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Qual a origem do nome Mato Grosso?

Qual a origem do nome Mato Grosso?

Prof. Arnaldo Rodrigues Menecozi

(Artigo publicado no jornal O Estado, Campo Grande, de 10/11 de janeiro de 2021, p. C3.)

Criado em 11 de outubro de 1977, no dia 1º de janeiro Mato Grosso do Sul completou 42 anos de implantação.

Em seu nome manteve a denominação do estado do qual teve seu território desmembrado, ou seja: Mato Grosso.

Mas qual a origem deste nome? Neste artigo, o professor Arnaldo Menecozi reúne anotações bibliográficas que registram as referências iniciais ao topônimo.

Raul Silveira de Mello escreveu nove livros sobre o então Mato Grosso. Em um deles (História do Forte de Coimbra, volume 1, IHGMS, 2014, p. 223-224), o autor contextualiza as origens do nome Mato Grosso, cujo topônimo foi utilizado pela primeira vez referindo-se à região do Alto Guaporé (no atual sudoeste mato-grossense) onde os sertanistas cuiabanos conheciam tão bem porque era o espaço onde viviam à caça de índios e ainda descobriram a chapada que deram o nome de São Francisco Xavier, isto por volta de 1731-34.

Em buscas pela internet, verifica-se o mesmo texto sobre a origem do nome Mato Grosso, com três referências bibliográficas, porém o nome de Raul Silveira de Mello não é citado. Isso não quer dizer que as referidas fontes sejam de menor importância que o contexto histórico arrolado por Raul Silveira de Mello; é que mudam os sites, mas o texto é o mesmo, inclusive no site do governo do estado de Mato Grosso.

Para Raul Silveira de Mello e todas as outras fontes consultadas, as referências ao nome Mato Grosso dizem respeito à exuberância das matas que os sertanistas e cronistas da época encontravam quando se deslocavam pelas águas dos rios Paraguai ao Guaporé.

Mello esclarece ainda que em 1748 a nova província fora batizada com o nome de “Capitania do Mato Grosso e do Cuiabá”, pois estes eram os primeiros e únicos núcleos por onde começou a colonização “mato-grossense”, cujo primeiro governador, o capitão-general Antônio Rolim de Moura Tavares, fundou, quatro anos depois, a cidade de “Vila Bella da Santissima Trindade de Matto-Grosso”, que passou a “status” de capital. Dessa forma, o nome “Mato Grosso” foi oficialmente institucionalizado.

Note-se, porém, que no nome da cidade de Villa Bella, Matto-Grosso não aparece precedido de artigo, mas da preposição “de”. Seria já o uso comum sem o artigo, equívoco, ou não se levou em conta essas questões gramaticais?

Sobre isso, o saudoso professor Hildebrando Campestrini, em “Questões Gramaticais Sul-Mato-Grossenses”, de 2003, registrou que “emprega-se artigo somente com topônimo que se originou de nome comum”, e Mato Grosso tem origem comum; todavia, o uso corrente alterou sensivelmente este preceito. Pela norma clássica, Mato Grosso deveria ter artigo, pois o substantivo comum “mato” passou a próprio (Mato) e, por consequência, também Mato Grosso do Sul deveria estar precedido de artigo. Mas, não é o caso, então, nunca “do Mato Grosso do Sul”; sempre “de Mato Grosso do Sul”.

Nos registros de Mello, há de se considerar que, até fins do século 18, surgiram outros povoados próximos aos dois primeiros (Vila Bela e Cuiabá), portanto já não seria correta a afirmação da Capitania com o nome de apenas dois núcleos de povoados, sendo que o nome de Vila Bela foi o que mais atendeu, naquele momento, prevalecendo até 1815, quando, definitivamente o nome Mato Grosso estendeu-se a toda capitania.

Primeiros registros

O inicial sentido de adjetivação à majestosa floresta que os pioneiros sertanistas registraram, quando contemplaram, pela primeira vez, em meio a entusiasmo e surpresa, “a espessa, alterosa e exuberante mataria que se lhes deparou aos olhos ao saírem das vertentes do Paraguai para as do Amazonas. Esse brado de admiração emitido em face daquela portentosa floresta teria sido: ‘Mato Grosso’!”.

É o que se apreciava nas terras mato-grossenses de então, entre todos os quadrantes. Porém, Mello ainda aponta a presença de outros tipos florísticos, como vastidões de cerrados, pradarias, carandazais, planícies inundáveis, mas aonde sobrepuja a mataria é de causar espanto àqueles que se deparavam com a imensidão do “mato grosso”.

O primeiro registro que se tem notícia do nome Mato Grosso é de 1727, quando um cronista cuiabano (que ficou no anonimato) situou geograficamente a vila de Cuiabá:

“Acha-se esta vila... distante da villaboa de goyas trezentas Legoas do Matogrosso oitenta e do Arrayal de Santo Antonio dos Arayes cento e sincoenta que sam as povoaçoins mais vizinhas que tem”. O nome que aparece é Matogrosso”.

Quatro anos mais tarde, 1731, a crônica cuiabana acrescenta à descrição geográfica a região do Guaporé, o que não acontecia anteriormente, porque a primeira porta de entrada para Mato Grosso se deu por Goiás. Agora, nesse novo registro, Guaporé passa a ser referência a outra euforia futura, inclusive com a popularização do nome “Mato Grosso”: “apresentarão hum cruzado de ouro de amostra das minas de Mato Grosso”.

Conforme dados do site do governo mato-grossense,

“em 1734, estando já quase despovoada a Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá, os irmãos Fernando e Artur Paes de Barros, atrás dos índios Parecis, descobriram veio aurífero, o qual resolveram denominar de ‘Minas de Mato Grosso’, situadas nas margens do Rio Galera, no vale do Guaporé”.

Não só as minas de ouro impressionaram os irmãos Paes de Barros, pois a exuberância de sete léguas de mato espesso também foram qualificadas como extraordinárias: “mato grosso”, nome colonial do século 18, e que perdura até os dias atuais.

Outro detalhe registrado com o nome mato grosso é da lavra do escrivão da Câmara de Vila Bela, quando citou o nome mato grosso: “Anais de Vila Bela da Santíssima Trindade desde o descobrimento do sertão do Mato Grosso no anno de 1734”, referindo-se, entre outros assuntos, aos irmãos Paes de Barros:

“Saiu da Vila do Cuiabá Fernando Paes de Barros com seu irmão Artur Paes, naturais de Sorocaba, e sendo o gentio Pareci naquele tempo o mais procurado, (...) cursaram mais ao Poente delas com o mesmo intento, arranchando-se em um ribeirão que deságua no rio da Galera, o qual corre do Nascente a buscar o Rio Guaporé, e aquele nasce nas fraldas da Serra chamada hoje a ‘Chapada de São Francisco Xavier do Mato Grosso’, da parte Oriental, fazendo experiência de ouro, tiraram nele três quartos de uma oitava na era de 1734”.

Dessa forma, ainda em 1754, vinte anos após descobertas as Minas do Mato Grosso, pela primeira vez o histórico dessas minas foi relatado num documento oficial, onde foi alocado o termo “mato grosso”, e identificado o local onde as mesmas se achavam. Porém, o site alerta: o histórico da Câmara de Vila Bela não menciona porque os irmãos Paes de Barros batizaram aquelas minas com o nome de Mato Grosso.

José Gonçalves da Fonseca escreveu, por volta de 1780, a “Noticia da situação de Mato-Grosso e Cuyabá: estado de umas e outras minas e novos descobrimentos de ouro e diamantes” (publicado pela “Revista do IHGB”, em 1866, parte primeira, p. 352-390), de onde se extrai, depois dos primeiros cronistas cuiabanos, a adjetivação a mataria exuberante: “mato grosso”:

“No anno de 1736 sahindo uma tropa de gente da villa do Cuyabá a explorar as campanhas dos gentios, chamados paracizes (parecis), cuja nação já a este tempo se achava extinta, e habitava nas dilatadas planície do norte da grande Chapada: e achando a referida tropa todo aquelle continente destituido de tudo, o que pode se fazer interesse ás suas diligencias, se determinaram atravessar a cordilheira das Geraes de oriente para poente: e como estas montanhas são escalvadas, logo que baixaram á planicie da parte opposta dos campos dos Paracizes (que só têm algumas ilhas de arbustos agrestes), toparam com matos virgens de arvoredo muito elevado e corpulento, que entrando a penetral-o, o foram apelidando Mato-Grosso: e este é o nome, que ainda hoje conserva todo aquelle districto” (p. 353-354).

Há de se destacar, ainda, que o nome “mato grosso” foi se consolidando sem objeções sobre tal denominação. Fora esse nome, que denominação poderia ter esse imenso pedaço de terra no coração do Brasil? Parece não haver nome que melhor explique essa terra.

Da mesma forma, em movimentos pretéritos com a tentativa de mudança do nome de Mato Grosso do Sul para Estado do Pantanal ou até os equívocos de que, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, Vespasiano Martins instalou, em Campo Grande, o Estado de Maracaju.



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