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Qual a relação da região de Camapuã com as reduções dos jesuítas?

Qual a relação da região de Camapuã com as reduções dos jesuítas?

Mudanças político-administrativas. O povoado de Camapuã, hoje considerada a capital do bezerro de qualidade, foi elevado a distrito pelo Decreto n. 272, de 19.05.1933, e o município criado pela lei n. 134, de 30.09.1948.

Etimologia. Segundo Teodoro Sampaio, o termo Camapuã, cama, seios, poã ou pu’ã, redondos, erguidos, é de origem tupi-guarani, e significa peito arredondado; o peito saliente; tal definição, antiga, é devido a existência, no lugar, de dois morros à maneira de seios de mulher.

História. Conforme publicação do IBGE, em 1958, a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, que foi planejada e orientada por Jurandyr Pires Ferreira, apresenta um esboço histórico do município de Guia Lopes da Laguna, quando da época, portanto de Mato Grosso uno.

Deve-se observar que foram mantidas a ortografia e as regras gramaticais da época da publicação da referida Enciclopédia (1958), ou seja, aquelas oriundas da reforma da língua portuguesa de 1943 e que vigoraram até 1971.

Desde o século XVI... Segundo registros históricos, a região Sul de Mato Grosso, foi bastante explorada pelos espanhóis, no primeiro lustro do século XVI. Em 1580, o espanhol Rui Dias de Melgarejo fundou a cidade de Xerez, à margem esquerda do rio Aquidauana, a cêrca de 30 léguas acima da sua confluência com o Miranda. Treze anos depois, ou seja, em 1593, os jesuítas espanhóis, procedendo da região do Guaíra, subindo o rio Paraná e depois o rio Pardo, se estabeleceram com uma redução à margem do ribeirão Camapuã, a 18 quilômetros do pôrto de desembarque no rio Pardo e a 3 quilômetros acima da atual cidade de Camapuã, iniciativa que teve uma duração de pouco mais de meio século.

Antiga “redução” dos jesuítas, na época setecentista do poderio de Castela, teve Camapuã sua fase de fastígio, com grande concentração de índios catequizados. Destruída pelos paulistas, por volta de 1650, tornou-se pouso das “bandeiras” que demandavam o rio Coxim, rumo às minas de Cuiabá.

Na rota das longas viagens, de São Paulo a Cuiabá – obra de 530 leguas por via fluvial desde Araritaguaba, alvo no varadouro de Camapuan, que os irmãos Lemes abriram, em 1723, entre o Sanguesuga, afluente do rio Pardo e o Coxim, criaram a necessidade de um sitio de abastecimento e protecção aos navegantes.

Surgiu, então, a fazenda de Camapuan (...)

Arrefecida a febre do ouro e cessadas as penetrações das “bandeiras”, caiu em completo abandono, assim permanecendo até quase os nossos dias. (...)

O início do seu repovoamento data do primeiro quartel do século XX, quando já se encontravam na região inúmeras e prósperas fazendas de criação de gado e agricultura.

Sabe-se que vários dêsses fazendeiros requereram, por intermédio da Prefeitura Municipal de Coxim, a criação do Patrimônio de Camapuã, tendo tomado parte nessa providência, principalmente, Francisco Faustino Alves, Protázio Paulino de Melo, Joaquim Capestana, Benedito Bomfim, Camilo Bomfim e Lázaro Faustino.

A primeira casa de comércio e os pioneiros. Em 1924, João Motta construiu, no lugar onde hoje se localiza a cidade, a primeira casa para se estabelecer com comércio. Desejoso de tornar aquela localidade um núcleo de mais densa aglomeração humana, o mesmo João Motta iniciou, logo depois, a construção de uma igrejinha, a qual não lhe foi possível concluir, por haver a morte lhe arrebatado a existência.

Concretizando a idéia de João Motta, outros moradores foram-se radicando na localidade, entre os quais, citam-se os nomes de: Tibúrcio Dias, Firmino Borges, Lázaro Caiana, Francisco Gonçalves Rodrigues e Alaor Gonçalves Rodrigues.

Circundado por terras próprias à agricultura e prestigiado pelos fazendeiros da região, foi-se desenvolvendo aquêle povoado, até que, a 19 de maio de 1933, pelo Decreto n. 272, foi criado o distrito de paz de Camapuã, na comarca de Coxim.

Instalado a 22 de julho de 1933, teve, como primeiro Juiz de Paz, Manoel Alves Rodrigues, e como primeiro Escrivão de Paz e Oficial do Registro Civil, Lafaiete Djalma Coelho.

O Decreto n. 319, de 30 de outubro de 1933, reserva para o patrimônio da povoação de Camapuã, no município de Coxim, mais uma área de 500 hectares, cujos limites descreve.

A Lei n. 134, de 30 de setembro de 1948, elevou Camapuã à categoria de município, com território do distrito de paz do mesmo nome e parte do de Coronel Galvão (atual Rio Verde de Mato Grosso), desmembrado do município de Coxim, e parte do de Alto Sucuriú, desmembrado do município de Três Lagoas.

Particularidades e monumentos históricos. Como particularidade histórica muito interessante, encontram-se, a 3 quilômetros da <:idade, as ruínas da antiga fazenda de Camapuã, sede da redução dos jesuítas espanhóis, construída em 1593 e destruída pelos bandeirantes paulistas, por volta de 1650. Notam-se, também, na mesma localidade, os vestígios da estrada construída pelos mesmos jesuítas, ligando a sede da fazenda ao lugar denominado “Pôrto de Desembarque”, à margem esquerda do Alto Rio Pardo.

Lamentàvelmente, não houve conservação dos restos daquelas construções, tão importantes na história do desbravamento e colonização da Província de Mato Grosso. (FERREIRA, 1958, p. 104-09).

Campestrini (2016) aponta o seguinte, referindo-se à chamada Rota de Camapuã:

Em 1719, os irmãos Leme, bem armados, com escravos e recursos, quando subiram o rio Pardo, não entraram (teria sido engano?) no rio Anhanduí, continuando naquele até suas nascentes, no cimo da serra de Maracaju, numa região denominada de Camapuã pelos índios, descobrindo nova rota para os aventureiros que, em seguida, varariam os sertões para as promissoras minas do rio Cuiabá. Aí os irmãos Leme fizeram parada e plantaram roça; feita a colheita, prepararam as farinhas (de milho e de mandioca) para prosseguir a viagem; Antão e Domingos permaneceram no local, iniciando um povoado naquele ponto estratégico; João e Lourenço rumaram para as minas do Cuiabá.

Fundava-se, naquele ano, a fazenda Camapuã, primeiro núcleo no sul de Mato Grosso, com a fixação dos primeiros povoadores não índios. Camapuã e Cuiabá foram os dois primeiros povoados do centro-oeste; os de começaram na década de 1720.

A Enciclopédia das Águas de Mato Grosso do Sul (2014) fez o registro da Fazenda Camapuã e de sua importância naquele contexto inicial do século XVIII.

Fazenda Camapuã. Os monçoeiros começaram, a partir de 1717, a percorrer os rios do sul da capitania de Mato Grosso, vindo de São Paulo pelo rio Tietê, descendo o rio Paraná e entrando em afluentes de sua margem direita. Prevaleceu como rota o rio Pardo. Naquele ano, monçoeiros entraram pelo Pardo e seguiram o Anhanduí até o córrego Lagoinha, que foi seguido; transpondo o divisor das águas, acompanharam o rio Varadouro para alcançar o rio Cachoeirão e, por este e pelo Aquidauana, o Miranda, para chegar ao rio Paraguai. Subindo por este, entrando no então São Lourenço e navegando pelo rio Cuiabá, chegaram a um lugar de nome Forquilha, onde, naquele ano, encontraram ouro em abundância. Fundou-se aí o arraial com o mesmo nome, dois anos depois, dando origem à cidade de Cuiabá.

Esta rota, chamada da Vacaria, foi logo abandonada. Preferiram os monçoeiros subir o Pardo, embora dificultoso, e, por terra (umas duas léguas e meia), atingir o ribeirão Camapuã e por ele o Coxim, levando-os ao Taquari e este ao Paraguai, seguindo, daí, a rota anterior. Esta rota chamou-se de Camapuã.

Os irmãos Leme, pioneiros nestas viagens, escolheram, já em 1719, uma área na região de Camapuã, para fundar uma fazenda que servisse de entreposto aos monçoeiros, fornecendo-lhes principalmente alimentos, pois a viagem do Povoado (São Paulo) a Cuiabá demorava uns seis meses. E Camapuã ficava na metade do caminho. O pequeno núcleo cresceu e tornou-se importante apoio à navegação fluvial. Em 1826, já em início de decadência, como atesta Florence (p. 41), contava ainda com trezentos habitantes. Com a morte de seus donos, na década de 1840, a fazenda foi abandonada até pelos escravos e rapidamente transformou-se em ruínas. O então tenente Taunay visitou-as, em meados em 1867:

Rapidamente transpusemos as três léguas que separam o Sanguessuga das ruínas de Camapuã e, ao meio-dia, avistamos os restos, para assim dizer, imponentes daquela importante fazenda, sede outrora de muito movimento, de todo o que se dava por aqueles sertões. Ainda se veem vestígios de grande casa de sobrado e de uma igreja não pequena; taperas rodeadas de matagais, no meio dos quais surgem laranjeiras e árvores frutíferas, que procuram resistir à invasão do mato e ainda ostentam frutos, como que atraindo o homem, cujo auxílio em vão esperam. (TAUNAY, 1921, p. 48).

FONTES:

CAMPESTRINI, Hildebrando et al. Enciclopédia das Águas de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, MS: IHGMS, 2014.

CAMPESTRINI, Hildebrando. História de Mato Grosso do Sul. 8. ed. Campo Grande, MS: IHGMS, 2016, p. 36-7.

FERREIRA, Jurandyr Pires (Planejada e orientada). Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 1958. XXXV Volume.

SAMPAIO, Teodoro Fernandes. O Tupi na geografia nacional. Introdução e notas de Frederico G. Edelweiss. 5. ed. São Paulo: Nacional; Brasília, DF: INL, 1987.

SETÚBAL, Paulo. Os Irmãos Leme. Belém, PA: Núcleo de Educação a Distância, sd. Disponível em: <www.nead.unama.br>. Acesso em: 12 maio 2021.

VISCONDE DE TAUNAY (Alfredo d’Escragnolle Taunay). Viagens de Outr’ora. Scenas e Quadros Mattogrossenses. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1921.



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