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Qual a origem do nome pão de açúcar, já que em MS há um morro com esse nome?

Qual a origem do nome pão de açúcar, já que em MS há um morro com esse nome?

O morro Pão de Açúcar localiza-se no município de Porto Murtinho, com altitude máxima de 545 metros. Está cartografado na Carta Topográfica Barranco Branco (MI 2617).

Toponímia. Por que o nome pão de açúcar? No período de maior produção açucareira no Brasil, séculos XVI e XVII, a cana de açúcar passava por vários processos de transformação (espremida, fervura e apuração do caldo), depois eram feitos os blocos de açúcar que eram colocados em recipientes de barro com a forma cônica; depois, exportados para a Europa. A denominação desse recipiente era pão de açúcar pela forma peculiar (parece-se com um pão e recheado com açúcar, daí o nome popular). A forma desses recipientes era semelhante ao morro existente no Rio de Janeiro, principal porto de onde saíam as exportações de açúcar; por essa semelhança e analogia foi dado o nome àquele penhasco: Pão de Açúcar, que é a forma, historicamente mais aceita. Porém, outros registros também indicaram a origem do nome àquele morro carioca, que é um bloco único de granito que sofreu alteração por pressão e temperatura, com idade superior a 600 milhões de anos e altitude de 396 metros, teve várias versões em sua toponímia. Possivelmente, a primeira, herdada dos habitantes da baía da Guanabara, os tamoios o denominavam de Pau-nh-açuquã, significando, em tupi-guarani, morro alto, isolado e pontudo. Para os franceses, no século XVI, era Pot de beurre; os colonizadores portugueses Pão de Sucar. Novamente, os franceses passaram a denominá-lo de Pot de Sucre.

Localização. O morro Pão de Açúcar localiza-se ao leste do município de Porto Murtinho, próximo à margem esquerda do rio Paraguai, e é integrante da região conhecida como Fecho dos Morros, com várias elevações próximas, contrastando com a planície do entorno, denominada, nessa área, de pantanal Apa-Amonguijá-Aquidabã. A fronteira com a República do Paraguai está a 2,5 km na direção oeste; ao sudoeste, a 2 km, situa-se a ilha Fecho dos Morros, no rio Paraguai; ao sudoeste, localiza-se o morro São Pedro, a 2,5 km de distância.

Hidrografia. O morro Pão de Açúcar (e as demais elevações do entorno) está na região pantaneira, tendo em seu entorno áreas alagadas, onde predominam vazantes, corixos, baías, características hidrográficas do Pantanal, além de um córrego e o rio Paraguai, este, ao oeste do morro. Próximo de sua aba norte, passa o baixo curso do córrego Salgado, com características de vazante; ao sul, a vazante Pão de Açúcar.

História. Raul Silveira de Mello (IHGMS, 2014b, p. 213-4) assinala que os primeiros escritos sobre a região Fecho dos Morros, onde se localiza o morro Pão de Açúcar, deve-se a

João de Ayolas, em 1537, em demanda do Peru. Ulrico Schmidl, soldado e cronista da expedição, relata que Ayolas deu o nome de São Fernando ao monte culminante da morraria que ele observou... Rui Dias de Guzman, nascido em Assunção por volta de 1554, faz referência a São Fernando ao tratar de várias expedições que subiram o rio [Paraguai].

Um alemão em terras mato-grossenses. Sobre Ulrico Schmidl, sabe-se que era soldado alemão, nasceu pouco antes de 1510, em Straubing, na Baixa Baviera (Alemanha), empreendeu viagem entre 1534 e 1554 às Índias, ao Brasil e ao rio da Prata. Não se tem notícia dos momentos finais de sua vida. Terminou seus dias, provavelmente, entre 1579 e 1581.

Sua primeira entrada em terras mato-grossenses aconteceu em fins de 1536 ou princípios de 1537, quando chegou ao porto de Candelária, próximo ao atual forte Olimpo, no Paraguai. Ulrico Schmidl ficou aproximadamente seis meses na região, hoje conhecida como Pão de Açúcar. O porto de Candelária foi assim denominado por Juan Ayolas.

No relato de Kloster e Sommer (2010), Ulrico acampou na

(...) margem esquerda do rio [Paraguai], ao pé de um morro que os espanhóis denominaram Monte Fernando e que hoje se chama Pão de Assucar. Schmidl comparou aquela elevação ao Bogenberg, na margem do Danúbio.

O Bogenberg, a que se referem Kloster e Sommer, é um morro de 322 metros de altitude e fica próximo de um braço do rio Danúbio, em sua margem esquerda, nas coordenadas geográficas centrais 48° de latitude Norte e 12° de longitude Leste, no Distrito de Straubing-Bogen, no Estado da Baviera, Alemanha.

Nas descrições de Schmidl, vivia, nas redondezas do referido morro, uma tribo denominada por ele de Piembas, tratando-se, possivelmente, dos Mbayas ou Paiaguás.

Ainda segundo Kloster e Sommer,

Merece estudo especial a segunda entrada de Schmidl em terras mato-grossenses, nos anos de 1543-1544. Foi quando Cabeza de Vaca empreendeu sua expedição ao Chaco partindo do Alto Paraguai, ficando os sub-chefes incumbidos de outras missões. Servia de base o porto de Los Reyes e a Lagoa Gaíba (Gahyba), a cerca de 18º de latitude Sul. Em conexão com os empreendimentos dirigidos por Cabeza de Vaca, o capitão Hernando de Ribeira levou a incumbência de seguir, com uma tropa de 80 homens, entre os quais se achava Schmidl, o Paraguai acima, até a região dos Xaraiés (Schmidl dá: Scherues, Wernicke: Jerús), penetrando dali, em duas (ou quatro) jornadas para o interior, ao que parece em direção Oeste (...) (p. 217).

Finalmente, em 1548, Schmidl voltou às terras de Mato Grosso quando, juntamente com Irala, esteve na lagoa Gaíba.

Sobre Irala, Campestrini (2016, nota n. 6, p. 23) informa que:

Domingo Martínez de Irala (1510-1556) fez várias explorações principalmente pelo rio Paraguai acima, a partir de Assunção. Chegou, em 1543, às lagoas Gaíba e Uberaba, fundando naquela o porto dos Reis, abandonado anos depois. Fundara, antes, o porto de São Fernando (possivelmente na atual Corumbá). Antes de 1550, os espanhóis conheciam bem o rio Paraguai até a foz do então São Lourenço, boa parte do Pantanal e a parte sul da serra de Maracaju.

Continuando com as informações de Kloster e Sommer, no

(..) relato do espanhol Hernando de Ribeira parece não haver dúvida de que as primeiras informações, apesar que diminutas, das tribos que habitavam o sudoeste do então Mato Grosso são da lavra de Ulrico Schmidl (id., ibid., p. 221).

Raul Silveira de Mello (IHGMS, 2014, p. 23) ainda assinala que a 25 de outubro de 1753, os espanhóis atingiram

O Fecho dos Morros e batizaram o estreito ali formado, entre os cerros, de Pão de Açúcar, nome do pico mais elevado ali existente. [cerro significa morro].

Alfredo Moreira Pinto, em Diccionario Geographico do Brazil, de 1894, v. 2, p. 8, informa que a denominação morro do Pão de Açúcar foi dada

pela comissão demarcadora de 1782; tem forma cônica e o mais elevado de todos os que formam essa extrema da serra... É notável esse ponto pelo ataque que lhe levaram os paraguayos, de ordem de Carlos Lopes, em 14 de outubro de 1850, em numero de 400 homens, que inesperadamente atacaram a guarnição composto de 25 praças, commandada pelo tenente Francisco Bueno da Silva, que retirou-se para a margem direita após tentar a defesa que lhe possível... [Próximo], A ilha [Fecho dos Morros] davam os guaycurus o nome de Ocrata Huetirh, que no seu idioma quer dizer pedra comprida.

Leverger, o Barão de Melgaço, também fez referências ao morro do Pão de Açúcar, sendo

(...) ao lugar chamado tambem Pão de Assucar, nome derivado da fórma do morro mais elevado da margem esquerda [do rio Paraguai]. (LEVERGER, 2005, p. 75).

Virgílio Corrêa Filho, em Pantanais Matogrossenses: devassamento e ocupação (IBGE, 1946, p. 89), assim refere-se, numa citação, sem a respectiva fonte, ao morro Pão de Açúcar:

El acidente topografico mas notable y caracteristico de todo el curso del rio”, aí forma “un bosque compacto de cerros, de altura variable alredor de los 250 m destacandose entre ellos el Pan de Azúcar, hermoso cerro de 410 m de altura de laderas rocosas y mui escarpadas – Costeando este macizo, el rio ha escavado su cauce en dos brazos entre tres cerros de 120 m de altura, ubicados sobre una linea casi normal a la dirección del cauce, a modo de estribos o pilares de un dique gigantesco.

Em 1947, José de Melo e Silva, em Canaã do Oeste, p. 37, assinalava que

Lá no fundo, como dois seios túmidos, gigantescos, daquela terra que se debruça morrendo sobre o dorso do [rio] Paraguai, erguem-se o Fecho dos Morros e o Pão de Açúcar, balizas eternas, que indicam ao sertanejo as águas que rematam os confins chaquenhos do Brasil.

Fontes:

CAMPESTRINI, Hildebrando. História de Mato Grosso do Sul: Cinco séculos de História. 8. ed. Rev. e amp. Campo Grande, MS: IHGMS, 2016.

CORRÊA FILHO, Virgílio. Pantanais mato-grossenses: Devassamento e ocupação. Rio de Janeiro: IBGE; Conselho Nacional de Geografia, 1946. Biblioteca Geográfica Brasileira, n. 2. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em: 30 jun. 2021.

KLOSTER, W; SOMMER, F. Ulrico Schmidl no Brasil quinhentista: Relatos da conquista do rio da Prata e Paraguai – 1534-1554. (Org. Gilson Rodolfo Martins; Mario Sérgio Lorenzetto; Paulo Roberto Cimó Queiroz). Campo Grande, MS: Governo de MS, 2010. Coleção Documentos para a História e Mato Grosso do Sul.

LEVERGER, Augusto (Barão de Melgaço). Vias de comunicação de Matto-Grosso. Coord. Paulo Pitaluga Costa e Silva. Cuiabá, MT: IHGMT, 2005. [1905].

MELLO, Raul Silveira de. História do Forte de Coimbra: 2.º Volume. Campo Grande, MS: IHGMS, 2014. Série Obras Completas de Raul Silveira de Mello, Vol. II.

MELLO, Raul Silveira de. História do Forte de Coimbra: 4.º Volume. Campo Grande, MS: IHGMS, 2014b. Série Obras Completas de Raul Silveira de Mello, Vol. IV.

PINTO, Alfredo Moreira. Apontamentos para o Diccionario Geographico do Brazil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1894.

SILVA, José de Melo e. Canaã do Oeste. 3. ed. Atual. e notas Hildebrando Campestrini. Campo Grande, MS: IHGMS, 2018. Série Memória Sul-Mato-Grossense, Vol. 33. [1947].



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