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Por que a região do Amolar foi considerada Paraíso Terrenal?

Por que a região do Amolar foi considerada Paraíso Terrenal? A serra do Amolar, localizada no extremo noroeste no município de Corumbá, próximo à divisa com o Estado de Mato Grosso e da fronteira com a Bolívia, tem altitude máxima de 976 metros. Geomorfologia e o conceito de serra. Com relação às serras, inclusive de todo Brasil, merece o seguinte destaque: foi mantido o nome dessa espécie, porque não se pode alterar a denominação contida nas cartas topográficas, tidas como documento oficial. Porém, há de se registrar que a denominação de serra, amplamente utilizada no Brasil, faz parte daqueles conceitos enraizados no consciente coletivo como correto, onde poucas discussões, ou quase nenhuma, ocorrem sobre esses temas. Menecozi (2018, p. 4) já alertara sobre a celeuma desse conceito:

Uma serra, no sentido geográfico, é toda elevação pontiaguda do relevo, com neve constante em suas extremidades, cujo coletivo chama-se cordilheira, como a dos Andes.

No Brasil, o termo serra tem substituído a real denominação geomorfológica de determinadas escarpas de planalto que, nunca poderiam ser consideradas serras algumas elevações entre 50 a 100 metros de altitude. Há situações que são verdadeiras cuestas. Escarpa é uma rampa ou aclive de terrenos que aparecem nas bordas das elevações, chamadas de planaltos, serras ou morros testemunhos. Há dois tipos de escarpa: as de origem tectônica, produzidas por grandes movimentações da natureza, como as do Planalto Atlântico. O outro tipo de escarpa é a de erosão, como ocorre no território sul-mato-grossense, cujos resultados abruptos foram escavados pelos agentes erosivos (vento, chuva e temperatura). A cuesta, por sua vez, é uma forma de relevo dissimétrico que apresenta um declive suave em seu reverso, e um corte abrupto ou íngreme em seu front, ou na chamada frente de cuesta. É o tipo de relevo que predomina nas bacias sedimentares, como é o caso onde se assentam as elevações daquilo que se chamam serra de Maracaju.

Geografia e História. A serra do Amolar apresenta uma característica geográfica única em todo Pantanal, pois não recebe influência do ciclo das águas pantaneiras, especialmente do rio Paraguai, quando na estiagem ou no período da vazante. Em seu entorno as águas ficam represadas o ano inteiro, razão pela qual serviu de refúgio para as tribos indígenas locais, sobretudo os guatós. O local já foi denominado de Paraíso terrenal. Sobre isso, Ruy Diáz de Gusmán (1560-1629) publicava em 1612 que

(...) hay algunos pueblos y naciones que navegan el río [Paraguai], hasta unos pueblos de índios llamados Orejones, los cuales viven dentro de una isla [Ínsua] que hace este río, de más de diez leguas de largo, y dos y tres de ancho, que es una floresta amenísima, abundante de mil géneros de frutas silvestres, y entre ellas, uvas, peras, almendras y aceitunas; tiénen la los indios toda ocupada de sementeras y chácaras, y todo el año siembran y cogen sin haber diferencia de invierno ni verano, si en doun perpetuo temple y calidad. Son los indios de aquella isla de buena voluntad y amigos de españoles: lláman les Orejones, por tener las orejas oradadas, en donde tienen metidas ciertas ruedecillas de madera, o puntas de mates que ocupan todo el agujero: viven en galpones redondos, no en forma de pueblo, sino cada parcialidad por sí: consérvanse unos con otros en mucha paz y amistad; llamaron los antiguos a esta isla el Paraíso terrenal, por la abundancia y maravillosa calidad que tiene.

Sabe-se que Gusmán não esteve na serra do Amolar, mas obteve informações orais do local, por isso, quando da afirmação da existência de peras e aceitunas podem ser frutas semelhantes a essas de clima subtropical. História. Ricardo Franco, em exploração para reconhecimento da região do Amolar, chegou à referida serra, que ele chamou de Pedra de Amolar, a 15 de junho de 1782, chegando até a lagoa Mandioré, conforme citação de Raul Silveira de Mello (2014, p. 33). Joaquim Francisco Lopes em Derrotas (2010, p. 50) registra que esteve na serra do Amolar, em 04 de março de 1837, na ponta de um morro que ele chamou de Pedra Branca de Amolar. Posteriormente, o tratado jurídico de limites entre Brasil e Bolívia, de 1867, consignou que a linha de fronteira passaria pelo meio da lagoa Gaíba, de tal forma que as partes altas da serra do Amolar e a ilha Ínsua ficariam em território brasileiro.

Fontes:

GUSMÁN, Ruy Diáz de. Historia argentina del descubrimiento, población y conquista de las províncias del Río de la Plata. [1612]. Disponível em: <www.cervantesvirtual.com>. Acesso em: 02 abr. 2018.

LOPES, Joaquim Francisco. Derrotas. Campo Grande, MS: IHGMS, 2010. Série Memória Sul-Mato-Grossense, Volume I.

MELLO, Raul Silveira de. Coronel Ricardo Franco (descobrimento de seus restos mortais). Campo Grande, MS: IHGMS, 2014. Obras Completas de Raul Silveira de Mello, Volume VI.

MENECOZI, Arnaldo Rodrigues. Repensando o conceito de serra. Campo Grande, MS: O Estado 22 e 23 de julho de 2018, p. 4.



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