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Qual a origem do uso do tereré?

Qual a origem do uso do tereré? O site <www.agron.com.br> apresenta um texto sobre a origem do tereré, onde se afirma que seu uso é anterior à invasão europeia promovida por espanhóis e portugueses no território que hoje compreende Mato Grosso do Sul, Paraguai e Argentina. A invenção do uso do tereré deve-se ao povo guarani (tanto guarani-nhandeva, como guarani-kaiowá e outras etnias chaquenhas) muito antes da Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) e da Guerra do Chaco (entre Paraguai e Bolívia, 1932-1935). Há relatos, sobretudo referentes à guerra do Chaco, que as tropas começaram a beber mate frio para não acender fogos que denunciariam sua presença ao inimigo, isso possivelmente na região fronteiriça, onde se localiza, hoje, Ponta Porã.

Outra versão paraguaia da origem do tereré diz respeito aos mensús (trabalhadores dos ervais) que foram surpreendidos pelos capangas fazendo fogo para tomar mate e seriam brutalmente torturados, por isso escolheram se alistar em fileiras do exército paraguaio, introduzindo este costume, ou seja, a utilização da água fria.

Também tem a versão originada dos indígenas ao levarem o gado de um lugar para outro em comitivas, usando a erva para coar a água dos rios, evitando, assim a doença barriga d’água.

No entanto, é bem mais provável que o tereré tenha sido consumido pelos índios guarani desde tempos anteriores à invasão da América, e que por volta do século XVII os jesuítas aprenderam com eles as virtudes do mate. Os mesmos jesuítas elogiavam os efeitos da erva, que dava força e vigor e matava a sede mais do que a água pura. A infusão é riquíssima em cafeína, daí o poder revigorante.

Por esse costume cultural muito antigo dos índios guarani, do uso do tereré, Lorenzo (2013, p. 55) corrobora com esse contexto histórico:

Mate frío o tereré (nombre guaraní) tuvo que adaptarse también  al clima. El tereré, o mate frio, nació em nuestro vecino país Paraguay donde es una costumbre muy arraigada en sua cultura. También esta forma de consumo se extendió en Brasil y el litoral de Argentina (sobre todo en Misiones y Corrientes), provincias donde las temperaturas en verano también son elevadas.

Ainda Lorenzo explica que mate deriva do vocábulo quíchua mati, que quer dizer vaso ou recipiente para beber. De uma forma didática, assegura que

Así se define vulgarmente al fruto de la Legendaria vulgaris, nombre científico pra esta planta de la familia de las cucurbitáceas, rastrera para algunos, trepadora para otros. Se lo denomino puru en la cultura Inca. Los guaranies, en cambio, le decían caiguá a esse fruto (caá = yerba; i= agua; guá = recipiente). Para la cultura guarani la palavra mate deriva de la yerba de la mata (de la selva). (Ibidem, p. 27-8)

Reportando ao contexto histórico do uso do tereré, Linhares (1969, p. 78-9) também volta no tempo:

Como quer que fôsse, porém, não dispomos de documentos que revelem o uso da bebida anteriormente a 1720, quando ela já estava generalizada nos hábitos do sertão paulista, sob a forma de chimarrão.

(...)

Aliás, em muitas tribos, era comum o uso das duas maneiras, em água quente [chimarrão] e água fria [tereré], segundo a ocasião. Os guaranis fabricavam caldeirões de barro com sílica, onde faziam esquentar a água. Mas o outro processo, o do tererê [ou tereré, hoje], devia ser semelhante aos dos índios da Serra dos Dourados, os xetás, objeto de uma comunicação do Professor Loureiro Fernandes, catedrático de Antropologia, da Universidade do Paraná, de que lhe foi dado fixar cenas extremamente primitivas. Nela foi abordado o problema da bebida diária dos aborígenes, justamente o tererê, consumido sob a forma de maceração em água fria e a ser sorvido em compridas espatas de palmeira e em cabaças de cucurbitácea. (...)

Ainda Linhares lembra que o químico e naturalista argentino Domingo Parodi

(...) dizia que o mate preparado com água quente goza de propriedades das cafeínas, mas, preparado em infusão fria concentrada, constitui verdadeiro alimento azotado, reparador e nutritivo. Daí o aumento da ureia, segundo as suas próprias experiências, reiteradas e sempre concordes.

O fato é que, fria, a bebida exerce ação poderosa sobre a fisiologia humana, sobre o sistema muscular e a sua fadiga, no sentido de suprimi-la e, experimentando o aumento da atividade vital, em suas formas motrizes e vegetativas, os índios, habitantes dessas regiões, presos ao nomadismo que os fazia caminhar incessantemente, é evidente que a usassem em sua forma mais fácil e vantajosa, de acordo mesmo com o grau de civilização em que se encontravam.

Note-se que os guaranis também usavam o tereré e ainda recentemente, em fins do século passado, começo deste [1800/1900], era ele com um paladar próprio, e que os ‘viciados’ de hoje sabem distinguir.

Considere-se, ainda, a importância histórica que o mate sempre teve entre os jesuítas, que fizeram exaustivos estudos sobre a erva, desde aspectos econômicos atingindo patamares científicos de sua importância.

Assim é que, mais uma vez, Linhares esboça a importância dos trabalhos de Teschauer (p. 33 ss.) que, ao que parece, foi o pioneiro a ter acesso aos documentos da Companhia Jesuítica referentes a erva. Dessa forma, o citado autor estabelece o justo trabalho de Teschauer pela descoberta e introdutor do mate no mundo científico; que nem padre era, mas irmão Pedro Montenegro, sendo  

(...) considerado o protomédico, ao lado do padre Segismundo Asperger S.I., tido como dos primeiros botânicos do vale do Rio da Prata.

Os livros que ambos escreveram, no começo do século XVIII, mereceram de Bonpland o qualificativo de guias úteis para o estudo das plantas da região. (...)

Há nessa obra, ainda hoje inédita em grande parte, um capítulo sobre o mate, ou seja, a Ibirá caá mirí, que tem este título: “Virtudes da árvore da erva.”

Além disso, Montenegro explica, de maneira muito simples, a utilização das riquezas que a região oferecia para curar tantos males:

(...) Porque estas terras mui quentes e úmidas causam graves relaxações aos membros pela muita aspersão dos poros e vemos que de ordinário se transpira em excesso e nem o vinho, nem coisas quentes são remédios para reprimir o suor; mas sim a erva, tomada em tempo de calor com água fria, como usam os índios e em tempo frio ou temperado com água quente. (Ibid., p. 34).

De qualquer forma, a utilização do mate com água quente – chimarrão – ou com água fria – tereré – pouco importa no contexto em que os principais protagonistas dessa invenção, em todos os tempos, tiveram seus ancestrais praticamente dizimados pela gana da exploração. Porém, pelo menos no resgate que a História tem seu compromisso, esses inventores estarão sempre como os primeiros a utilizar o mate com água fria, hoje, o chamado tereré sul-mato-grossense.

Fontes:

EQUIPE AGRON. História do tereré. Disponível em: . Acesso em: 30 ago. 2020.

LINHARES, Temístocles. História Econômica do Mate. São Paulo: Livraria Jose Olimpio Editora, 1969. Coleção Documentos Brasileiros n. 138.

LORENZO, Karla Johan. El livro de la yerba mate. Buenos Aires: Del Nuevo Extremo, 2013. [Coordinado por Mónica Piacentini; dirigido por Tomás Lambré. En Español & English].



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