Personalidades

16/09/1926

Plínio Barbosa Martins

 

Plínio Barbosa Martins

Thaís Martins

 

 

Plínio Barbosa Martins

 

Plínio Barbosa Martins nasceu em 16 de setembro de 1926 na região da Vacaria, em Entre Rios – atual Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul, na casa de seu avô Domingos Barbosa Martins, o “Gato Preto”. Era filho de Adelaide e Henrique Barbosa Martins. Desde menino foi carinhosamente chamado de Tucho pelos familiares.

“Era um homem charmoso, elegante, simpático, bon vivant, e, ao mesmo tempo, discreto e rigoroso em seus princípios” (MARTINS, 2003). 

Estudou Direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atuou como advogado, vereador, prefeito de Campo Grande e deputado federal.

Ainda estudante namorou Ruth Baís Martins, filha de seu tio, Vespasiano Barbosa Martins, líder político do Estado, senador e governador revolucionário de Mato Grosso em 1932. Plínio e Ruth casaram-se em 1950 e tiveram quatro filhos: Marcelo, Adelaide, Ruth e Yeda. Marcelo e Adelaide, respectivamente advogado e artista plástica, residem em Campo Grande. Ruth é jornalista da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e Yeda faleceu ainda na adolescência.

Plínio trabalhou 26 anos no escritório de Wilson Barbosa Martins, seu irmão, e tornou-se criminalista de renome. “Orador eloquente e carismático atraía e fascinava o povo que ia aos comícios para ouvi-lo. Nos tribunais, conquistava jurados e plateias com suas defesas brilhantes e apaixonadas.” (MARTINS, 2003).

Foi o candidato mais votado nas eleições para a Câmara Municipal de Campo Grande, em 1962. Como presidente da Câmara Municipal, entre 1963 e 1964, combateu a ditadura militar e lutou contra a cassação do mandato de seus companheiros Abel Aragão, Roger Buainain e Willian Maksoud (MARTINS, 2007).

Em 1966, candidatou-se a prefeito de Campo Grande pelo partido do Movimento Democrático Brasileiro – MDB, tendo sido eleito por maioria absoluta. Deu ênfase aos programas sociais, adotou uma política de valorização dos servidores, priorizou as áreas de saúde e educação (MARTINS, 2007). Em sua gestão os professores municipais recebiam salários altos e foram construídos os primeiros ginásios nas regiões periféricas da cidade. Elaborou, através da empresa de Engenharia Hidroservice Ltda., um Plano Diretor para Campo Grande, estabelecendo novas diretrizes de estrutura urbana, de uso do solo e do sistema viário. O plano, que orientou o desenvolvimento da cidade até os anos 1980, previa a criação do núcleo industrial, a expansão urbana e a construção dos anéis rodoviários em torno da cidade.

Em 1972, foi nomeado juiz auditor militar substituto. Nessa condição dirigiu processo em que a Procuradoria Militar da Nona Região condenou a 10 anos de prisão, por subversão, o Padre François Jaques Jentel, acusado de incitar colonos da Prelazia de São Félix do Araguaia a ocupar terras da empresa multinacional Companhia do Desenvolvimento do Alto Araguaia, Codeara.

Padre Jentel era um missionário francês que atuava como pároco no município de Luciara, na Prelazia de São Félix do Araguaia e que, no início dos anos 1970, coordenava os serviços de construção de ambulatório destinado a atender a população. O padre defendeu essa área como propriedade da comunidade contra os interesses da empresa, em litígio jurídico. O evento resultou numa troca de tiros em consequência da invasão do ambulatório pela polícia e por jagunços arrebanhados pela Codeara (PEREIRA, 2007).

Plínio resistiu às pressões da ditadura que governava o país – defendeu e votou pela absolvição do réu, num “ato de bravura”, no dizer de Fragoso (1984). Também sustentou sua posição, conforme consta do seu voto, por escrito, no caso do Padre Jentel:

(...) Estou em desacordo com a decisão do Conselho Permanente de Justiça do Exército, porque não identifico na conduta do Padre Francisco Jentel o comportamento de um criminoso. Ao contrário, nele identifico a coragem de haver abandonado a super desenvolvida França, e ter trabalhado na Amazônia Mato-grossense por quase vinte anos para dar um pouco de civilidade e bondade cristã aos índios e aos brasileiros que vivem naquelas plagas inóspitas. Jentel merece um prêmio, não a prisão... No julgamento, toda sorte de pressão. Emissários do regime militar deslocavam-se para Campo Grande a fim de pressionar o juiz auditor, Dr. Plínio Barbosa Martins. (CNBB, 1997; PEREIRA, 2007).

Sua sentença teve repercussão internacional, conforme evidenciam citações de Lenoux (1968), Brandford; Gork (1985), Riesch (1974); Fragoso (1984), Lima (1977); Damon; Dutertre (1984); CNBB (1977). Depois de um ano preso, Padre Jentel foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal e retornou ao seu país.          

Na eminência de ser cassado pelo AI-5, Plínio renunciou ao cargo de auditor militar substituto, deixou a magistratura, e foi dar aulas na Faculdade de Direito de Campo Grande (PEREIRA, 2007). Como professor de Direito Civil era querido e admirado por seus alunos (MARTINS, 1998).

Vereador eleito em 1976, destacou-se na defesa das liberdades democráticas; seus discursos irradiados pela Câmara Municipal tornaram-no mais conhecido e admirado a cada dia pela população do Sul do estado.

Em 1978, candidatou-se ao Senado pelo MDB. Seus concorrentes eram Pedro Pedrossian e José Fragelli, da ARENA. Essa campanha foi importante para a estruturação e consolidação do partido em Mato Grosso do Sul e para transformá-lo em uma das principais lideranças políticas do estado (MARTINS, 2007).     

Em 1982, seu nome surgiu como o indicado do PMDB para as eleições ao governo do estado. Então, Plínio, “(...) abriu mão da candidatura a governador em favor do irmão Wilson, que voltava de longo afastamento da política, por força da cassação de seus direitos políticos, ocorrida em 1969. E a doença grave da filha caçula também o impediu de assumir esta luta.” (MARTINS, 2007).

Wilson foi eleito governador e Plínio elegeu-se deputado federal. Nessa legislatura (1983-1987) integrou a Executiva Nacional do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, foi membro da Comissão de Justiça e da Comissão do Interior. Em 1986, Wilson Martins elegeu-se para o Senado Federal e Plínio reelegeu-se, com dificuldade, para a Câmara Federal, instituições que naquele momento exerciam a função de Assembléia Nacional Constituinte.

Na Constituinte (1987-1989), Plínio ajudou a elaborar a Carta Constitucional do País. Destacou-se pela oratória eloquente e pela defesa das reformas sociais, com ênfase na reforma agrária, o que despertou a reação de grupos conservadores de seu estado e de seu partido. Foi considerado um dos deputados mais atuantes na visão da classe trabalhadora.

Tentou, sem sucesso, nova eleição para a prefeitura de Campo Grande, tendo sido derrotado por Lúdio Coelho. Em 1990 mudou de legenda filiando-se ao Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB. Na convenção do partido “colocou-se contra a aliança do PSDB com o Partido Democrático Trabalhista, o PDT (...), que lançou a chapa Gandi Jamil – Celina Martins Jallad para o governo e vice, respectivamente. Nesta oportunidade afastou-se de Wilson, então senador e abandonou a vida pública.” (MARTINS, 2007). E passou a dedicar-se às atividades da pecuária na Fazenda Bethânia, de sua propriedade. A filha Ruth fala-nos sobre esse tempo:

Distante da política e da advocacia, com entusiasmo igual àquele com que atuou profissionalmente, seus últimos anos foram dedicados à Fazenda Bethânia, refúgio e menina-dos-olhos (...). Em nosso percurso pelo campo, ele demonstrava um misto de orgulho e satisfação ao me mostrar as frutas, flores e troncos retorcidos das árvores típicas do cerrado, e identificar um e outro canto de pássaros. À noite, na varanda da fazenda, admirávamos as estrelas e ouvíamos histórias que ele adorava contar sobre os nossos antepassados, as origens de Mato Grosso e sua evolução política, os tempos de estudante em São Paulo, a sua e a nossa infância (...). Por isso tudo, cativava. (MARTINS, 2003, p. 77).

 

Bibliografia citada e consultada

BRANDFORD, Sue; GORK, Oriel. The last frontier: fighting over land in the Amazon. USA. 1985.

CNBB. Conferenza Nazionale dei Vescovi del Brasile. In favore dell’uomo: parole e fatti della chiesa brasiliana raccolta da “Extra, Realidade Brasileira”. Milão, Jaca Book, 1977.

CONGRESSO NACIONAL. Câmara dos Deputados. Brasil, 1956. Vol. 3.

DAMON, Welty; DUTERTRE, Alain. Soleil de Justice: Passions en Amérique Latine. Editions Ouvriéres. Paris. 1984. Volume 47 de La Pleine vie. Collection A Pleine Vie.

FRAGOSO, Cláudio Heleno. Advocacia da liberdade: a defesa nos processos políticos. São Paulo: Forense, 1984.

MARTINS, Ruth Barbosa. Plínio Barbosa Martins. In: FUNCESP. ARQUIVO HISTÓRICO DE CAMPO GRANDE. Personalidade. Coletânea de textos. Campo Grande, MS: A Fundação, 2003. Série Campo Grande, Ano V.

LIMA, Alceu Amoroso. Revolução suicida: Testemunho do tempo presente. Rio de Janeiro: Brasília/Rio, 1977.

MARTINS, Marcelo Barbosa. Plínio, Meu Pai. O Gigante que adormeceu. Campo Grande, MS. Datilografado. 1998.MARTINS, Marcelo Barbosa. Vida Pública de Plínio Barbosa Martins. Campo Grande, MS. Datilografado. 2007.

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