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Por que não é o rio Paraná afluente do rio Paraguai?

Por que não é o rio Paraná afluente do rio Paraguai?

Prof. Arnaldo Rodrigues Menecozi

O rio Paraguai é afluente, pela margem direita, do rio Paraná, entrando neste na Argentina, na cidade de Paso de La Pátria, na província de Corrientes, logo após a fronteira com a República do Paraguai. Nasce no estado de Mato Grosso, adentrando em Mato Grosso do Sul nas proximidades da morraria da Ínsua, e corta o Pantanal sul-mato-grossense de norte a sul, mais ao oeste. Banha as cidades de Corumbá, Ladário e Porto Murtinho. A partir da ilha do Marco é fronteira com a Bolívia, até ao sul da ilha do Rio Negro; posteriormente é fronteira com a República do Paraguai até a foz do rio Apa. Sua extensão total: 2.477 km; de Cáceres à fronteira com a República do Paraguai, no município de Porto Murtinho, são 1.278 km, totalmente navegáveis pelas águas paraguaianas; em Mato Grosso do Sul percorre 874 km. É o principal rio da bacia homônima, sendo integrante da bacia platina, juntamente com os rios Paraná e Uruguai e suas respectivas bacias. O rio Paraguai está cartografado nas seguintes cartas topográficas, no sentido longitudinal norte-sul: Morro do Campo, Amolar, Paraguai-Mirim, Barranqueiras, Corumbá, Albuquerque, Porto Esperança, Forte de Coimbra, Nabileque, Baía Negra, Rio Nabileque, Barranco Branco, Porto Murtinho e Foz do Rio Apa.

Rio tipicamente de planície, com muitos meandros em seu percurso, foi objeto de um estudo pioneiro do engenheiro argentino Luis Tossini,

(...) realizado no ano de 1931, [de onde] lê-se ‘desde Cáceres a Barra Norte de Bracinho – unos 160 kilómetros – el río Paraguay sigue un curso sinuoso en un valle entre colinas bajas y una llanura aluvial bien definida’ (...) (ZUGAIB, 2006, 139).

Etimologia. A origem etimológica da palavra Paraguay é explicada por Teodoro Fernandes Sampaio da seguinte maneira:

Paraguá-y, o rio dos papagaios. Pode também significar o rio dos cocares ou das coroas. [Quanto ao sentido rio dos papagaios, Teodoro Sampaio explica à nota 183 de sua obra que “(...) Paraguá-y continua discutida, não só pela existência da palavra guaia – vale, como também por ser oxítono o termo indígena”]. No vocábulo paraguay assinala-se uma das diferenças de pronunciação entre o guarani e o tupi do Brasil. No guarani, quando o vocábulo composto tem aguda a última sílaba do tema, a tônica da palavra fica nesta sílaba, não assim no tupi do Brasil. Assim, por exemplo, Uruguá-y, Paraguá-y, Acará-y pronunciam-se no guarani Uruguái, Paraguái, Acarái; no tupi do Brasil, Acaraí e, se não fosse o uso, Uruguaí, Paraguaí.

História. O rio Paraguai foi de fundamental importância para a penetração dos colonizadores, praticamente único acesso à capitania de Mato Grosso. Nele ocorreram, no século 18, ferozes e frequentes ataques dos índios paiaguás e guaicurus aos monçoeiros que viajavam de São Paulo a Cuiabá. O rio Paraguai, ainda, foi palco de alguns conflitos durante a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), com o Paraguai, como a tomada do Forte de Coimbra, de Albuquerque e Corumbá e o combate do Alegre (11 de julho de 1867, no então leito do rio São Lourenço). Após a guerra, foi importante rota do comércio para Corumbá, Cuiabá e Cáceres. Menecozi (2021, p. 25 ss.), em Diálogos da História entre os morros, serras e morrarias de Mato Grosso do Sul, aponta que em toda a extensão em território sul-mato-grossense, o rio Paraguai tem 97 ilhas, incluindo aquelas que fazem fronteira com as repúblicas da Bolívia e do Paraguai.

A partir da ilha do Marco, distante 10 km ao sul do Forte de Coimbra, faz fronteira com a Bolívia, até ao sul da ilha do Rio Negro; posteriormente com a República do Paraguai até a foz do rio Apa. Sua extensão total é de 2.477 km; em Mato Grosso do Sul o rio Paraguai percorre 874 km, totalmente navegáveis.

A ilha do Rio Negro localiza-se próxima da margem direita do rio Paraguai, no município de Corumbá, perto da tríplice fronteira entre Bolívia, Brasil e Paraguai. O nome da ilha refere-se ao rio homônimo que faz fronteira entre as Repúblicas da Bolívia e do Paraguai.

No aspecto histórico, o rio Paraguai foi importante para a penetração dos colonizadores, praticamente único acesso à capitania de Mato Grosso. Significativo relato de Leverger, o Barão de Melgaço, quando fez anotações sobre o rio Paraguay, em Vias de Communicação de Matto-Grosso, ressaltou sua importância no contexto regional:

É no valle do Paraguay que reside quasi toda população civilisada desta Provincia [Cuiabá, com 22.000 habs.; Corumbá, 12.000, e Caceres, 8.000]. Mais dos 4/5 occupão em redor da Capital um espaço de quando muito, 1.600 leguas quadradas, na parte superior e oriental do dito valle limitado a Oeste pelo mesmo rio Paraguay, a Leste pelo S. Lourenço, é atravessado pelo Cuiabá, e 1/10, pelo menos da referida população habita na freguezia de Albuquerque e Miranda, ribeirinhas, aquella do grande rio e esta do seu tributario o rio de Miranda. É sabido, aliás, que a navegação está sendo praticada por embarcações movidas a valor, desde a fóz do rio da Prata até Cuiabá [desde 1857] e ainda acima, n’uma extensão de quasi 700 leguas. (LEVERGER, 2005, p. 52-3).

As monções e as portas de entrada em Mato Grosso; leia-se ao Pantanal. O território mato-grossense uno foi palco de diversas contendas com interesses de conquistas de governos e aqueles representados pela saga econômica dos centros hegemônicos da então colônia Brasil, nesse caso, especialmente as metrópoles litorâneas, excetuando-se, a partir do século XVIII, os monçoeiros paulistas, sempre por trajeto fluvial, via rio Tietê.

Todavia, oficialmente entre o século XVI até 1777 toda essa faixa de terras mato-grossenses pertencia à Espanha, originalmente pelo Tratado de Tordesilhas. Evidente que Portugal nunca respeitou a fronteira imaginária entre os dois países, mesmo porque não havia nenhum marco de identificação fronteiriço. Daí que as primeiras investidas de exploração nessas terras foram, por força do poder político, iniciativas hispânicas.

Antes da histórica dominação bandeirante paulista por essas terras, primeiramente à procura de aprisionamento de índios, depois, e por acaso, pelo ouro, o rio Paraguai foi o caminho primevo de entrada. Nesse caso, Valverde (1986) aponta várias portas de entrada utilizando-se o Pantanal como o lócus principal para as empreitadas dos conquistadores.

A primeira porta Valverde chamou de verdadeira. Para isso, indica o rio Paraguai como o caminho para se chegar ao Pantanal, através do Colo do Fecho dos Morros, mesmo porque ainda vigorava o famoso Tratado.

Há de se considerar essa porta como verdadeira pelo fato de que os espanhóis, sediados em Assunção, fundada a 15 de agosto de 1537, por onde passa o rio Paraguai, sendo, portanto, esse o único caminho possível para exploração e reconhecimento de novos horizontes a desbravar.

Apesar de a história oficial registrar esses dados da presença espanhola, pós século XVI, ignora as relações sociais pré-colombianas existentes, sobretudo na América do Sul, é digno o registro de tudo quanto foi produzido pelos ancestrais indígenas nessa vasta região, a que hoje denominamos bacia do rio da Prata. Os tupis-guaranis.

Tais informações baseiam-se na obra Identidade e interculturalidade, história e arte guarani, de Marilda Oliveira de Oliveira (2013, p. 31 ss), onde assinala que estudos arqueológicos, verificados nas cidades gaúchas de São Borja e São Nicolau, atestam que “os guaranis emigraram da região amazônica em direção ao sul do continente americano, mais ou menos entre os anos 300 e 350 d.C.” (p. 31). O guarani era seminômade, cuja fixação em um determinado local se dava no período do plantio e da colheita.

Entre suas características peculiares, que tanto chamaram a atenção quando dos primeiros contatos com europeus, o que mais causou admiração foi o fato de que “como milhares de povos vivendo tão isolados socialmente podiam conservar o mesmo idioma, num território mais extenso que a Europa?” (p. 32).

Apesar dessa unidade linguística, os tupis-guaranis tinham a característica de, frequentemente, estarem em guerras entre si. Não fugiam dos demais primitivos estudados: viviam da caça, pesca e agricultura de subsistência, de onde cultivavam o milho, a mandioca e a batata-doce.

Ainda segundo a referida autora, os guaranis também se cobriam de muitas lendas; tinham eloquência, apesar de reservada aos caciques. Não tinham literatura escrita, cujo registro, na forma oral, só foi possível permanecer as lendas, nem a eloquência dos caciques foi possível o respectivo registro.

É digno de registro que não foi, em verdade, aquele tratado, o de Tordesilhas, que confinou as primeiras incursões apenas pelo rio Paraguai e não se estendendo para as bandas orientais do atual território sul-mato-grossense. O que determinou essa única porta verdadeira foi exatamente o fato de que, estando na planície pantaneira, a geografia daqueles sertões aprisionou (MARSHALL, 2018) esses exploradores tão somente pelas águas paraguaias, pois tiveram poucas escolhas de ação no novo território.

E por que não foram adiante, além dos confins orientais? Simplesmente pelas dificuldades de penetração nas fechadas e densas florestas de então que cobriam o vasto território desconhecido, além, imagina-se, da imensidão das águas pantaneiras que representavam em forte motivo para que viagens para o leste não se prosseguissem. Aliam-se a essas dificuldades naturais a presença de nativos, que, pela lógica humana, poderiam ser hostis quando invadidos; mosquitos transmissores de doenças endêmicas e ataques de animais os mais variados.

Não se eiva, de forma alguma, a conotação sobre o determinismo geográfico, propagado pela Alemanha, sobretudo a partir do século XIX, nem de maneira fatalista. Assim, desde o século 16, historiadores registram as mesmas sagas, desde Álvaro Cabeza de Vaca que, após chegar a Assunção, ordenou o reconhecimento à montante do rio Paraguai.

Para essa empreitada, foi designado Domingo de Irala; fundou o Puerto de Los Reyes, na parte ocidental da lagoa Gaíba, onde hoje é território boliviano. Essa lagoa é integrante dos marcos de fronteira entre Brasil e Bolívia; sua parte ocidental está em território boliviano; o mais pertence ao Brasil, no noroeste do atual Mato Grosso do Sul, integrante das elevações do Amolar.

Puerto de los Reyes

Apesar da localização inequívoca do Puerto de los Reyes, o mapa Rio Paragvay, provincia de rio de la plata, de 1610, autoria do holandês Gurljelmus Blacuw, de Amsterdam, aponta que o mesmo situava-se na margem esquerda do rio Paraguai, mais ou menos onde está o morro dos Dourados.

Os tratados de limites entre os dois países, especificamente o de 1867 (Brasil/Bolívia) e o de Petrópolis, em 1903, ratificaram a posição da lagoa Gaíba que permaneceu com suas águas binacionais. Esse tratado de 1867 consignou que a linha de fronteira passaria pelo meio da lagoa Gaíba, de tal forma que as partes altas do Amolar e a ilha Ínsua ficariam em território brasileiro.

Tratado de Limites Brasil/Bolívia

O Tratado de Amizade, Limites, Navegação, Comercio e Extradição, conhecido como Tratado de Ayacucho, firmado entre os dois países a 27 de março de 1867, em seu Artigo 2.º, assim estabelece os seguintes marcos fronteiriços:

A fronteira entre o Imperio do Brazil e a Republica de Bolivia partirá do Rio Paraguay na latitude de 20º 10’, onde desagua a Bahia Negra; seguirá pelo meio desta até ao seu fundo e d'ahi em linha recta á Lagôa de Caceres, cortando-a pelo seu meio; irá d’aqui á Lagôa Mandioré e a cortará pelo seu meio, bem como as Lagôas Gaiba e Uberaba, em tantas rectas quantas forem necessarias, de modo que fiquem do lado do Brazil as Terras Altas das Pedras de Amolar e da Insua. 

Cidade de La Paz de Ayacucho, na Bolivia, aos vinte e sete dias do mez de março de mil oitocentos e sessenta e sete.

Celebrado a 17 de novembro de 1903, o Tratado de Petrópolis foi aprovado por lei federal de 25 de fevereiro de 1904, sendo regulamentada por decreto presidencial de 7 de abril de 1904.

Em seu Artigo 1.º, Parágrafo 3.º, o Tratado de Petrópolis entre Brasil e Bolívia (1903) estabelece o seguinte:

Do marco septentrional na Lagoa Mandioré continuará em linha recta, no mesmo rumo que hoje, até a latitude 17º 49’ e por este parallelo até o meridiano do extremo sudoeste da Lagoa Gahiba. Seguirá esse meridiano até a lagoa e atravessará esta em linha recta até o ponto equidistante dos dois marcos actuaes, na linha antiga de fronteira, e depois por esta linha antiga ou actual até a entrada do canal Pedro Segundo, tambem chamado recentemente Rio Pando.

Feito na cidade de Petropolis, aos dezessete dias no mez de novembro de mil novecentos e tres.

Ainda com base em Menecozi (op. cit.), várias são as classificações do Pantanal. Entretanto, o IHGMS utiliza aquela considerada oficial para fins de pesquisa e outras finalidades, cujos estudos foram realizados em 1989, através do Macrozoneamento Geoambiental de Mato Grosso do Sul, com as seguintes denominações: Pantanal de Uberaba-Mandioré, Pantanal da Nhecolândia, Pantanal de Paiaguás, Pantanal do Negro-Aquidauana, Pantanal do Negro-Miranda, Pantanal do Baixo Taquari-Paraguai, Pantanal do Aquidauana-Miranda, Pantanal do Castelo-Mangabal, Pantanal do Corixão-Piúva-Viveirinho, Pantanal da Baía Vermelha-Tuiuiú, Pantanal do Apa-Amonguijá-Aquidabã, Pantanal do Rio Verde e Pantanal do Jacadigo-Nabileque.

Além desses treze pantanais, o Atlas Multirreferencial aponta o Pantanal Planície do Rio Paraguai, referindo-se às áreas paralelas às margens do rio homônimo em grande parte de sua extensão longitudinal em Mato Grosso do Sul, embora de pequena extensão comparada com os demais pantanais, e igualmente importante quando trata-se da relação não só de elevações topográficas, mas na manutenção da vida aquática e botânica que ali manifestam-se. O Pantanal Planície do Rio Paraguai corresponde aos depósitos aluviais do rio homônimo, que caracterizam vasta planície fluvial, com grande número de lagoas de várias dimensões. A vasta planície do rio Paraguai comporta aluviões atuais, areais, silte, argila e sedimentos mais antigos, síltico-argilosos e argilo-arenosos.

A hidrovia do rio Paraguai

A hidrovia do rio Paraguai ocorre no rio homônimo, e a Marinha do Brasil divide o trajeto em 5 trechos, chamados tramos.

O primeiro tramo, de Cáceres, no estado de Mato Grosso, a Corumbá, tem distância de 679 km; o segundo vai de Corumbá a Porto Murtinho, com 531 km; o terceiro, de Porto Murtinho à Assunção, na República do Paraguai, 602 km; o quarto, entre Assunção à Santa Fé, na República Argentina, com 1.040 km; o quinto tramo é dividido em dois trechos: de Santa Fé a Nova Palmira, na República Oriental do Uruguai, com 590 km, e entre Nova Palmira e Buenos Aires, na República Argentina, distância de 140 km.

Trechos do rio Paraguai.

O engenheiro Luís Tossini, da Argentina, citado por Valverde (1986, p. 62 ss.), pesquisou o rio Paraguai em 1931, estabelecendo quatro trechos em todo seu percurso:

a) Zona das nascentes ou das serras: extensão de cerca de 270 km, entre as cabeceiras e a confluência do rio Jauru (MT), em altitudes compreendidas respectivamente entre 300 metros e 125 metros sobre o nível do mar. Somente nos primeiros 200 km corre o rio Paraguai nem verdadeiro vale.

b) Zona de expansão ou de represamento. Corresponde ao chamado Pantanal de Mato Grosso, que constitui imensa bacia de recepção, em forma de anfiteatro, entulhada de sedimentos arenosos muito friáveis. Contribui, assim, de maneira decisiva, para a regularização do regime do rio. Este percurso se estende por uma distância, em linha reta, de 770 km, da foz do Jauru [em Mato Grosso], até a do Apa, entre as cotas de 125 e 83 metros sobre o nível do mar, respectivamente.

Ressalte-se que, nesse trecho, a elevação do Fecho dos Morros, que forma a ilha homônima do rio Paraguai, representa mais um fenômeno topográfico do que relacionado ao próprio rio, podendo ser considerado, dessa ilha até sua jusante, o Pantanal propriamente dito. Como dado histórico, o marco representado pelo Fecho dos Morros serviu de fronteira entre o Brasil e a República do Paraguai, conforme consta do Tratado de Limites, de 9 de janeiro de 1872, que estabeleceu, em seu art. 1.º, que a referida “ilha é domínio do Brasil”. Posteriormente, o Decreto n. 19.018, de 3 de dezembro de 1929, também entre os dois países signatários, ratificou o referido limite.

c) Zona de descarga. Esse novo trecho do rio Paraguai começa na foz do rio Apa, na fronteira entre Brasil e Paraguai, e prolonga-se até a ponta de Itapiru, em Lomas Valentinas, em território paraguaio, a 47 km a jusante de Assunção. Esse percurso é de 410 km de extensão do vale, com a característica de apresentar um desnível de 24 metros entre as cotas dos dois extremos – 83 metros na foz do Apa e 59 metros na ponta Itapiru –, contribuindo para aumento da velocidade do rio. Outro fator a considerar refere-se ao aumento das águas do rio Paraguai através dos afluentes, sobretudo da margem direita, onde o relevo apresenta extensa planície, diferente da área da margem esquerda com elevações que evitam alargamento das águas durante as grandes cheias. Só pela margem esquerda, a largura dessas águas alcança de 5 a 10 km.

d) Zona de embocadura.  O quarto trecho do rio Paraguai, considerado por Tossini, tem uma distância de 230 km, entre Lomas Valentinas até a foz, no rio Paraná, entrando neste na Argentina, na cidade de Paso de La Pátria. Pelas curvas do rio, a distância chega a 350 km; a largura média do leito é de 700 metros, mas durante os períodos das cheias chegam entre 10 a 15 km de largura. Além disso, há o registro do aumento das águas, por causa da contribuição trazida pelo rio Bermejo, em território argentino, afluente, pela sua margem direita, ocorrendo uma mudança radical na velocidade da corrente.

Paraguai e Paraná: quem é afluente de quem?

Todos os registros hidrográficos informam que o rio Paraguai é afluente do Paraná. E por que não o contrário?

Nessa questão, deve-se levar em conta o conceito de captura de um rio que, nesse caso envolve os rios Paraguai e Paraná; o primeiro, com o seu leito longitudinal em toda a depressão do relevo pantaneiro, recebeu as águas do Paraná, sendo, então, este rio capturado. Apesar de que essa longitudinalidade não seja uniforme, sobretudo em determinadas áreas do Pantanal, causada por falhas tectônicas, situação típica próxima à Corumbá, por onde o rio Paraguai passa na porção norte da cidade.

Valverde (op. cit., p. 47) cita Stenberg, quando indica que até o holoceno, logo depois do início da Era Terciária (há aproximadamente 50 milhões de anos), tanto as falhas como as fraturas, continuaram ativas e que, por isso, afetaram todo o conjunto sedimentar, podendo a drenagem ter seguido a direção perpendicular, isso em determinadas partes do Pantanal.

Nesse entendimento, o rio Paraguai continuaria normalmente com a mesma denominação, até desembocar no rio da Prata ou no estuário do Prata; o rio Paraná, então, deveria ser afluente do Paraguai, quando suas águas se encontram, exatamente em Paso de La Pátria.

A Captura de um rio é quando ocorre um desvio de um determinado rio e este tem suas águas lançadas em outro leito, constituindo-se um fenômeno de perda para o rio capturado, e um acréscimo ao capturador.

O rio Paraná, que é formado pelos rios Paranaíba e Grande, também tem seu leito longitudinal, semelhante ao do Paraguai, só que tendendo à direção SSW. Caso permanecesse nessa direção, o caminho mais lógico seria alcançar o curso inferior do atual rio Uruguai. Além desse possível deslocamento do leito do rio Paraná, há também, a possibilidade de que o rio Paraná poderia ter tomado o rumo no sentido oeste-leste, aproveitando da Depressão Transversal dos vales do Ibicuí e Jacuí, para, posteriormente, ter sua foz no Atlântico através do estuário do Guaíba.

Depressão Transversal. De uma maneira geral, depressão refere-se a uma área que esteja em altitudes menores que outras do seu entorno em uma dada região. O sentido transversal pode adquirir direção oblíqua ou perpendicular a um plano mencionado longitudinal.

Ainda segundo Valverde,

O falhamento ligado à orogenia andina causou uma transgressão marinha durante o Mioceno, na província argentina de Entre Rios. O Paraná teria então desviado seu curso inferior, passando a desaguar nesse golfo. A sedimentação e pequenos movimentos eustáticos negativos [quando as águas se afastam] fecharam o golfo pampeano, porém mantiveram o desvio atual do baixo Paraná.

Essa captura teria deixado, como vestígios geomórficos atuais, o cotovelo do rio Paraná em Encarnación e os saltos de Sete Quedas e Iguaçu.

Qual seria então o rio principal, o Paraná ou o Paraguai?

Tomando-se o ponto de vista tectônico, que é (...) o fator principal na orientação da bacia, o rio principal seria o Paraguai.

Também quanto à proximidade em relação ao perfil de equilíbrio, o rio Paraguai seria o principal, pois enquanto ele foi favorecido por trabalhar em sedimentos tenros, o Paraná teve logo de atacar os duros e espessos derrames basálticos.

Tomando, no entanto, como critério a descarga, o Paraná levará nítida vantagem.

Por fim, a tradição popular determinou chamar de Paraná ao baixo curso comum, com que os dois rios atravessam a República Argentina.

Este último critério é, afinal de contas, o preponderante, embora de menor valor científico. O justo seria denominar “Paraná-Paraguai” o trecho inferior, em que as águas dos dois rios correm reunidas. (VALVERDE, op. cit., p. 47). (grifos nossos).

De destaque, aponta-se a importância do estudo do relevo e o seu processo estrutural, além da influência direta nas direções dos cursos d’água, de onde, são definidas redes e bacias hidrográficas.

As redes hidrográficas se referem à disposição do traçado dos cursos d’água e dos vales de onde vai haver várias formas de drenagem.

As bacias hidrográficas definem o conjunto de terras que são drenadas por um rio principal e seus afluentes.

 

Fontes:

CAMPESTRINI, Hildebrando et. al. Enciclopédia das Águas de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, MS: IHGMS, 2014.

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CORREA, Ingeniero Federico. Mensura del valle del Nabileque. Buenos Aires: Fomento Argentino Sudamericano, 1910.

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ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL; IBGE. Atlas Multirreferencial de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, MS: Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral, 1990.

GUERRA, Antônio Teixeira; GUERRA, Antônio José Teixeira. Novo Dicionário geológico e geomorfológico. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 2003.

GUSMÁN, Ruy Diáz de. Historia argentina del descubrimiento, población y conquista de las províncias del Río de la Plata. Disponível em: <www.cervantesvirtual.com>. Acesso em: 02 abr. 2018. [1612].

LEVERGER, Augusto. Barão de Melgaço. Vias de Communicação de Matto-Grosso. Cuiabá, MT: IHGMT, 2005. Série Publicações Avulsas, n. 66. [1905].

MAMIGONIAN, Armen. Inserção de Mato Grosso ao mercado nacional e a gênese de Corumbá. In: GEOSUL. Florianópolis, UFSC, 1986, N.º 1, ANO I, p. 39-58.

MARSHALL, Tim. Prisioneiros da Geografia. 10 mapas que explicam tudo o que você precisa saber sobre política. Tradução Márcio Scalércio. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

MENECOZI, Arnaldo Rodrigues. Diálogos entre a História e os morros, serras e morrarias de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, 2021.

OLIVEIRA, Marilda Oliveira de. Identidade e interculturalidade: História e arte guarani. 2. ed. Santa Maria, RS: UFSM, 2013.

RONDON, Gen. de Div. Candido Mariano da Silva. Carta do Estado de Mato Grosso e regiões circunvizinhas. Direcção gráfica executiva do Gen. Francisco Jaguaribe Gomes de Mattos. Rio de Janeiro: Ministério do Exército, 1952. Nove folhas; colorido; escala 1:1.000.000.

SAMPAIO, Teodoro Fernandes. O tupi na geografia nacional. 6. ed. Salvador, BA: Gráfica Falcão, 2010. Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. [1901].

VALVERDE, Orlando. Fundamentos geográficos do planejamento do município de Corumbá. In: BOLETIM CAMPO-GRANDENSE DE GEOGRAFIA. Campo Grande, MS: AGB, Seção Local Campo Grande, 1986. Boletim Campo-Grandense de Geografia, n. 1. p. 25-119. [1972].

ZUGAIB, Eliana. A Hidrovia Paraguai-Paraná Brasília. Brasília: Funag, 2006. Cursos de Altos Estudos, n. 98, p. 141. Disponível em: <funag.gov.br/biblioteca>. Acesso em: 14 jun. 2021.



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