Personalidades

10/10/1861

PADRE JOÃO CRIPPA

PADRE JOÃO CRIPPA: PATRONO DA CADEIRA N.º 30 DO IHGMS

Arnaldo Rodrigues Menecozi

Nota: na inserção da biografia de Padre João Crippa, não há como indicar onde ele nasceu (Itália), por isso, foi colocada a cidade de Três Lagoas, onde veio a falecer em 1941.

João Crippa nasceu aos 10 de outubro de 1861, sendo filho de Pietro Crippa e de Fiorina Bucconi; sua cidade natal é Asso, situada ao norte da Itália, na região da Lombardia.

Em 25 de outubro de 1885 ingressou como aspirante na vida sale­siana, no Colégio Salesiano São João Evangelista, em Turim. Nesse aspirantado, manteve frequentes encontros com São João Bosco, amadurecendo sua vocação e preparando-se para os sacrifícios e os heroísmos da vida missioná­ria.

Não se sabe ao certo quando ocorreu sua chegada na América, sendo que os registros apontam em 1888 ou 1889, mas em agosto de 1889 já estava no Uruguai como Noviço, onde recebeu a veste talar das mãos do bispo salesiano Dom Luigi Lasagna, dia 3 de fevereiro de 1890, professando seus votos perpétuos.

Foi ordenado Sacerdote a 17 de fevereiro de 1894. Aos 18 de junho desse mesmo ano, Padre João Crippa inicia sua caminhada na Missão Salesiana de Mato Grosso, quando toma posse da paróquia de São Gonçalo do Porto, em Cuiabá e, já no ano seguinte, dá início à evangelização dos índios Bororo, da Colônia Teresa Cristina.

A ideia de catequisar e civilizar os índios Bororo vem desde 1887, quando o presidente da província Joaquim Galdino Pimentel, sabedor que esses índios já estavam pacificados em expedições militares durante seu governo, além de utilizar a referida colônia como fronteira entre a província mato-grossense e o Paraguai.

A localização da Colônia era estratégica para essa finalidade, pois se situava às margens do rio São Lourenço, quando este ainda recebia o afluente Itiquira. Em 1909, o São Lourenço abriu, definitivamente, o furo do Taigara e passou a correr por ele. Com isso, o rio Itiquira, seguindo o antigo leito do São Lourenço, passou a ser afluente do rio Cuiabá, passando a ser afluente deste. O rio São Lourenço era conhecido, no século 18, como rio dos Porrudos.

O local descrito por Rondon fazia parte do primitivo território Bororo.

Sob o impulso dinâmico do Pe. Malan, substituto de Dom Lasagna, a Missão expande suas tendas, abrindo a Escola Agrícola de Santo Antônio, no vizinho Coxipó da Ponte e em 1899 o noviciado. Com o abandono da Colônia Teresa Cristina, é aberto o Colégio Santa Teresa em Corumbá e o Oratório São Miguel na vizinha Ladário.

Em 1902, é retomada a evangelização dos Bororo com a abertura da Colônia Sagrado Coração nos Tachos, seguida, em 1905, da Imaculada no Rio das Garças, abandonada em 1922, de São José no Sangradouro em 1906 e de Gratidão Nacional, em Palmeiras, abandonada em 1920, após a morte do diretor, Pe. José Thannhuber.

Padre João Crippa foi transferido do Uruguai para o Brasil, ficando até 1912 na Província de São Paulo, trabalhando entre os fi­lhos do povo em Araras e Lorena, onde foi o primeiro diretor espiritual, que fazia ardentes votos ao Sagrado Coração de Jesus e à Nossa Senhora Auxiliadora para proteger essas boas obras, em cujo apostolado despertava vocações. Suas palavras comoviam, não só o povo, mas também convertia doutos e ignorantes. Por isso, Padre João Crippa foi muito admirado como pregador.

De 1912 em diante trabalhou na Inspetoria de Mato Grosso, marcando presença em muitos lugares. Foi nas Colônias e aldeias dos índios Bororos que acompanhou o Presidente do Estado, Dom Francisco de Aquino Correa, Arcebispo salesiano, na visita em que percorreu o imenso território, no tempo em que Mato Grosso tinha muitos recantos a serem conhecidos.

Com a criação da Prelazia de Registro do Araguaia, em 1914, os salesianos assumem a paróquia da sede, atual Araguaiana e a escola, fechada em 1975. Em fins de 1918, há uma primeira tentativa de aproximação dos Xavante sem resultados, nas proximidades do Rio das Mortes, abandonada três meses depois.

Em 1919, no sul do Estado de Mato Grosso, os salesianos assumem a paróquia de Aquidauana, entregue, em 1930 aos padres redentoristas, juntamente com a de Miranda, atendida por dois anos por Padre João Crippa, constituindo-se no primeiro pároco dessa cidade, além de Aquidauana e de Campo Grande.

Mesmo antes da regularidade da Estrada de Ferro Noroeste, cujas imensas distâncias Padre João Crippa percorria somente a cavalo, pregando a palavra de Deus de povoado em povoado, de lugar a lugar, visitando todas as fa­mílias, mesmo que fosse debaixo de uma temperatura de 35/40 graus. Era admirando pelos caboclos do sertão, sempre registrando que Padre João Crippa ia so­zinho; mas, afinal o que é que não pode um padre sozinho, se ele está vendo so­mente Deus e as almas?

A glória de Deus e a salvação das almas somente viam no Padre João Crippa o fogo sagrado que ardia nele; fogo que manifestava com a doçura dos modos e gentileza, que eram características pessoais que conquistavam e animavam as almas. Era “convidado especial” para visitar doentes e moribundos!

Em Campo Grande, convocou um grupo de senhoras, constituindo uma comissão e, em menos de três meses, obteve e preparou o local de fundação do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora. Com a ajuda da Providência Divina, conse­guiu construir o mais amplo e moderno Colégio do Estado.

A Inspetoria volta suas atenções ao sul do Estado, assumindo as paróquias de Campo Grande e Três Lagoas, em 1924 e, no ano seguinte, a de Ponta Porã, entregue em 1943 com escola anexa, aos padres redentoristas.

Em 1925, Padre João Crippa compra os dois primeiros lotes para iniciar as obras do Oratório São José, mais conhecido como “Capelinha”.

Não sendo mais suficiente a Capela, por ele construída, arregaçou as mangas a fim de construir uma bela igreja, dedicada a São José que, em 2019, comemorou seus 70 anos de existência.

Padre João Crippa, quanto a igrejas, tinha ideias grandiosas. Costumava dizer:

“PARA NÓS É SUFICIENTE QUALQUER BARRACO, MAS PARA DEUS NÃO DEVE SER ASSIM!”

Em Campo Grande, Pa­dre João Crippa ficou vinte anos, sempre morando na humilde e primeira sede do Oratório São José.

Em 1937, Dom Riccardo Pittini, arcebispo salesiano de São Domingos, chegou de surpresa, numa rápida parada do voo, a Campo Grande. Foi logo pedindo onde podia encontrar o Padre João Crippa, “AQUELE, disse, QUE NO URUGUAI FOI MEU SUPERIOR E FEZ-ME COMPREENDER E AMAR OS ORATÓRIOS FESTIVOS!”

Dom Riccardo Pittini pôde verificar uma das grandes obras do Padre João Crippa: na humilde casa acolhia cada dia, em duas turmas, grupos de meninos de rua aos quais dava de manhã e à tarde os primeiros ensinamentos de educação e catequese. À noitinha acolhia os adultos analfabetos. Aos domingos chegava toda a juventude pobre do bairro para a santa Missa, confessar e comungar, para o lazer e receber instrução catequética.

Mais tarde, as fadigas e os anos limitaram seu apostolado, restringindo-o essencialmente a Campo Grande.

Um de seus sonhos era construir uma grande Igreja dedicada a São José, mas não viu com seus olhos essa bela e grande igreja que temos hoje, pois serenamente encerrou sua vida, aos 80 anos, em 1.º de agosto de 1941, na cidade de Três Lagoas.

Sua bondade sacerdotal o faz sempre lembrado pelo povo, que visita seus restos mortais e reza por eles na capela no interior da Igreja São José, em Campo Grande.

Na Carta Mortuária do Padre João Crippa encontram-se palavras que traduzem sua fé inabalável: Morreu, após ter-se oferecido até o fim no tra­balho, desapegou-se de tudo para favorecer o povo e o Oratório Festivo para os filhos do povo.

Nos instantes finais de sua vida, Padre João Crippa deixou para o Padre Inspetor, ausente porque estava em visita às Missões, suas últimas palavras que ecoaram como profecia:

“INSISTA, INSISTA A FIM DE MANTER O ESPÍRITO DE DOM BOSCO!

Padre João Crippa teve uma atenção especial à Associação dos Ex-Alunos. Prova disso aconteceu no dia anterior à sua morte, quando escreveu um bilhete ao Diretor de um nosso Colégio: “Caríssimo, estou de partida para a Eternidade. Recomendo-te o filho do nosso ex-aluno N.N. de Cuiabá. É um nosso ex-aluno, precisa ajudá-lo...”

Padre João Crippa manifestou até o fim uma fé ardente e uma piedade cheia de amor e abandono em Deus. Quem se aproximasse de sua cama é como se fosse um altar.

Nesta sumária biografia de Padre João Crippa ainda registro a rua em sua homenagem, em Campo Grande, substituindo o antigo nome de Rua da Constituição, por meio do Decreto N.º 234, de 25/10/1951, assinado pelo então prefeito Ari Coelho.

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