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O que é uma sanga?

O que é uma sanga? Na região próxima à fronteira entre Brasil e Paraguai, na bacia do rio Apa, aparecem vários cursos d’água denominados de sanga e que o IHGMS os classificou como córregos. Sanga é a escavação profunda resultante de erosão das águas das chuvas ou das águas subterrâneas, podendo formar pequenos cursos de água. O termo sanga origina-se do quimbundo, língua da família banta, falada em Angola pelo povo ambundo. Cultura regional. Conforme Hélio Serejo (Obras Completas de Hélio Serejoélio srejoH, IHGMS, Volume XX, 2008, p. 105-6) esta é a lenda de como surgiu a sanga:

Sanga, na linguagem fronteiriça, quer dizer vala profunda e desbeiçada, aberta pelas enxurradas. Sanga tem sua história. Lenda bonita que os de dantes contavam, na hora do mate de coco, pormenorizando tudo, na vivência do passado, para reavivar a memória, que nunca deve embotar-se, porque quem recorda o que passou – vive; e é no viver do passado remoto, que a alma da gente se alvoroça, e o pensamento fica ligeiro como corrida de gringo contrabandista. Por isso, os antigos gostavam de desfilar lendas e contar histórias. A da sanga era assim. A moça, flor do sertão, delicada e bela, enamorou-se de um jovem; de um rapagão, forte e musculoso, que ali aparecera. O mancebo chegou, e logo mostrou quem era: um corre-mundo, um safardana, um gaiteiro, um prófugo. De coisa de suar, de avermelhar o rosto, de vergar a espinha, nada queria. Só de festa, de bochinchada, gostava. E também adorava o baralho. Num truco refestelava-se todo. Gritava, fazia o sapateio, dizia versos picantes e soltava para o ar, num grito de guerreiro vitorioso, churriada de frases e ditos. Os pais da donzela o odiaram. Quem vivia a deambular, se metendo em desaguisado, provocando e ofendendo, trilhando todos os caminhos sem pouso certo, nada tendo de seu, a não ser o cavalo mal aperado, não podia merecer o amor de quem havia sido criado com mimo, na santa e augusta paz do Senhor; de uma criatura sensível e pura, meiga e terna, que sabia orar, de mãos postas, contrita, pelo desapoderado, pelo perjuro e mau, e pelos que sofriam, pelo faminto, roto e pelo desajustado. Quem era bondade e pureza, humildade e amor, jamais unir-se ao cardo: entregar-se a um cristão que representava a lama, o estrume, o repelente e a podridão. E a vizinhança inteira detestou o errante, dando-lhe o desprezo. Mas a virgem enamorada não cedeu. Ofendeu o pai, desrespeitou a mãe, injuriou o irmão e praguejou, má e impiedosamente, os íntimos, os que a queriam, os justos, os conselheiros.

Desgraça que tem de acontecer, acontece mesmo. A moça desvairada fugiu com o trota-mundo. A mãe desvairada caiu doente. E chorou quarenta dias e quarenta noites. Perdeu as forças e veio-lhe a cegueira. Dos olhos, profundos e negros, o pranto jorrava em borbotões. Não mais se alimentou. A boca se lhe transformou num rasgo de meter medo e impressionar.

Uma tarde, um vulto, surgido das sombras, falou-lhe: – Seu corpo desaparecerá, mas os seus olhos ficarão pregados a terra, em forma de uma vala ou estrada funda, que o povo fronteiriço chamará de sanga. Dentro dela correrão as águas das enxurradas, que representarão as lágrimas que os seus olhos choraram, quarenta dias e quarenta noites. Quem passar e vir a sanga, profunda e desbeiçada, lembrará a sua história e amaldiçoará a filha ingrata que fugiu com o moço andejo.

Eis por que as sangas existem. A sanga fronteiriça será sempre a lembrança daquela mãe aflita e daqueles olhos de amor e ternura, que secaram pelo desgosto e pelo sofrimento.

Vale a pena conferir. Essas obras estão à disposição na sede do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul. Fonte: CAMPESTRINI, Hildebrando et al. Enciclopédia das Águas de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, MS: IHGMS, 2014.



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