vésperas; oferecia o castelhano honrosa capitulação. (...)

Offerecia d. Agostin de Pinedo plena liberdade de retirada a todos os habitantes do presidio, guarnição e povoadores e honras militares aos retirantes. Assim assignou o vigário Ramos Louzada os temos da capitulação. (...) A 1 de janeiro chegava a São Paulo um cabo de artilharia com 70 dias de viagem trazendo ao capitão-general uma carta do tenente Jeronymo da Costa Tavares os factos de Iguatemy. No dia imediato apressava-se Martins Lopes em oficiar ao vice-rei, marquez de Lavradio, contando-lhe o facto e a este proposito mais uma vez aproveitava a ocasião para aggredir violentamente a administração de seu antecessor. (...) Ao voltar de Iguatemy – episodio que lhe abona a cultura e patriotismo – trouxera o vigaria Louzada, apesar da proibição dos hespanhoes, o pesado sino da sua misérrima egreja parochial. A ele se prendia a seguinte tradição: pertencera a uma egreja do Guayrá, e Antonio Raposo como tropheo, o trouxera em 1632 para S. Paulo, de onde o remettera ao presidio o Morgado de Matheus, a título de feliz pressagio, ocasionado pela sua presença. Acha-se hoje, a preciosa e symbolica relíquia na egreja do Bom Jesus, em Itu. (TAUNAY, 1919, p. 521-531, sic).

Abandonado à própria sorte, desde que o governo paulista passara às mãos de Martins Lopes Lobo de Saldanha, o Forte tinha seus dias contados.

O novo Capitão-General, inimigo declarado de seu antecessor, não demonstrava querer dar continuidade a nenhuma das obras encetadas pelo Morgado de Mateus. Muito menos a do Iguatemi. Renegado pelo governo de Lisboa, era natural que também o fosse pelo novo Governador que o denominou “Cemitério de Paulistas”. Ciente da situação caótica e da fraqueza das possibilidades de defesa da fortaleza, o inimigo apresentou-se, corporificado em 3000 homens de tropa e grande número de índios a seu serviço. O padre Louzada, com uma centena de soldados pouco equipados rendeu-se, evitando a luta desigual (BELOTTO, 1976, p. 55).

A capitulação, em 27 de outubro de 1777, concedia aos soldados, dirigentes e oficiais, assim como todos os povoadores, com suas famílias, dinheiro e escravos, que pudessem sair, sendo-lhes concedido o tempo necessário. Mesmo que, pouco tempo depois “tivesse voltado às mãos portuguesas, já que o Tratado de Santo Ildefonso (1777) confirmava a posse lusa, o Iguatemi foi abandonado como ponto estratégico a ser defendido. Mesmo porque a guerra no Sul chegara a seu fim” (BELOTTO, 1976, p. 55). 

O forte é visitado e descrito em 1857 por Joaquim Francisco Lopes em expedições encomendadas pelo Barão de Antonina:

5 de outubro 57. Saímos cedo procurando o lugar do forte abandonado de N. S dos Prazeres do Iguatemi, demolido pelos espanhóis em 1777, duas léguas acima do Bogas, vendo um mato bom, bom barranco alto, saltamos em terra e o sr. Lopes, e dois camaradas e o cabo foram procurar o local do forte destruído; voltaram já tarde tendo achado o lugar, e saído no campo, pousamos aí. Rumo geral O. S. Oeste duas léguas.

O local dos Prazeres é muito aprazível avistando-se o curso do rio Iguatemi, bem longe, serpeando por matos, especialmente pelo meridional onde até alcança a vista tudo é mato. Este lugar deve ser saudável colocado como está na rama temperada com terreno bastante elevado, e vantajoso tanto como para um ponto de estratégia, como para colonização, tem excelentes matos de cultura e campos para criação, a comunicação como os moradores da Vacaria é fácil e destes se pode tirar muitos recursos. (CAMPESTRINI, 2007)

O espaço territorial do sul de Mato Grosso só passou a ter efetiva movimentação, após a deflagração da Guerra da Tríplice Aliança (1864-70), conforme aponta Bianchini:

Se Mato Grosso, pela sua posição geográfica, já era uma gigantesca massa territorial longínqua do litoral, praticamente sem vias de comunicação antes da guerra e sem braços para povoá-lo, após esta, não só permanecia isolado, como apresentava uma situação desoladora que os documentos da época deixaram transparecer [...] (BIANCHINI, 2000, p. 68).

A região também foi marcada pela passagem de tropas militares que participaram de batalhas durante a Guerra entre Brasil e Paraguai, principalmente às margens do Rio Espadim (afluente do Rio Iguatemi), onde as destinadas (mulheres e crianças) aportaram, forçadas pelas tropas de Solano López, que as vigiavam, a vagar em território paraguaio, durante vários meses.

Achavam-se à margem inóspita do Iguatemi, numa espécie de campo de concentração denominado do Espadim. Numerosos eram esses desventurados. No dia 14 de dezembro vimos chegar ao nosso acampamento oitenta e tantas mulheres e crianças, escapando ao terrível desterro (TAUNAY, 2008. p. 88).

Lúcia Salsa Correa também esclarece que, a região do Iguatemi foi ocupada por diversos povos em diferentes etapas:

O conquistador desse espaço complexo é sui generis, que configurou uma das últimas fronteiras do império luso na América, precisou superar obstáculos inéditos, como adaptar-se ao meio exuberante da sua natureza, enfrentar a barreira hostil dos índios canoeiros e cavaleiros, sofrer privações decorrentes da ausência de suportes de abastecimento e de segurança, penetrar com obstinação por caminhos quase intransitáveis e conformar-se em fazer longas demoradas e sofridas travessias. Por tais motivos esse processo de conquista assumiu, também o caráter de aventura, exigindo determinação e forte ambição dos pioneiros que se assentavam na região fronteiriça (CORRÊA, 1999, p. 78).

 

CONCLUSÕES

O Iguatemi não chegou a desempenhar o papel que lhe queria conferir o Morgado de Matheus, tendo representado, antes de tudo, pesado ônus para os paulistas. (...) Entretanto, em decorrência da dimensão exagerada que o Morgado de Mateus conferiu à função estratégica do Iguatemi e das circunstâncias negativas advindas, sobretudo, da falta de infraestrutura viária, econômica e demográfica, tal plano era, na 2ª metade do século XVIII, evidentemente precoce (BELOTTO, 1976, p. 56).

 

BIBLIOGRAFIA:

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BELOTTO, Heloisa Liberalli. O Presidio do Iguatemi: Função e Circunstancias (1757-1777). Trabalho apresentado ao Simpósio Comemorativo da Restauração do Rio Grande do Sul (1776-1976). Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 1976

BIANCHINI, Odaléa da Conceição Deniz. A Companhia Matte Larangeira e a ocupação da terra do sul de Mato Grosso: (1880-1940). Campo Grande, MS: UFMS, 2000.

CAMPESTRINI, Hildebrando (Org.). As derrotas de Joaquim Francisco Lopes. Campo Grande: Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, 2007. (Série Relatos Históricos, v. II).

CINTRA, Jorge Pimentel. O Mapa das Cortes e as Fronteiras do Brasil. Escola Politécnica da USP. Bol. Ciênc. Geod. Sec. Artigos, Curitiba, v. 18, nº 3, p. 421-445, jul-set., 2012.

CINTRA, Jorge Pimentel; OLIVEIRA, Rafael Henrique de. José Custódio de Sá e Faria e o mapa de sua viagem ao Iguatemi. Anais do Museu Paulista, São Paulo, Nova Série, vol. 28, 2020, p. 1-51 e 31.

CORRÊA, Lucia Salsa. História e fronteira: o Sul de Mato Grosso.1870 – 1920./ Lucia Salsa Correa.  – 2 ed. Campo Grande MS. Ed. UFMS, 2012.

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SOUZA, Jonas Soares. O Diário de Juzarte, um documento fascinante da História do Brasil. Ropresso. Segunda-feira, 4 de setembro de 2017. Disponível <http://ropresso.blogspot.com/2017/09/o-diario-de-juzarte-um-documento.html>

TAUNAY, Afonso de Escragnolle (Visconde de) Martyrios de Iguatemy 1769-1777. Revista do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro, Tomo 84, 1918, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1919, p. 489-531

TAUNAY, Alfredo de Escragnolle, Visconde de. Recordações de guerra e de viagem / Visconde de Taunay. -- Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2008.

 

[1] Doutor em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Agronegócios pela UFGD/Dourados-MS. Docente dos Cursos de Graduação em Direito e de Engenharia Ambiental e Sanitária, e do Curso de Especialização em Direitos Difusos e Coletivos da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS – Dourados/MS).

[2] Mestre em Desenvolvimento Regional e Sistemas Produtivos pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS (2018-2020). Especialista em Direitos Difusos e Coletivos pela UEMS (2016-2017). Cursou como aluno especial a disciplina Tópicos Especiais em Direitos Humanos, Cidadania e Fronteiras I: Povos indígenas, quilombolas e tradicionais e trabalhadores na América Latina na Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD (2019), no Curso de Mestrado em Fronteiras e Direitos Humanos. Graduado em Direito pelo Centro Universitário da Grande Dourados (2012). Advogado.

[3] Mestrando em Desenvolvimento Regional e Sistemas Produtivos pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS. Graduado em Relações Internacionais pela Universidade Federal da Grande Dourados (2009-2012) e, em Direito pelo Centro Universitário da Grande Dourados (2002).

[4] Historiador. Graduado em História pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS – Amambai/MS. Ed. Dourados MS: Biblio, 2018; História e formação do município de Amambai. Das memórias, imagens  e documentos. São Paulo: Editora Dialética, 2022.

[5] Oficio do Morgado de Matheus ao Conde da Cunha. São Paulo, 20 de julho de 1767. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa, “São Paulo”, doc. 2113 e “Documentos Interessantes”, v. 9, p. 4-12. In BELOTTO, 1976, p. 36.

[6] As quatro primeiras cartas do Regente ao Governador acham-se em Documentos Interessantes, v. 9. p. 20-31. In BELOTTO, 1976, p. 38.

[7] As quatro primeiras cartas do Regente ao Governador acham-se em Documentos Interessantes, v. 9. P. 20-31. In BELOTTO, 1976, p. 38-9.

[8] Carta do Conde Azambuja ao Morgado de Mateus. Rio de Janeiro, 15 de outubro de 1768. Documentos Interessantes, v. 14, p. 223-6. In BELOTTO, 1976, p. 39.

[9] Carta do Carlos Morphi a João Martins Barros. Assunção do Paraguai, 12 de abril de 1768 Documentos Interessantes, v. 9, p.44-5. In BELOTTO, 1976, p. 40.

[10] Carta de Martinho de Mello e Castro ao governador e capitão general da capitania de São Paulo, Dom Luis Antonio de Souza [...]. 1º de outubro de 1771. Arquivo Público do Estado de São Paulo. Avisos-Cartas Régias (1765-1777) – C00420, liv. 170. In MONT SERRATH, 2015, p. 9

[11] Carta de Martinho de Mello e Castro ao governador e capitão general da capitania de São Paulo, Dom Luis Antonio de Souza [...]. 20 de novembro de 1772. Arquivo Público do Estado de São Paulo. Avisos-Cartas Régias (1765-1777) – C00420, liv. 170. In MONT SERRATH, 2015, p. 10

[12] Carta de Martinho de Mello e Castro ao governador e capitão general da capitania de São Paulo, Dom Luis Antonio de Souza [...]. 21 de abril de 1774. Arquivo Público do Estado de São Paulo. Avisos-Carts Régias (1765-1777) – C00420, liv. 170. In MONT SERRATH, 2015, p. 10

[13] Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa, “São Paulo”, doc. nº. 2663. In BELOTTO, Op. Cit. p. 52

 

 

 

Autor: Alberto Fachim e outros

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